O que você precisa saber sobre redes | Módulo 5

Módulo 5

Atenção: você vai ler abaixo um texto provocativo, elaborado para estimular a conversação. Você não precisa concordar necessariamente com o conteúdo do texto provocativo e sim ficar atento às suas indagações. Todas as referências bibliográficas serão fornecidas oportunamente.

Muitas pessoas acham que as redes sociais são poderosas ferramentas tecnológicas, as chamadas TICs ou tecnologias de informação e comunicação. Mas redes sociais são pessoas interagindo, por meio de qualquer ferramenta (mídia) que viabilize a interação (de sinais de fumaça ao WhatsApp ou ao Telegram Messenger).

Ademais, as redes sociais não são propriamente - ao contrário do que se acredita - redes de informação e sim de comunicação (que é interação).

Quando Norbert Wiener (1950) escreveu, em Cibernética e Sociedade, que “um padrão é uma mensagem e pode ser transmitido como tal”, abriu uma linha de reflexão segundo a qual todas as coisas – inclusive as pessoas, que, segundo ele, não passam “de redemoinhos em um rio de água sempre a correr” – são como que singularidades em um continuum, campo, tecido ou espaço. A hipótese é fértil, inclusive pelo seu poder heurístico.

Mas por essa porta aberta à imaginação criadora, também passou um pensamento rastejante: como transmissão de mensagem evoca sempre informação, uma visão de que tudo poderia ser reduzido, em última instância, à informação, acabou se estabelecendo. Redes, pensadas mais como redes de máquinas que trocam conteúdos entre si, foram assim concebidas como redes de informação.

Uma das descobertas tão recentes quanto surpreendentes da época em que vivemos é que, ao contrário do que pensavam os teóricos da informação, redes sociais não podem ser reduzidas à redes de informação. Ainda que toda influência seja um padrão, ela não pode ser reduzida a um código. É o padrão de interação que é relevante e não a transmissão-recepção da mensagem entendida como um conteúdo de arquivo.

Redes sociais são redes de comunicação, é óbvio. Mas ainda que o conceito de informação seja bastante elástico, isso não é a mesma coisa que dizer que elas são redes de informação. Redes são sistemas interativos e a interação não é apenas uma transmissão-recepção de dados: se fosse assim não haveria como distinguir uma rede social (pessoas interagindo) de uma rede de máquinas (computadores conectados, por exemplo).

Ao tomar as redes sociais como redes de informação, imaginando que tudo não passa de bytes transmitidos e recebidos, frequentemente deixávamos de ver que a comunicação modifica os sujeitos interagentes (e só acontece quando tal modificação acontece). Humberto Maturana e Francisco Varela explicaram isso muito bem em um box (ao que tudo indica atribuído ao segundo) do livro A Árvore do Conhecimento (1984) intitulado “A metáfora do tubo para a comunicação”:

“Nossa discussão nos levou a concluir que, biologicamente, não há informação transmitida na comunicação. A comunicação ocorre toda vez em que há coordenação comportamental em um domínio de acoplamento estrutural. Tal conclusão só é chocante se continuarmos adotando a metáfora mais corrente para a comunicação, popularizada pelos meios de comunicação. É a metáfora do tubo, segundo a qual a comunicação é algo gerado em um ponto, levado por um condutor (ou tubo) e entregue ao outro extremo receptor. Portanto, há algo que é comunicado e transmitido integralmente pelo veículo. Daí estarmos acostumados a falar da informação contida em uma imagem, objeto ou na palavra impressa. Segundo nossa análise, essa metáfora é fundamentalmente falsa, porque supõe uma unidade não determinada estruturalmente, em que as interações são instrutivas, como se o que ocorre com um organismo em uma interação fosse determinado pelo agente perturbador e não por sua dinâmica estrutural. No entanto, é evidente no próprio dia-a-dia que a comunicação não ocorre assim: cada pessoa diz o que diz e ouve o que ouve segundo sua própria determinação estrutural. Da perspectiva de um observador, sempre há ambiguidade em uma interação comunicativa. O fenômeno da comunicação não depende do que se fornece, e sim do que acontece com o receptor. E isso é muito diferente de ‘transmitir informação’.”

