O que você precisa saber sobre redes | Módulo 17

Módulo 17

Atenção: você vai ler abaixo um texto provocativo, elaborado para estimular a conversação. Você não precisa concordar necessariamente com o conteúdo do texto provocativo e sim ficar atento às suas indagações. Todas as referências bibliográficas serão fornecidas oportunamente.

Monitorar faz parte de administrar. Mas redes (mais distribuídas do que centralizadas) se autorregulam. E autorregulação significa sem-administração.

A ideia de que qualquer organização exige diferenciação de papéis pré-definíveis foi aceita como um axioma universal na administração. Em alguns casos citavam-se exemplos retirados da biosfera para mostrar que se trata de uma verdade evidente por si mesma (por exemplo, frequentemente ainda se dá o exemplo das formigas, que já nasceriam com funções especializadas: forrageiras, operárias, soldados – conquanto essa crença já tenha sido desmascarada pela ciência).

Não é por acaso que as teorias da administração sejam teorias de comando-e-controle. A administração, qualquer administração, é sempre uma administração da escassez. É uma espécie de economia política aplicada. Só há necessidade de administrar um sistema se esse sistema foi construído a partir da seleção de caminhos para normatizar o fluxo: por aqui pode passar, por ali não pode; para chegar aqui tem que vir por ali, para sair lá tem que passar por aqui. Ora, é mesmo impossível fazer isso sem comando e controle.

O fluxo quer fluir. Fluirá por onde houver caminho. Para proibir a livre fluição é preciso obstruir caminhos, derrubar pontes, fechar atalhos entre clusters (nas organizações hierárquicas isso acontece inclusive pela segregação espacial dos seus membros, alocados em andares diferentes de um prédio fechado pela introdução de muros, cercas, cancelas, roletas, elevadores programados, cartões magnéticos com permissões exclusivas, que abrem algumas portas e outras não, ou pelas permissões diferenciadas conferidas aos usuários para acessar sites, baixar programas, enviar ou receber mensagens, interagir em plataformas etc.). Tudo comando-e-controle.

Redes distribuídas são estruturas sem-administração, que se regulam por emergência (quanto mais distribuídas o forem). Nas novas organizações mais distribuídas do que centralizadas, os papéis ou funções se definem e redefinem continuamente a partir da interação. Uma pessoa que se dedicava às relações institucionais de uma empresa passará a fazer parte da concepção de seus produtos; outra, encarregada do relacionamento com os clientes, será chamada a compor um think tank de inovação. Mais do que isso, com a perfuração dos muros que separavam a organização de grande parte dos seus stakeholders, consumidores também contribuirão para o processo produtivo, acionistas se oferecerão para compartilhar a gestão e as comunidades afetadas de alguma forma pela atuação de uma empresa assumirão solidariamente riscos e oportunidades associados ao empreendimento. E isso é apenas o começo.

Nessas circunstâncias não pode haver um departamento capaz de impor, de antemão e de cima para baixo, os caminhos que devem ser seguidos pelos fluxos que atravessam todos os demais departamentos de uma organização. Aliás, antigos departamentos serão substituídos, crescentemente, por instâncias surgidas da clusterização. Múltiplas lideranças se revezarão no netweaving de todos os processos. O velho indivíduo, substituível peça da máquina (por outro indivíduo substituível), vai sendo substituído pela pessoa, insubstituível porquanto única naquilo que faz, do jeito que faz, enquanto nodo da rede em que interage.

Não é curioso que a primeira preocupação de qualquer organização (como uma empresa, por exemplo) seja a de monitorar as redes em vez de aproveitar as múltiplas possibilidades de um padrão de organização em rede? Por que as pessoas das organizações hierárquicas se preocupam mais em medir o que não têm do que fazer o que pode ser feito?

  • augustodefranco

    E agora? Continuamos, pois. O programa não acabou. Ainda estamos recolhendo material para elaborar o book, levando em conta as interações de todos. Teremos, além disso, as referências bibliográficas. E o hangout amanhã às 19h. Vai ser na página: http://redes.org.br/25mitos-01-hangout/

  • augustodefranco

    INFORMAÇÃO IMPORTANTE! O hangout previsto para hoje foi adiado para 11/11/2015. Veja mais informações na página http://redes.org.br/25mitos-0

  • Marcia Borges

    A frase que se tornou praticamente bíblica entre as organizações hierárquicas é do Peter Drucker “Aquilo que não é medido não é gerenciado”. Logo, a hierarquia pressupõe o gerente/gestor para gerenciar, ele para fazer isso de forma impessoal e isenta de responsabilidades e de questões “que demonstrem a necessidade de mudanças profundas” , ele utiliza do monitoramento e administração dos fluxos e portanto dos números. Até porque é frase corrente entre os administradores “A estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem. E eles sempre confessam”. A Estatística é uma das ferramentas mais incríveis para nos ajudar em muitas questões e principalmente dar indicações preciosas sobre o que pode ser feito. Mas onde há burocracia e produtivismo, ela tem a função de demarcar territórios e expiar culpas e manter o status quo. Até porque, venhamos e convenhamos, para o que é essencial e precisa ser feito não é necessário gerentes e administradores e sim seres pensantes e que tenham percepção de quais estratégias precisam ser tomadas em dado momento, de acordo com a configuração das coisas

