O que você precisa saber sobre redes | Módulo 25

Módulo 25

Atenção: você vai ler abaixo um texto provocativo, elaborado para estimular a conversação. Você não precisa concordar necessariamente com o conteúdo do texto provocativo e sim ficar atento às suas indagações. Todas as referências bibliográficas serão fornecidas oportunamente.

As conexões não têm propriamente qualidade, a não ser se falarmos da largura de banda (da velocidade e da estabilidade) da conexão à Internet. Como as redes sociais são sociais mesmo (como o nome está dizendo) e não se confundem com as tecnologias digitais ou com os meios físicos usados para viabilizar a interação entre pessoas, o que seria qualidade de uma conexão?

Diga aí.

  • Hudson Freitas

    Se não há uma “qualidade”, como um acidental, um apêndice, um adjetivo, pode-se dizer que há uma essência (no sentido ôntico, não ontológico) das conexões, das redes sociais, enquanto as mesmas se mantém enquanto tal: a liberdade!

  • augustodefranco

    Muita gente pergunta: mas, afinal, como surgiu a hierarquia? Penso que se pode dizer o seguinte. A hierarquia surge quando se constelam (e se replicam) configurações que permitem que ela surja (e se reproduza como modo de vida de uma determinada comunidade). Como surgiu pela primeira vez, não se pode saber (assim como não se pode saber sobre a primeira vez em nada: como surgiu a primeira célula viva? Como surgiu pela primeira vez um virus (que a rigor nem é vivo)? Como surgiu pela primeira vez o Estado?). Mas pode-se saber que ela surgiu entre humanos (sim, não há hierarquia nos reinos de seres vivos, nem mesmo entre primatas não-humanos e essa é uma controvérsia na qual já entramos pelo menos 100 vezes nos últimos cinco anos). Notamos que a surgimento da hierarquia vem acompanhado da adoção de modos de regulação de conflitos baseados na lógica da escassez (onde há produção artificial de escassez). Isso não significa que ela seja causada por isso, mas que ambos (hierarquia e autocracia) são fenômenos acompanhantes, mantendo condicionamentos recíprocos (entre si).

    • Fernando Baptista

      Mas como assim, Augusto?? O leão não manda nos outros bichos? hehe

      • Fernando Baptista

        Olha só a cara dele de mandão:

  • INTERAÇÃO FINAL: O NADA EXISTENTE
    A experiência desse passo adicional consiste em apagar minhas intervenções e convidar um grupo de pessoas para reler os módulos com olhos frescos (o contexto disso está algo descrito no post anterior). Será possível identificar intervenções que *não* estão lá, ditadas pela simples influência no fluxo da conversa? Creio que sim. A pesquisa talvez pudesse medir o quanto isso é possível.

    Ou por outra: houve um “conteúdo” em posts que não estarão mais lá, mas que continurão a atuar sobre o fluxo da conversa, mesmo que a “qualidade” do post seja questionada, como foi meu suposto desentendimento dos temas tratados aqui. Em tempo: fui acusado de tentar convencer os outros, quando na verdade estava tentando me deixar convencer por uma proposta que ao meu ver não fecha, quando aplicada nas interações cotidianas e reais.

    Na buena, esssa dificuldade de aplicabilidade prática foi discutida no hangout sem qualquer conclusão; ficaram só as dúvidas. Passa a impressão de que as novas teorias das redes estão 100% ajambradas, o mundo é que não está preparado para tanto. Mas cada um que tire suas conclusões. E, sim, continuo a não entender várias passagens entre o módulo 12 e 23, várias questões ali simplesmente me parecem vagas; partem de análises absolutamente reais e sobem aos céus, ao ponto de pairar acima de tudo e todos. Se essa crítica não tivesse procedência, a aplicabilidade dos achados seria instantânea e evidente para qualquer um; se não é isso que acontece, bem, a tendência é concluir que humanidade que está aí é quase inútil? Novamente, cada um que conclua o que quiser.

    Pois bem: de posse dos mapas dessa experiência aqui é possível saber quais posts formaram clusters, quais geraram mais interações ou fluxos? O que os motivou a isso? Não fui convencido de que apenas o padrão da interação responde sozinho pelos resultados.

    Aliás, os organizadores citam várias vezes o alto grau de interação do lab; tendo a julgar que a dissonância teve um grande papel nisso, mesmo quanto serviu para REFORÇAR a consonância de opiniões—se isso não leva à conclusão empírica de que o conteúdo move o tempo todo o padrão de interação, então realmente nunca iremos nos entender. O fato é que essa hipotética pesquisa talvez pudesse dar números para isso também.

    ***
    Por linhas tortas, também ficou demonstrado que a “dança” interativa defendida em muitos momentos nas conversas funciona a contento se o padrão for uma soma de concordâncias próximas, ou seja, “sim”, “sim, em termos”, “talvez”, “pode ser”, “adicionalmente” e por aí vai. Mas tem dificuldade ao se deparar com um simples “não”.

    Sinceramente, frente a uma discordância, o padrão de interação perdeu seu encanto aglutinador. “Ah, mas não é disso que estamos tratando aqui, vc não entendeu”. Ok, pode ser, mas então sinceramente não sei o que fazer com tanto conhecimento de tão alto impacto que não explica ou prevê como lidar com a dissonância, o desafinado, o fora do padrão; um conhecimento que também tem dificuldade de se transformar numa ferramenta simples e ao mesmo tempo solidamente aplicável à vida das pessoas, escolas, empresas e tudo o mais. De novo, essa é a minha conclusão; cada um que tire as suas.