Além disso, há características da interação que não se resumem àquela transmissão-recepção de conteúdos evocada pelo uso corrente do conceito de informação. Em uma rede social é como se as pessoas estivessem emaranhadas e a modificação do estado de uma pessoa em-interação com outra acaba alterando o estado dessa outra sem que, necessariamente, tenha havido a transmissão voluntária (e, talvez nem mesmo involuntária) de uma mensagem da primeira para a segunda. Por exemplo, uma pessoa tende a se adaptar ao comportamento das outras, tende a imitar padrões de comportamento reconhecidos nas outras e tende, inclusive, a cooperar com elas (voluntária e gratuitamente). Uma pessoa pode ficar alegre ou triste, saudável ou doente, esperançosa ou descrente, em função da estrutura e da dinâmica desse emaranhado em que está imersa. Ao contrário do que se acredita, nada disso depende diretamente de um conteúdo transferido e recebido, intencionado na transmissão e interpretado na recepção, mas é função de outras características do modo-de-interagir como a frequência e a recursividade, as reverberações e os loopings, os laços de retroalimentação etc.

É mais ou menos como o que revelou a investigação de Deborah Gordon (1999), professora de ciências biológicas em Stanford, que pesquisou durantes dezessete anos colônias de formigas no Arizona. Ela conta, no livro Formigas em ação, que “a decisão de uma formiga quanto a uma tarefa é baseada em sua taxa de interação”. Mas “o que produz o efeito é o padrão de interação, não um sinal na própria interação. As formigas não dizem umas às outras o que fazer por meio da transferência de mensagens. O sinal não está no contato, ou na informação química trocada no contato. O sinal está no padrão de contato”. Ou seja, não se trata de uma comunicação de conteúdo, de um código, mas da frequência e das circunstâncias em que se dão os contatos.

Em uma rede estamos sofrendo a influência de um campo, mas tal influência é sistêmica e o comportamento adotado por um agente dificilmente pode ser atribuído à ação e muito menos à intenção única e exclusiva de outro agente. Quer dizer, quando ficamos alegres em virtude desse efeito sistêmico do campo em que estamos imersos (a rede) é como se tal fato fosse inexplicável, o que significa apenas que não conseguimos explicá-lo com base nos nossos esquemas explicativos habituais, focados nos indivíduos e não na rede, apontando um sujeito particular que nos sugestionou positivamente ou exerceu essa influência sobre nós de outra forma conhecida. Mas não é assim que a coisa funciona.

Quando foi observado que os habitantes da famosa Roseto, na Pensilvânia, se mostravam mais saudáveis, do ponto de vista cardiovascular, do que as pessoas das comunidades vizinhas, muito semelhantes à Roseto, em vários aspectos, isso não pôde ser atribuído a nenhum fator particular (genética, alimentação, exercícios físicos, atenção à saúde preventiva ou cuidados médicos), mas foi associado corretamente à comunidade. O mistério só foi resolvido quando dois pesquisadores (Stewart Wolf e John Bruhn) resolveram observar como as pessoas interagiam (“parando para conversar na rua ou cozinhando umas para as outras nos quintais”). “Elas eram saudáveis – conta Malcolm Gladwell (2008) no livro Outliers – por causa do lugar onde viviam, do mundo que haviam criado para si mesmas…”. Sim, interação e lugar. Em outras palavras, conversações e comunidade. Em outras palavras, ainda: rede social!

É claro que, a despeito do que foi dito aqui, ainda se pode afirmar que tudo se reduz, em última instância, à informação: em qualquer interação, em termos físicos, partículas mensageiras de um dos quatro campos de forças se “deslocaram”, se espalharam ou se aglomeraram (o simples fato de ver alguém, por exemplo, implica “deslocamentos” de bósons – no caso, de fótons, partículas mensageiras do campo eletromagnético) e isso pode, corretamente, ser interpretado como informação. Mas o significado da palavra informação – tal como é tomado no dia-a-dia ou mesmo como às vezes é usado pelos chamados “cientistas da informação” – não ajuda muito a entender os fenômenos que acontecem nas redes sociais e que lhes são próprios.

