A primeira leitura dessa hipótese “somente redes podem aprender” causou-me estranheza. Como assim? Sempre compreendi a aprendizagem como um processo intrínseco ao sujeito (ser humano) que ocorre nas interações sociais, porém, trata-se de um processo que ocorre internamente, quando conhecimentos novos são ancorados nos conhecimentos, experiências, vivências do sujeito, havendo acoplamentos estruturais que modoficam seu comportamento. Se na aprendizagem tipicamente humana quem aprende é a pessoa, como podemos afirmar que somente “redes aprendem”?
Marcos Bidart de Nova
Essa hipótese me parece conflitante com outras que se seguem, Se somente redes podem aprender, (Hipotese 02), como pode ocorrer que “Na aprendizagem tipicamente humana quem aprende é a pessoa.” ? (Hipótese 6). Se somente redes podem aprender e a aprendizagem tipicamente humana provoca modificação na pessoa, logo a pessoa é uma rede. De fato é, mas não no sentido em que a palavras rede é usada aqui.
A afirmação pode ser justificada pela hipótese 8, que afirma que quando aprende, a pessoa se modifica e pela hipótese 9 e 10, que afirmam que quando a pessoa aprende, muda de comportamento no relacionamento com outras pessoas (alostase social).e que quando a pessoa se modifica, criam-se novos mundos sociais (novos emaranhados, novas redes).
Esta afirmação implicaria que em ambientes isolados o ser humano não aprenderia, uma vez que ele não é uma rede e só redes podem aprender? Me ocorrem o filme “O Náufrago”, Nelson Mandela em seus quase 30 anos de cadeia etc.
Eu reformularia a hipótese 2 para: Redes também podem aprender. Esta afirmação estaria mais alinhada com a hipotese 3: A aprendizagem ocorre em seres vivos (organismos, partes de organismos e ecossistemas) e em redes de seres vivos (conjuntos de seres vivos em interação), em redes de seres não-vivos (capazes de interagir) e em seres sociais (pessoas ou redes de pessoas).
Entendo que mesmo que indivíduos fiquem sozinhos e isolados por um longo período de tempo em determinado momento de suas vidas, o que formou e o que é sua pessoa se manteria ainda como algo vivo e dinâmico, interagindo continuamente com o emaranhado que o gerou, mesmo sem contato físico com outros indivíduos. É algo que realmente acredito que precisamos aprofundar, pois este conceito sobre pessoa me indica que é um conceito fundamental em tais hipóteses.
Marcos Bidart de Nova
Acho esse aprofundamento super válido e o conceito assim visto sistêmico e “constelacional”. O que não aborda diretamente meu ponto. Se só redes aprendem, pessoas não aprendem? Se só redes aprendem e concordamos que pessoas também aprendem, pessoas e redes são a mesma coisa? Se são, porque usamos a palavra pessoas em outras hipóteses. Meu ponto é de lógica e não de conceitos. Cadê o resto da galera? Quantos somos? Abraços
marcelomaceo
Marcos, eu entendo da seguinte forma. Veja o que acha. Redes e os fenômenos decorrentes de redes, ou seja, de topologias mais interativas, são observáveis em diversos lugares. Quando afirmamos que tanto redes quanto pessoas aprendem, entendo que em pessoas se observam fenômenos que existem em redes, ou seja, pode-se dizer que em pessoas contém redes. Porém, ao diferenciar o uso entre redes e pessoas, seria para separar o tipo de aprendizagem que ocorre em outras redes (de seres não-vivos e vivos) da aprendizagem que ocorreria exclusivamente entre pessoas (o ente-emaranhado social) que se ampara o ser biológico humano (o ser vivo, que também aprende).
augustodefranco
A galera está vindo aí, Marcos. Aguarde uns (poucos) dias. Mas ainda estamos dentro do prazo previsto para cada autor.
augustodefranco
Talvez a hipótese deva ser interpretada como: “Tudo que aprende (ou é capaz de aprender) tem o padrão de rede”. Neste caso o homem (o ser humano propriamente dito, quer dizer, a pessoa) também é rede. E até do ponto de vista biológico (o homem – ou o ser humanizável – como indivíduo da espécie Homo Sapiens) isso é válido. Os sistemas vivos que estão dentro do (ou que compõem o) primata bípede que somos (biologicamente falando) são organizados segundo um padrão de rede, com destaque para o sistema nervoso e, em especial, para o cérebro. Sem as redes neurais (ou neuronais) não poderia haver aprendizagem. Mas a aprendizagem tipicamente humana não é bem esta (e sim a da pessoa). E sobre isso falaremos nas hipóteses seguintes.