    ***
    Por fim, dois detalhes: para essa proposta de experiência andar, esse post não pode ser lido por esse suposto grupo de quali ou quanti, claro. E não basta apagar o *conteúdo* dos posts espalhados nos módulos para fazer sumir totalmente sua influência sobre o fluxo de cada conversa. É preciso apagá-lo inteiro. É isso que será feito, logo mais. Infelizmente, vários posts começam citando meu nome, o que certamente atrapalha a experiência; nesse caso, é o caso de eliminar qualquer referência pessoal nas respostas aos posts que já não estarão mais por lá. Fica a ideia.

    • augustodefranco

      Cada pessoa pode fazer o que quiser aqui neste programa. Pode, inclusive, apagar seus comentários, mesmo quando esses comentários chamaram a atenção de outras pessoas e passaram a fazer parte de conversações que se tornaram patrimônio coletivo (deixando de ser solilóquos).

  • Retomando o recado no hangout, finalizo minha interação com um passo adicional ainda fora do padrão: o que acontece se as interações sumirem totalmente? Segue no próximo post. Antes, algumas digressões.

    ***
    Como isso é um lab, não vi problema em radicalizar, embora o plano inicial jamais tenha sido esse: na verdade, o fluxo da conversa me levou a essa possibilidade. Nesse sentido a interação funcionou 100%, pois criou ou levou a criar algo que inicialmente estaria fora de questão.

    Fica também a dúvida: se a Ciência das Redes procura padrões, como lidar com a dissonância? Não vale argumentar que este ambiente não é uma rede distribuída ideal e que os eventos aqui foram mais próximos do que se chamou de “participação”; é a rede que temos, a experiência valeu mesmo assim.

    O passo adicional proposto no post seguinte parte da analogia com o velho rio: ao colocar uma pedra na correnteza, ela tem o poder de desviar o fluxo da água, que apenas reinventa um novo caminho; se a pedra é retirada, o desvio desaparece e o fluxo volta ao que era antes.

    Seguindo no exemplo: as pedras são as pessoas e suas interações; a água adapta-se à entrada e saída das pedras, portanto, como se comentou no hangout, a interação está entre as pessoas e não nas pessoas. Assim, a rede é o fluxo entre elas e não propriamente as pessoas-pedras, cuja entrada ou saída do rio apenas altera ou influencia o fluxo da água. Faz sentido?

    Pra chatear, no entanto, volto sempre nas mesmas teclas pretas dos bemóis: as pessoas, como as pedras, podem interagir com a água, mas é a “qualidade” das pessoas—traduzia nas suas decisões e, portanto, nos seus conteúdos—que altera o fluxo, para os efeitos práticos do nosso cotidiano. Todos os organizadores discordam disso, fazer o quê? Continuo convicto de que é impossível tirar essa ideia da mesa, sem prejuízo de todas as demais conversas aqui, inclusive aquelas envolvendo hierarquia, suas origens, sua existência e como lidar com isso, hoje, na terra terrena em que vivemos. Se a palavra permite leituras diferentes, isso é um dado da realidade, até porque se hoje o que me importa é a última acepção do Houaiss (hierarquizar é classificar), talvez seja exatamente a origem classificatória da natureza humana que tenha fundamentado aquele resgate histórico do conceito, publicado em algum dos módulos pelo Augusto.

    Voltando ao leito. o que acontece no rio real com pedras reais não ocorre nas interações sociais: uma vez colocada a pedra—uma pessoa, a info que ela carrega e sua qualidade intrínseca, como vislumbro—o fluxo ficará afetado para sempre, mesmo se a pedra, a pessoa, no caso, saia de lá.

    A Nova Ciência das Redes defende que não, ao menos com base nesse trecho do módulo 11, como postado antes:

    ” . . . as evidências apontam que os fenômenos que ocorrem em uma rede não dependem das características intrínsecas de seus nodos. (. . . ) não é o conteúdo do que flui pelas suas conexões que pode determinar o comportamento de uma rede. É o fluxo geral que . . . chamamos de rede. (. . .) não tem nada a ver com mensagens contidas em sinais emitidos ou recebidos: são padrões, modos-de-interagir. . . . passamos a constituir um organismo humano “maior” do que nós.”

    E minhas considerações aqui e acolá se fiam também por este resumo feito pelo Augusto, a partir de um pedido de esclarecimento do ponto que considero vital e que direciona para ações e conclusões opostas, como o intenso debate aqui já deixou claro. O resumo é este aqui:

    “A fenomenologia da interação não depende do conteúdo (ainda que o conteúdo seja importante para os sujeitos, ele não explica o comportamento coletivo), mas de outras características (como a frequência, a recorrência, as circunstância em que se dão os acoplamentos et coetera). [Q]uando ocorre um swarming social, é inútil ficar perguntando qual é a pauta . . .” (módulo 24)

    É interessante buscar a definição correta de fenomenologia, para não haver dúvidas do que está em pauta neste comentário. O fato é que, ao tentar defender minha visão, o caldo desandou. Entrei em debates muito maiores do que meu conhecimento permite, dada a babagem da maioria aqui. Mesmo assim, questões seguem abertas e isso fica um mais detalhado abaixo.

    Pra finalizar finalizando, e apenas a título de mera hipótese experimental, fica sugestão a seguir, que talvez pudesse ser aplicada a um grupo quali ou quanti.