  • Marcia

    A frase que se tornou praticamente bíblica entre as organizações hierárquicas é do Peter Drucker “Aquilo que não é medido não é gerenciado”. Logo, a hierarquia pressupõe o gerente/gestor para gerenciar, ele para fazer isso de forma impessoal e isenta de responsabilidades e de questões “que demonstrem a necessidade de mudanças profundas” , ele utiliza do monitoramento e administração dos fluxos e portanto dos números. Até porque é frase corrente entre os administradores “A estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem. E eles sempre confessam”. A Estatística é uma das ferramentas mais incríveis para nos ajudar em muitas questões e principalmente dar indicações preciosas sobre o que pode ser feito. Mas onde há burocracia e produtivismo, ela tem a função de demarcar territórios e expiar culpas e manter o status quo. Até porque, venhamos e convenhamos, para o que é essencial e precisa ser feito não é necessário gerentes e administradores e sim seres pensantes e que tenham percepção de quais estratégias precisam ser tomadas em dado momento, de acordo com a configuração das coisas

  • Fatima Melca

    Acabei de me lembrar da escola. Não é que elas são um bom exemplo de controle? Medir, como se os números nos representassem. Somos feitos de interações. Somos livres para fazermos nossas escolhas.

    • Marcia Borges

      Isso me lembra uma conversa que tive com um amigo , professor de uma Escola particular referência no mercado e que pretende deixar de lecionar lá em função de não conseguir fazer o que mais gosta: lecionar. Se o controle com as crianças é grande, com os professores fiquei “petrificada” com o exemplo que ele me deu. A ponto dele preferir tirar o filho de lá e por numa escola pública e também ficar lecionando somente na escola da prefeitura onde também dá aula.

    • Pois é, Fatima. Como bom exemplo de instituição hierárquica (e que incute hierarquia nas pessoas desde a infância), a escola está mais preocupada em monitorar indivíduos do que promover relações. Ela está estruturada para medir o quanto você consegue memorizar e reproduzir de um conjunto de conteúdos pré-estabelecido, e não para promover as interações entre as pessoas que produzam mais experiências de descoberta, aprendizagem e investigação.

    • Ana Lucia Procopiak

      Certamente Fátima, também lembrei da escola, instituição das ‘instituições’ hierárquicas dos caminhos normatizados e normatizantes! Dia destes conversei com um amigo professor de escola pública, que dizia estar preocupado com a passividade das crianças… quando perguntou porque elas estavam na escola, recebeu como resposta: Para tirar nota e passar de ano! Precisa dizer mais…?

  • Fatima Melca

    Acabei de me lembrar da escola. Não é que elas são um bom exemplo de controle? Medir, como se os números nos representassem. Somos feitos de interações. Somos livres para fazermos nossas escolhas.

    • Marcia

      Isso me lembra uma conversa que tive com um amigo , professor de uma Escola particular referência no mercado e que pretende deixar de lecionar lá em função de não conseguir fazer o que mais gosta: lecionar. Se o controle com as crianças é grande, com os professores fiquei “petrificada” com o exemplo que ele me deu. A ponto dele preferir tirar o filho de lá e por numa escola pública e também ficar lecionando somente na escola da prefeitura onde também dá aula.

  • Cris Kruel

    Existe algum teorema, método, algoritmo ou ferramenta para medir/monitorar o quanto um rede é “controlada”?

    • augustodefranco

      Sim, existem várias ferramentas para medir bloqueio de fluxos: no ambiente virtual, no ambiente físico e no ambiente de desenvolvimento/inovação.

      • Cris Kruel

        Legal, estou curioso para conhece-las.

        • augustodefranco

          No próximo programa REDES #COMOFAZ algumas delas serão compartilhadas. Mas só serão realmente investigadas em Processos de Rede em Empresas.

          • Catia Urbanetz

            legal, também quero aprender

  • Cris Kruel

    Existe algum teorema, método, algoritmo ou ferramenta para medir/monitorar o quanto um rede é “controlada”?

    • augustodefranco

      Sim, existem várias ferramentas para medir bloqueio de fluxos: no ambiente virtual, no ambiente físico e no ambiente de desenvolvimento/inovação.

      • Cris Kruel

        Legal, estou curioso para conhece-las.

        • augustodefranco

          No próximo programa REDES #COMOFAZ elas serão compartilhadas.