O que você precisa saber sobre redes | Módulo 20

Módulo 20

Atenção: você vai ler abaixo um texto provocativo, elaborado para estimular a conversação. Você não precisa concordar necessariamente com o conteúdo do texto provocativo e sim ficar atento às suas indagações. Todas as referências bibliográficas serão fornecidas oportunamente.

Redes sociais podem ser usadas como instrumentos, ferramentas, expedientes para atingir objetivos que não sejam emergentes da sua interação?

Ainda é muito comum a ideia de que as redes são uma espécie de instrumento para se fazer alguma coisa. Quando o assunto entrou na moda, as pessoas acharam que estavam diante de uma nova forma de organização recentemente descoberta e queriam logo usar as redes com algum objetivo instrumental, ainda quando desejassem colocá-las a serviço de uma causa que, a seu ver, não poderia ser mais nobre: a grande transformação social.

Mas a emergência da concepção de que, na sociedade, não há o que transformar, é realmente surpreendente. Trata-se, para cada sociedade, de ser o que é – ou seria, se não houvesse obstrução de fluxos, exclusão de nodos ou desatalhamento de clusters.

Dizendo de outro modo: trata-se, para as redes sociais, de serem o que podem ser. Uma rede social não pode ser nada mais do que uma rede distribuída. Os caminhos que seguirá dependerão da sua dinâmica, dos fenômenos particulares que nela ocorrerão a partir da livre interação. Toda tentativa de predeterminar esses caminhos é, na verdade, uma tentativa de impedir que a rede escolha seus caminhos. O que vai acontecer depois, vai acontecer depois e não pode ser determinado por quem está antes.

Por isso se diz que as redes sociais distribuídas não são instrumentos para realizar a mudança: porque elas já são a mudança.

Isso vai contra o modelo transformacional da mudança próprio das estruturas de comando-e-controle que queriam levar as sociedades humanas para algum futuro pré-concebido. Quando se pensava assim, tudo virava instrumento para pré-determinar caminhos e isso, por si só, já introduzia escassez de caminhos e centralização (hierarquia) bloqueando a única mudança que poderia fazer a diferença (ao instalar a dinâmica da inovação permanente): a mudança de hierarquia para rede.

Por que as redes sociais não podem ser usadas instrumentalmente para se alcançar objetivos estabelecidos antes da interação?

  • augustodefranco

    Atenção, galera! Este é um AVISO IMPORTANTE. O hangout previsto para hoje foi adiado para 11/11/2015. Veja mais informações na página http://redes.org.br/25mitos-0

  • Marcia Borges

    Esse processo não parece similar ao que lemos na filosofia Zen?

    • augustodefranco

      Parece. O zen é o tao. E o tao é o fluxo.

  • Fatima Melca

    Elas não podem alcançar os objetivos estabelecidos, porque eles não existem antes da interação. Porque elas não têm um proposito.. Elas são redes, que se constroem nas interações.Elas são o que são. É o que é, não o que querem que elas sejam. O que emerge é o resultado das interações, da auto-organização… não há como prever. Isto em redes mais distribuidas que centralizadas. São tantas as possibilidades, os caminhos, como prever, ou como estabelecer algo? Talvez por isso assustem tanto. É muita falta de controle, é muita desobediência. vai que dê certo? Como vai ficar a turma do poder, da centralização? Tudo é imprevisível nessa rede, não existem certezas. Só dá para pensar, que essa rede flui continuamente ao sabor da interação.Ela caminha por onde a interação a levar…É no acontecer que se faz o seu caminhar…

    • Cris Kruel

      Fatima, no seu entendimento quanto mais distribuída for uma rede menor será a capacidade de controlar esta rede? Se as redes são “soberanas” (o que emerge delas é impossível prever) não me parece possível utilizarmos as redes como um mecanismo de “mudança”, pois esta rede pode – soberanamente – não deixar mudar 🙂

  • Fatima Melca

    Porque elas não têm um proposito.Elas são redes, que se constroem nas interações.Elas são o que são. É o que é, não o que querem que elas sejam. O que emerge é o resultado das interações, da auto-organização… não há como prever. Isto em redes mais distribuidas que centralizadas. São tantas as possibilidades, os caminhos, como prever, ou como estabelecer algo? Talvez por isso assustem tanto. É muita falta de controle, é muita desobediência. vai que dê certo? Como vai ficar a turma do poder, da centralização? Tudo é imprevisível nessa rede, não existem certezas. Só dá para pensar, que essa rede flui continuamente ao sabor da interação.Ela caminha por onde a interação a levar…

  • Cris Kruel

    Se de fato é uma rede, quanto mais distribuída for mais imprevisível será prever o “resultado final”. Usar a rede para alcançar um objetivo desejado soa como tentar manipular a rede. Qualquer um – como nodo desta rede – tem o direito de interagir e influenciar seus pares, mas nenhum poderia criar restrições a outras interações.

    • Exatamente. Quando mais distribuída (e, portanto, livre) for uma rede social, menos será possível erigir uma utopia salvadora (o ovo primordial de todas as autocracias), menos tentaremos projetar uma sociedade ideal, e em vez disso abraçar nas contingência reais da convivência.

      Esse é um ponto mais importante do que parece. A maior parte das pessoas que falam sobre rede (no meu convívio, pelo menos), acreditam ter uma visão redentora sobre como a sociedade, a política ou a economia deveriam funcionar. Poucos percebem que esse é um típico comportamento autocrático.

  • Cris Kruel

    Se de fato é uma rede, quanto mais distribuída for mais imprevisível será prever o “resultado final”. Usar a rede para alcançar um objetivo desejado soa como tentar manipular a rede. Qualquer um – como nodo desta rede – tem o direito de interagir e influenciar seus pares, mas nenhum poderia criar restrições a outras interações.

    • Exatamente. Quando mais distribuída (e, portanto, livre) for uma rede social, menos será possível erigir uma utopia salvadora (o ovo primordial de todas as autocracias), menos tentaremos projetar uma sociedade ideal, e em vez disso abraçar nas contingência reais da convivência.

      Esse é um ponto mais importante do que parece. A maior parte das pessoas que falam sobre rede (no meu convívio, pelo menos), acreditam ter uma visão redentora sobre como a sociedade, a política ou a economia deveriam funcionar. Poucos percebem que esse é um típico comportamento autocrático.