    ***
    Caros, hora de partir, meu trem já apitou. Valeu a viagem. Se der tempo, volto nas estações dos módulos daqui uma semana ou tanto para uma releitura, pois não sei mais se existem novas interações (isso tem a ver com o comentário da interface, que deixarei intacto, lá no hangout).

    T+,
    c.

    • Cassiano,

      Se formos usar a metáfora do rio, as pessoas não são pedras: são redemoinhos.

      São o PRÓPRIO rio, configurado em um padrão único, original, nunca antes existente, cuja originalidade é o que percebemos como uma pessoalidade criativa. Entende?

      Mas essa metáfora também tem limitações, pois não capta o papel dos redemoinhos (pessoas) na criação do rio (o fluxo da convivência social). Ou seja, o social não é uma categoria metafísica pré-existente às pessoas.

      Para explicar este aspecto, terei que lançar mão de uma comparação (que nem sempre funciona) entre as redes vivas e as redes socais. A rede de vida (biológica) que cobre o planeta Terra vamos chamar biosfera, pra usar uma palavra já utilizada.

      i) a biosfera é um produto dos seres vivos em interação,

      ii) ou os seres vivos é que são uma expressão da rede de vida que se espalha e se multiplica?

      AMBAS afirmações são válidas.

      Porém, se eu digo que “a biosfera é um produto dos seres vivos”, preciso compreender duas coisas:

      1) A biosfera não é uma SOMA dos seres vivos. Somente a INTERAÇÃO entre eles forma as dinâmicas típicas dos ecossistemas e da vida. Ou seja, não existe uma biosfera que pré-exista aos seres vivos — mas ela também não é só a soma deles.

      2) Os seres vivos não podem ser adequadamente compreendidos como sistemas fechados. Eles são subsistem por si mesmos. Cada ser vivo se tornara o que é no fluxo de interações vivas que o constitui e que ele estabelece com outros seres. De forma muito concreta, cada ser vivo é uma configuração particular (fractal) da Vida em geral, uma pequena deriva do grande rio da Vida. E, ainda assim, cada ser vivo é único, tem características próprias.

      * * *

      Agora falemos propriamente do social.

      Você diz: “a rede é o fluxo entre [as pessoas] e não propriamente as pessoas-pedras, cuja entrada ou saída do rio apenas altera ou influencia o fluxo da água. Faz sentido?”

      Entendo o que você diz. Mas não é uma descrição adequada, pelas razões que explicitei acima.

      O fluxo social não é uma entidade metafísica, independente das pessoas. Ele é um fenômeno emergente, é uma invenção. É o que emerge da interação entre as pessoas, ao passo que (eis o ponto!) cada pessoa também é uma emergência/manifestação/expressão do social (da rede social). Putz…

      A não-dicotomia entre o social e a pessoa talvez confunda muita gente habituada a pensar em termos dicotômicos ou de relações simples de casa e efeito. Essa racionalidade falha como modo de compreender (e descrever) sistemas complexos (tais como as redes). Há uma vasta literatura sobre isso, desde a cibernética, a teoria do caos, teoria dos sistemas complexos e dos sistemas auto-organizados, e todas as suas interfaces com a epistemologia.

      Mas voltemos à pessoa.

      O que nos faz uma pessoa? Não é a tessitura humana em que surgimos, o emocionar que compartilhamos na convivência, o que dos outros incorporamos em nós, o que inevitavelmente herdamos dos que nos precederam? Mas… se eles também se fizeram incorporando e recriando em si outras pessoas; e estas pessoas a outras pessoas; e assim indefinidamente em todas as direções… não é claro que somos, cada qual à sua maneira, toda a rede humana fractalmente refletida, misturada, recriada?

      * * *

      Imagem:
      A Árvore da Vida – Gustav Klimt (1905)

  • augustodefranco

    Atenção! O programa não acabou. Ainda estamos recolhendo material para elaborar o book, levando em conta as interações de todos. Teremos, além disso, as referências bibliográficas. E o hangout amanhã às 19h. Vai ser na página: http://redes.org.br/25mitos-01-hangout/

  • augustodefranco

    A maior parte das evidências e juízos contidos nos textos provocativos são contra-intuitivos. Por exemplo, seu eu disser que uma rede descentralizada (e mais centralizada do que distribuída) composta por clones perfeitos de Mohandas Gandhi ou de Francisco de Assis não poderá ser muito cooperativa, isso é contra-intuitivo. Porque aprendemos com a mamãe, desde criancinhas, que pessoas boas melhoram o mundo e que o comportamento da sociedade é uma espécie de somatório dos comportamentos dos indivíduos (ou o que é pior, das suas convicções, dos seus valores, da sua consciência, dos seus propósitos generosos). Se você acha isso, se você acha – para usar a metáfora de Buchanan – que diamantes brilham porque seus átomos brilham (e são átomos de Carbono, os mesmos encontrados num pedaço de carvão: que, absolutamente, não brilham), então você não entendeu nada de rede. Só faz sentido trabalhar com o conceito de rede se o comportamento da rede não for a soma do comportamento dos seus nodos. Do contrário, o conceito é inútil. E este programa é inútil.

    • Marcelo Yamada

      Me dei conta de que o problema da frase “o comportamento da rede é a soma do comportamento dos seus nodos” está no entendimento do termo “soma” como sendo o apenas o amontoamento de objetos (a contabilização, a contagem, ou qualquer outro termo que signifique um conjunto de itens individuais sem influência sobre os itens vizinhos).
      Dessa forma, realmente é mais preciso afirmar em lugar disso que “o comportamento de rede é o resultado da interação entre os seus nodos”, porque isso inclui explicitamente a interação e implicitamente os componentes individuais que influenciam a interação.

