Módulo 22

A questão é: podem existir pessoas (seres humanos) sem redes sociais?
Foi (e ainda está) muito difundida a ideia de que redes sociais são formadas a partir de escolhas racionais feitas pelos indivíduos. Segundo essa ideia as redes seriam voluntariamente construídas com propósitos definidos e baseados nos interesses dos indivíduos. Quem pensava assim, evidentemente, avaliava que podem existir seres humanos sem redes, quer dizer, que primeiro existem os indivíduos (já plenamente humanos) para, depois, se esses indivíduos resolverem se conectar, só então surgirem as redes sociais.
Nos novos mundos interativos, entretanto, o conceito de indivíduo – uma caracterização biológica ou uma abstração econômica e estatística – tende a perder sentido para dar lugar à pessoa, que é, afinal, quem existe de fato como ser humano concreto.
Mas pessoa já é rede. Ninguém nasce com tal condição, não basta ser um indivíduo da espécie, em termos biológicos, para ser humano. Dizer que, para os seres humanos, no princípio era a rede, significa dizer que é necessário “nascer” (com-viver) em uma rede (social) para se tornar humano. Aquele que é geneticamente humanizável só consuma tal condição a partir do relacionamento com seres (que já foram) humanizados.
Redes sociais não são redes de indivíduos de uma espécie biológica (no caso, a espécie Homo Sapiens), nem redes de outras entidades abstratas que possam ser identificadas indistintamente, numeradas e somadas para qualquer efeito (como, por exemplo, os habitantes de uma nação, os consumidores de um produto, os contribuintes de um país, os eleitores de um candidato), mas redes de pessoas. Não existem as redes dos pensionistas do sistema previdenciário, dos mutuários do sistema habitacional ou dos torcedores de determinado clube esportivo (a não ser quando interagem em torcidas organizadas), assim como não existe a sociedade composta pelos que estão na fila para comprar ingressos para um torneio. As redes (sociais) não somam suas partes (individuais) porque elas não são propriamente constituídas por essas partes, mas pelas relações que se efetivam entre elas, pela configuração móvel das interações que se processam ou pelo emaranhado que se trama a cada instante.
Redes sociais são redes de pessoas, quer dizer, de humanos. São redes humanas, quer dizer, sociais. Qual a dificuldade de entender isso?