      • augustodefranco

        Sim, quase isso, Yamada. Imagine agora que o que chamamos de nodos são singularidades no campo que chamamos de rede. No caso das redes sociais, em que os nodos são pessoas, desfrute a imagem de Nobert Wiener (1950): somos apenas “remoinhos num rio de água sempre a correr”.

        • Ana Lucia Procopiak

          E me parece Augusto que estes “remoinhos” não estão sempre no mesmo lugar, são dinâmicos no seu fluir.

    • Cris Kruel

      Eu prefiro sempre apostar que as redes deveriam buscar quantidade e variedade de membros. Isto permite que uma rede aprenda e se adapte rapidamente.
      Mas no módulo anterior entendi que não existe rede boa ou ruim, mas apenas redes. Logo a sentença no título do módulo me causa chateação.

      • augustodefranco

        Pois é. Todas as 25 sentenças que intitulam os módulos me causam chateação.

  • NelsonBrazys

    Novo no tema e interagindo aqui pela primeira vez, penso em qualidade de conexão como a existência dinâmica, ativa, dessa conexão, com interações fluindo, acontecendo, independente de uma valoração de conteúdo. O oposto, a não qualidade da conexão seria para mim uma conexão apenas nominal, teórica, mas sem interação, existente, mas não operante.

    • Interessante, Nelson. Se for esse o sentido, espero que você tenha muitas interações “de qualidade” aqui. ;-D

  • Marcia Borges

    Alto Nível de conectividade, tempo, atalhos para recursos (seja conhecimento, ou outros), facilidade de interação, nível de interação, distribuída e não hierarquizada. Sem bloqueios e restrições de fluxo.

  • augustodefranco

    Informação importante, pessoal! O hangout previsto para hoje foi adiado para 11/11/2015. Veja mais informações na página http://redes.org.br/25mitos-0

  • Fatima Melca

    Possibilitar a interação de modo mais distribuído que centralizado. Sem controle, sem hierarquias, sem centralização. Ampla conectividade entre todos.Favorecer o novo, a criação através de emergencias, produções. Possibilitar o compartilhamento de conhecimentos. As trocas ricas de possibilidades. Manter acessa a chama da interatividade.

  • Augusto, Giovanni, bacana. Segue algo gigante e digo que gostei do resultado, embora seja apenas a porta de entrada.

    ****
    Voltando na questão ampla tratada aqui, meu incômodo fundamental acontece a partir do momento em que a discussão parece se restringir à rede ou redes, em si mesmas, e não aos humanos que as integram. Por outra, por mais que o tempo todo pareça se estar discutindo as pessoas, fica sempre a sensação de que não: a conversa gira em torno da rede por ela mesma. Antes de seguir, preciso esclarecer como chego nisso; uma longa digressão; ao menos em quantidade de caracteres, vale pelo que não comentei nos demais tópicos 🙂

    ONDE ENTRAMOS?
    A conversa sobre as redes em vários momentos me lembra o incômodo que o então venerado filósofo Pierre Levy fez nas terras brazilis nos primórdios da invasão da internet por aqui. Ninguém estava entendendo nada. Ótima oportunidade para alguém defender ideias que ninguém entendia, mas que pareciam muito sábias. Num dos livros mais discutidos, O que é o virtual, ele mandou ver numa comparação entre os suportes livro e tela. Quando fui eu mesmo tentar entender a internet, acabei tropeçando num arcabouço conceitual que me pareceu mais plausível e ironizei o famoso filósofo num comentário lateral no meu estudo. Isso é outra vereda, cito apenas para informar que tenho antiga aversão a muitas análises e leituras que julgo tecnológicas demais para o meu gosto. Penso que parte dos 25 tópicos entra nesse tipo de enfoque. Adiante com outro contexto.

    Minha preocupação com a internet naquela época vinha do fato de eu ter uma ligação profunda com um jornal regional de porte razoável. Até hoje, o jornalismo não conseguiu encontrar seus caminhos nas veredas da internet; vcs podem imaginar o que isso significava para um jornal com mais de 30 anos de existência em 1994, imprensa nanica se comparada com um Estado ou Folha ou Abril; irrelevante, se comparada a um NYTimes e outros. Todas essas empresas até hoje dançam suas valsas de terror, desconstrução, morte e ressurreição—com a agravante de que o último capítulo ainda está sendo escrito por roteiristas na escuridão ou no máximo à luz de velas. Portanto, entender a rede internet para mim era também uma questão de, digamos, sobrevivência empresarial, somada à sensação pessoal de já ter visto um filme dirigido por aspones de matizes variados, numa indústria de 400 anos que, a partir do fim dos anos 50, enfrentou duas revoluções: do chumbo para o past-up; do past-up para uma redação informatizada. Rios de dinheiro foram embora na brincadeira do avanço tecnológico de processos. Com a internet não seria diferente, o risco de besteirol aspônico era enorme. E foi.

    Feito esse contexto, meu estudo meio por acaso apontou para o que considero crucial na análise proposta aqui, o entendimento das redes e seu nodos. Embora meu foco na época fosse o ambiente de negócio sobre o qual se pode construir uma indústria, ou não, acredito ter tropeçado num conceito mais amplo. Isso só ficou realmente claro dez anos depois, quando fui investir na minha tese e encontrei o conceito de gatekeeping. É esse o ponto que julgo estar faltando na conversa aqui, a tal vertente insanável, e que vou tentar sumarizar.

    Minha tese fundamental, já adiantada antes, é que somos editores por natureza. O conceito de gatekeeping é uma das várias formas de entender como isso acontece. Existem outras, mas esse me agrada. Num resumo rápido, o conceito diz que o tempo todo nós—vcs, eu, qualquer humano, sendo essa a diferença do instinto dos animais—selecionamos as informações, passando adiante algumas, retendo outras, e refutando outras ainda. Ou seja, nossa ação enquanto nó ou nodos em uma rede é essencialmente editorial: olhamos algo e dizemos sim, talvez ou não. Somos os senhores do nosso portão, os leões de chácara da nossa existência pessoal e da nossa interação social. A rede pela qual fazemos isso, sinceramente, não me importa: creio que tanto faz. Por milênios foi a simples interação social; temos agora alguns recursos a mais. Quanto aos animais, esse processo talvez esteja lá, de forma latente, e em alguns casos de forma bem sofisticada, como nos golfinhos ou corvos.

    Pois bem: esse trabalho é o tal fluxo tratado aqui, com a diferença fundamental: na minha visão, quem dita o fluxo somos nós, os gatekeepers, não a topografia da rede, embora, por óbvio, a topografia da rede acabe sendo o resultado da “edição” pessoal de seus integrantes. Ou por outra: os nodos formam a rede antes da rede influenciar os nodos, mas ao contrário da galinha e do ovo o que vem primeiro é o nodo, o indivíduo, a pessoa, não a rede. Até porque, uma vez adultos, podemos ser bem felizes praticamente como ogros solitários.

    VOLTANDO
    Voltando então à nossa conversa: qualquer análise que eu fizer dos 25 tópicos terá essa condição acima como premissa. Por exemplo 1, simplesmente não compro a ideia do enxame realizado pela rede. Para mim, o tal enxameamento é resultado de uma análise editorial, nosso gatekeeping diário, com a diferença de que, na crise, a tendência é todos concluírem pelo mesmo. Por exemplo 2, isso entra forte no papo de liderança e centralização—eu poderia voltar nos tópicos, mas teria dificuldade de me fazer entender sem antes esse enorme contexto no qual fundamentaria minhas observações. Aceito a crítica de que estou trilhando aqui o caminho fácil de usar meu foco de pesquisa e fazer minha análise a partir dele. Por outro lado, qual é o problema? 🙂

    O fato é que eu gostaria de comentar vários tópicos a partir desses enfoques acima; não vai dar tempo, visto que o curso termina hoje: preciso reler com calma e de alguns dias para costurar os fundamentos. Mas topo dar continuidade num evento específico adiante. Na verdade, envolver-me nessa discussão sobre redes foi meu objetivo aqui, pois o assunto, vcs percebem, não é novo para mim e algo fascinante.

    Ok, não vai dar pra detalhar nos tópicos específicos, mas adianto dois enfoques mais críticos que me veem agora. Tenho também um questionamento ou curiosidade: com base em qual pesquisa ou base ou análise é possível fazer as afirmações de que os todos os mitos existem? Onde está escrito que as pessoas pensam assim ou assado em relação às redes?? Sinceramente, em alguns dos 25 temas citados, nem sei se a afirmação fundamental procede, ou seja, será que as pessoas realmente fazem o prejulgamento sobre o qual se construiu o texto de provocação? Não sei.

    1) Não compro a ideia de que os eventos mundiais citados como exemplo comprovam que as redes agem independentemente da noção de conteúdo, que para mim é o resultado do gatekeeping. Creio, portanto, que eles simplesmente traduzem uma decisão dada pelos nodos, ou seja, nossa edição pessoal da realidade. Creio que o enxameamento prescinde a rede porque, por exemplo, numa certa manhã em Pompéia, não me parece válido creditar à rede social as decisões de uma população em pânico: cada um, cada um, cada decisão editorial, ou pessoal, como queiram—correr ou ficar?, por aqui ou por ali?—, representou uma decisão classificatória, hierarquizante, feita por, soberanamente, cada nódo, dentro da rede social da cidade. Não? Leiam este relato: http://bit.ly/pompeia_corra. Houvesse whatsapp e twitter as pessoas estariam tomando as mesmas decisões… erradas e acertadas, apenas de forma mais ampla e rápida, visto que alguém do outro lado da cidade poderia apontar a melhor opção: correr para o norte, leste, sul ou oeste. O mesmo se aplica a um tsunami nas Filipinas, com a diferença de que a info correta ali era correr para o alto… Os manifestantes na praça Tahir ou no largo da Batata (módulo 15) têm em menor grau esse sentimento da urgência, mas ele está dado. E mais: nos dois palcos, o sentimento foi construído inclusive pela torção ideológica que houve nesses casos, e nem entro nisso agora pois o verdadeiro gatekeeping que viabilizou esses eventos ocorreu ao meu ver por meio de outras redes e forças políticas mais subterrâneas e intensas (sobre isso, indico os textos do Reinaldo Azevedo à época da tal Primavera Árabe, que hoje de primavera nada tem, e ele cantou a bola no calor dos fatos).

    2) É evidente que o conceito de sermos editores da nossa existência reforça a ideia de centralidade e conflita com a descentralidade. Esse é um papo loooongo, sobre o qual tenho vários senões e ajustes. Muitas questões corporativas passam por esses canais e isso me interessa inclusive profissionalmente, na medida em que tenho um foco de ação naquilo que se costuma definir como gerenciamento de processos e da informação—algo aliás criticado aqui, uma crítica interessantíssima, mas que não terei como aprofundar agora sem ser superficial. Info lateral: claro que a crítica me afeta em alguns momentos, e isso requer uma reflexão mais profunda.

    Como dica da questão do centralismo, adianto apenas que a decisão de pintar bisões é pessoal e intransferível: não creio que alguém naquelas cavernas e outras ao longo dos milhares de anos de ocupação tivesse conduzido ou tentado um consenso. Certamente houve algum nível de interação, mas é preciso considerar também o talento individual: sim, alguns sabiam desenhar e outros não; o fato de definir os bisões como a “manchete” daqueles tempos é um sinal para mim bastante evidente de que o conceito de edição, portanto, de gatekeeping da informação e da cultura tem sim um enorme pé no indivíduo, ou na pessoa, como se preferiu definir aqui—outro conceito aliás muito bacana e que me impactou bastante como elemento para a construção de um discurso.

    Ou por outra, independentemente da conversa em volta do fogo, a tal interação ou participação, alguém se levantou e pintou aquelas imagens e quem quisesse que contasse outra história. Isso é ser centralista? Não se pode descartar a possibilidade de que um primeiro humano primitivo tomou a iniciativa e os demais gostaram do resultado, visto que deram continuidade à narrativa, por séculos. Fazemos isso até hoje.

    Em suma: nós somos os nós ou nodos, antes da rede agir por nós, pessoas, e nós, nodos—o Português nos brinda com uma palavrinha de duplo sentido, perfeitamente aplicável ao que estamos conversando, vejam como soaria em inglês: we are the nodes, before the network work for us, by its nodes. Retomo: nós somos os nodos, antes da rede atuar por nós; a partir daí ela nos afeta até o momento que julgarmos isso adequado aos nossos interesses. A decisão de sair é a simples decisão de fechar o portão para aquele fluxo de informações. Intuitiva, pessoal, soberana, intransferível. Não?

    • augustodefranco

      O curso só termina no dia 8 de novembro de 2015, Cassiano. Você tem tempo demais para comentar e conversar com as pessoas, módulo por módulo. Interagir, conversando um-a-um, pessoa a pessoa, é diferente de publicar um parecer. Não que não seja válido publicar pareceres emitindo as convicções que já tínhamos antes de fazer o programa. É também. Mas acho mais legal ficar aberto à interação que pode questionar aquilo que sabemos, achamos que sabemos ou acreditamos.

      • pois é! acreditam que só percebi minha confusào de datas agorinha?? 🙂 abs!

  • Cassiano Polesi

    Augusto, Giovanni, bacana. Segue algo gigante e digo que gostei do resultado, embora seja apenas a porta de entrada.

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    Voltando na questão ampla tratada aqui, meu incômodo fundamental acontece a partir do momento em que a discussão parece se restringir à rede ou redes, em si mesmas, e não aos humanos que as integram. Por outra, por mais que o tempo todo pareça se estar discutindo as pessoas, fica sempre a sensação de que não: a conversa gira em torno da rede por ela mesma. Antes de seguir, preciso esclarecer como chego nisso; uma longa digressão; ao menos em quantidade de caracteres, vale pelo que não comentei nos demais tópicos 🙂

    ONDE ENTRAMOS?
    A conversa sobre as redes em vários momentos me lembra o incômodo que o então venerado filósofo Pierre Levy fez nas terras brazilis nos primórdios da invasão da internet por aqui. Ninguém estava entendendo nada. Ótima oportunidade para alguém defender ideias que ninguém entendia, mas que pareciam muito sábias. Num dos livros mais discutidos, O que é o virtual, ele mandou ver numa comparação entre os suportes livro e tela. Quando fui eu mesmo tentar entender a internet, acabei tropeçando num arcabouço conceitual que me pareceu mais plausível e ironizei o famoso filósofo num comentário lateral no meu estudo. Isso é outra vereda, cito apenas para informar que tenho antiga aversão a muitas análises e leituras que julgo tecnológicas demais para o meu gosto. Penso que parte dos 25 tópicos entra nesse tipo de enfoque. Adiante com outro contexto.

    Minha preocupação com a internet naquela época vinha do fato de eu ter uma ligação profunda com um jornal regional de porte razoável. Até hoje, o jornalismo não conseguiu encontrar seus caminhos nas veredas da internet; vcs podem imaginar o que isso significava para um jornal com mais de 30 anos de existência em 1994, imprensa nanica se comparada com um Estado ou Folha ou Abril; irrelevante, se comparada a um NYTimes e outros. Todas essas empresas até hoje dançam suas valsas de terror, desconstrução, morte e ressurreição—com a agravante de que o último capítulo ainda está sendo escrito por roteiristas na escuridão ou no máximo à luz de velas. Portanto, entender a rede internet para mim era também uma questão de, digamos, sobrevivência empresarial, somada à sensação pessoal de já ter visto um filme dirigido por aspones de matizes variados, numa indústria de 400 anos que, a partir do fim dos anos 50, enfrentou duas revoluções: do chumbo para o past-up; do past-up para uma redação informatizada. Rios de dinheiro foram embora na brincadeira do avanço tecnológico de processos. Com a internet não seria diferente, o risco de besteirol aspônico era enorme. E foi.

    Feito esse contexto, meu estudo meio por acaso apontou para o que considero crucial na análise proposta aqui, o entendimento das redes e seu nodos. Embora meu foco na época fosse o ambiente de negócio sobre o qual se pode construir uma indústria, ou não, acredito ter tropeçado num conceito mais amplo. Isso só ficou realmente claro dez anos depois, quando fui investir na minha tese e encontrei o conceito de gatekeeping. É esse o ponto que julgo estar faltando na conversa aqui, a tal vertente insanável, e que vou tentar sumarizar.

    Minha tese fundamental, já adiantada antes, é que somos editores por natureza. O conceito de gatekeeping é uma das várias formas de entender como isso acontece. Existem outras, mas esse me agrada. Num resumo rápido, o conceito diz que o tempo todo nós—vcs, eu, qualquer humano, sendo essa a diferença do instinto dos animais—selecionamos as informações, passando adiante algumas, retendo outras, e refutando outras ainda. Ou seja, nossa ação enquanto nó ou nodos em uma rede é essencialmente editorial: olhamos algo e dizemos sim, talvez ou não. Somos os senhores do nosso portão, os leões de chácara da nossa existência pessoal e da nossa interação social. A rede pela qual fazemos isso, sinceramente, não me importa: creio que tanto faz. Por milênios foi a simples interação social; temos agora alguns recursos a mais. Quanto aos animais, esse processo talvez esteja lá, de forma latente, e em alguns casos de forma bem sofisticada, como nos golfinhos ou corvos.

    Pois bem: esse trabalho é o tal fluxo tratado aqui, com a diferença fundamental: na minha visão, quem dita o fluxo somos nós, os gatekeepers, não a topografia da rede, embora, por óbvio, a topografia da rede acabe sendo o resultado da “edição” pessoal de seus integrantes. Ou por outra: os nodos formam a rede antes da rede influenciar os nodos, mas ao contrário da galinha e do ovo o que vem primeiro é o nodo, o indivíduo, a pessoa, não a rede. Até porque, uma vez adultos, podemos ser bem felizes praticamente como ogros solitários.

    VOLTANDO
    Voltando então à nossa conversa: qualquer análise que eu fizer dos 25 tópicos terá essa condição acima como premissa. Por exemplo 1, simplesmente não compro a ideia do enxame realizado pela rede. Para mim, o tal enxameamento é resultado de uma análise editorial, nosso gatekeeping diário, com a diferença de que, na crise, a tendência é todos concluírem pelo mesmo. Por exemplo 2, isso entra forte no papo de liderança e centralização—eu poderia voltar nos tópicos, mas teria dificuldade de me fazer entender sem antes esse enorme contexto no qual fundamentaria minhas observações. Aceito a crítica de que estou trilhando aqui o caminho fácil de usar meu foco de pesquisa e fazer minha análise a partir dele. Por outro lado, qual é o problema? 🙂

    O fato é que eu gostaria de comentar vários tópicos a partir desses enfoques acima; não vai dar tempo, visto que o curso termina hoje: preciso reler com calma e de alguns dias para costurar os fundamentos. Mas topo dar continuidade num evento específico adiante. Na verdade, envolver-me nessa discussão sobre redes foi meu objetivo aqui, pois o assunto, vcs percebem, não é novo para mim e algo fascinante.

    Ok, não vai dar pra detalhar nos tópicos específicos, mas adianto dois enfoques mais críticos que me veem agora. Tenho também um questionamento ou curiosidade: com base em qual pesquisa ou base ou análise é possível fazer as afirmações de que os todos os mitos existem? Onde está escrito que as pessoas pensam assim ou assado em relação às redes?? Sinceramente, em alguns dos 25 temas citados, nem sei se a afirmação fundamental procede, ou seja, será que as pessoas realmente fazem o prejulgamento sobre o qual se construiu o texto de provocação? Não sei.

    1) Não compro a ideia de que os eventos mundiais citados como exemplo comprovam que as redes agem independentemente da noção de conteúdo, que para mim é o resultado do gatekeeping. Creio, portanto, que eles simplesmente traduzem uma decisão dada pelos nodos, ou seja, nossa edição pessoal da realidade. Creio que o enxameamento prescinde a rede porque, por exemplo, numa certa manhã em Pompéia, não me parece válido creditar à rede social as decisões de uma população em pânico: cada um, cada um, cada decisão editorial, ou pessoal, como queiram—correr ou ficar?, por aqui ou por ali?—, representou uma decisão classificatória, hierarquizante, feita por, soberanamente, cada nódo, dentro da rede social da cidade. Não? Leiam este relato: http://bit.ly/pompeia_corra. Houvesse whatsapp e twitter as pessoas estariam tomando as mesmas decisões… erradas e acertadas, apenas de forma mais ampla e rápida, visto que alguém do outro lado da cidade poderia apontar a melhor opção: correr para o norte, leste, sul ou oeste. O mesmo se aplica a um tsunami nas Filipinas, com a diferença de que a info correta ali era correr para o alto… Os manifestantes na praça Tahir ou no largo da Batata (módulo 15) têm em menor grau esse sentimento da urgência, mas ele está dado. E mais: nos dois palcos, o sentimento foi construído inclusive pela torção ideológica que houve nesses casos, e nem entro nisso agora pois o verdadeiro gatekeeping que viabilizou esses eventos ocorreu ao meu ver por meio de outras redes e forças políticas mais subterrâneas e intensas (sobre isso, indico os textos do Reinaldo Azevedo à época da tal Primavera Árabe, que hoje de primavera nada tem, e ele cantou a bola no calor dos fatos).

    2) É evidente que o conceito de sermos editores da nossa existência reforça a ideia de centralidade e conflita com a descentralidade. Esse é um papo loooongo, sobre o qual tenho vários senões e ajustes. Muitas questões corporativas passam por esses canais e isso me interessa inclusive profissionalmente, na medida em que tenho um foco de ação naquilo que se costuma definir como gerenciamento de processos e da informação—algo aliás criticado aqui, uma crítica interessantíssima, mas que não terei como aprofundar agora sem ser superficial. Info lateral: claro que a crítica me afeta em alguns momentos, e isso requer uma reflexão mais profunda.

    Como dica da questão do centralismo, adianto apenas que a decisão de pintar bisões é pessoal e intransferível: não creio que alguém naquelas cavernas e outras ao longo dos milhares de anos de ocupação tivesse conduzido ou tentado um consenso. Certamente houve algum nível de interação, mas é preciso considerar também o talento individual: sim, alguns sabiam desenhar e outros não; o fato de definir os bisões como a “manchete” daqueles tempos é um sinal para mim bastante evidente de que o conceito de edição, portanto, de gatekeeping da informação e da cultura tem sim um enorme pé no indivíduo, ou na pessoa, como se preferiu definir aqui—outro conceito aliás muito bacana e que me impactou bastante como elemento para a construção de um discurso.

    Ou por outra, independentemente da conversa em volta do fogo, a tal interação ou participação, alguém se levantou e pintou aquelas imagens e quem quisesse que contasse outra história. Isso é ser centralista? Não se pode descartar a possibilidade de que um primeiro humano primitivo tomou a iniciativa e os demais gostaram do resultado, visto que deram continuidade à narrativa, por séculos. Fazemos isso até hoje.

    Em suma: nós somos os nós ou nodos, antes da rede agir por nós, pessoas, e nós, nodos—o Português nos brinda com uma palavrinha de duplo sentido, perfeitamente aplicável ao que estamos conversando, vejam como soaria em inglês: we are the nodes, before the network work for us, by its nodes. Retomo: nós somos os nodos, antes da rede atuar por nós; a partir daí ela nos afeta até o momento que julgarmos isso adequado aos nossos interesses. A decisão de sair é a simples decisão de fechar o portão para aquele fluxo de informações. Intuitiva, pessoal, soberana, intransferível. Não?

    • augustodefranco

      O curso só termina no dia 8 de novembro de 2015, Cassiano. Você tem tempo demais para comentar e conversar com as pessoas, módulo por módulo. Interagir, conversando um-a-um, pessoa a pessoa, é diferente de publicar um parecer. Não que não seja válido publicar pareceres emitindo as convicções que já tínhamos antes de fazer o programa. É também. Mas acho mais legal ficar aberto à interação que pode questionar aquilo que sabemos, achamos que sabemos ou acreditamos.

      • pois é! acreditam que só percebi minha confusào de datas agorinha?? 🙂 abs!

        • augustodefranco

          Posso acreditar. Mas já que você percebeu que se enganou, Cassiano, sugiro que leia o que está escrito em cada módulo não apenas no texto provocativo e sim também nos comentários (que é o mais rico e o programa é baseado nisso).

  • Olá a todos, finalizei a leitura dos 25 módulos apenas hoje de madruga; vários pontos interessantes, mas sem condições de abrir discussão em todos os tópicos — preciso de alguns dias ou semanas para refletir, na maioria dos casos. Por isso, quis conhecer o todo, antes de voltar em cada um. Isso poderá ser feito, mas prefiro, antes, publicar aqui um balanço que tem a ver com aquela bifurcação “insanável” que apontei no início 🙂 Nem tudo é espinho: de imediato, o grande ganho conceitual do que li (e preciso reler, em vários casos) é a diferença entre participação e interação. Valeu o curso, principalmente porque o tema está fervendo na minha pauta política em função do atual cenário. No mais, vou burilar um texto divergente mais detalhado e publico aqui até o meio da tarde ou antes. Abs.

    • augustodefranco

      Legal! Mas não precisa necessariamente ser convergente ou divergente, Cassiano. Basta ser diferente. Não trabalhamos aqui com alinhamento de posições e nem com debates entre alternativas excludentes e sim com uma ecologia de diferenças coligadas 😀

    • Legal, Cassiano! Publique, sim, suas percepções e reflexões. O objetivo do programa é esse mesmo: levantar tópicos que instiguem nossa reflexão, a conversa e a interação. Um abraço!

  • Cassiano Polesi

    Olá a todos, finalizei a leitura dos 25 módulos apenas hoje de madruga; vários pontos interessantes, mas sem condições de abrir discussão em todos os tópicos — preciso de alguns dias ou semanas para refletir, na maioria dos casos. Por isso, quis conhecer o todo, antes de voltar em cada um. Isso poderá ser feito, mas prefiro, antes, publicar aqui um balanço que tem a ver com aquela bifurcação “insanável” que apontei no início 🙂 Nem tudo é espinho: de imediato, o grande ganho conceitual do que li (e preciso reler, em vários casos) é a diferença entre participação e interação. Valeu o curso, principalmente porque o tema está fervendo na minha pauta política em função do atual cenário. No mais, vou burilar um texto divergente mais detalhado e publico aqui até o meio da tarde ou antes. Abs.

    • augustodefranco

      Legal! Mas não precisa necessariamente ser convergente ou divergente, Cassiano. Basta ser diferente. Não trabalhamos aqui com alinhamento de posições e nem com debates entre alternativas excludentes e sim com uma ecologia de diferenças coligadas 😀

    • Legal, Cassiano! Publique, sim, suas percepções e reflexões. O objetivo do programa é esse mesmo: levantar tópicos que instiguem nossa reflexão, a conversa e a interação. Um abraço!