Mas por que as pessoas continuam achando que redes são tecnologias?

A grande novidade do tempo em que vivemos é o surgimento de uma sociedade em rede (que, de resto, sempre existiu desde que existem seres humanos em interação), ou a generalização do entendimento de que sociedade = rede social?

  • augustodefranco

    Vários comentário do participante Cassiano foram apagados por ele nesta e em várias outras threads. Ele tinha o direito de fazer isso, claro. No entanto, como estamos recolhendo os comentários para produzir o ebook do programa, muitos diálogos acabaram ficando sem sentido, justamente porque eram respostas às suas objeções e indagações. Estamos vendo como recuperar no DISQUS todos esses comentários que foram apagados, não para publicá-los com crédito para o autor e sim para poder dar sequência e tornar inteligíveis os diálogos encetados nos campos de comentários.

  • augustodefranco

    Aproveite para ler todos os textos provocativos até amanhã. Ainda estamos recolhendo material para elaborar o book, levando em conta as interações de todos. Teremos, além disso, as referências bibliográficas. E o hangout amanhã (11/11/15) às 19h. Vai ser na página: http://redes.org.br/25mitos-01-hangout/

  • Angela Tijiwa

    As redes sociais são lugares de encontro das pessoas. Nesse sentido, na medida em que é interessante habitá-las são ferramentas bacanas de comunicação aberta. Creio que é possível passar informações e “tendências” para quem se disponha a estudar as conversas, os fluxos e fazer mapeamentos. Agora, se dão condições científicas para entender a sociedade, isso é outro problema.

    • Fernando Baptista

      Angela, cuidado com a confusão entre rede social e mídia social! (mitos 1 e 2)

  • augustodefranco

    Para quem ainda não soube, o hangout previsto para hoje foi adiado para 11/11/2015. Veja mais informações na página http://redes.org.br/25mitos-0

  • Cilene Vieira

    Acredito que o entendimento sociedade = rede social nã está generaluzado ainda.
    Esse texto altera bastante a visão e o discurso acadêmico ou o prático dobre comunicação ou comunicação eficaz.
    Pelo que spresenta, toda informação, quando transmitida, tende a ter sua compreensão alterada. É isso mesmo?

    • augustodefranco

      Acho que não, Cilene. Não há informação transmitida na comunicação. A comunicação só acontece quando os sujeitos se modificam. É uma interação. E as interações não são instrutivas.

      • Cilene Vieira

        Difícil compreender, Augusto. Como ficam as propagandas, textos jornalísticos, livros, etc, que transmitem informação, mas têm pouca ou nenhuma interação com o “receptor”?

        • augustodefranco

          Sim, é um pouco difícil. Mas não impossível. Estamos falando da comunicação, que é sempre uma interação e não da difusão de mensagens a que você se referiu (broadcasting). Não é que a informação não seja relevante para o sujeito e sim que ela não pode determinar o comportamento do sistema enquanto não muda o comportamento do sujeito. Talvez o melhor exemplo seja mesmo o dar formigas, depois que a bióloga Deborah Gordon descobriu que não há nenhuma mensagem contida no contato e que a mensagem é o padrão de interação (quantas vezes elas se encontram, em quais circunstâncias etc). Assista este TED:

          http://escoladeredes.net/video/formigas-em-acao

  • ​Sou muito cético sobre analogias com animais: tendo a achar que nunca funcionam. Descarto as conclusões envolvendo as formigas; não me dizem muito. O motivo é que somos humanos. É engraçado, no texto transcrito os autores fazem uma conclusão forte, com a qual me alinho 100%: “O fenômeno da comunicação não depende do que se fornece, e sim do que acontece com o receptor.” Em seguida, parece que tudo, antes e depois, é contextualizado para *negar* essa premissa.

    Prefiro adotar o conceito como fundamento e não fugir dele: depende, sim, do receptor. E essa decisão pessoal tece todo o resto. A info que chega pela rede é analisada pessoalmente e adotada,descartada ou compartilhada, ou seja, passada adiante, segundo os interesses de quem move essa roda: nós mesmos, cada um, cada um. A info original vira uma nova info, com um novo contexto, ou não, caso a caso.

    A rede ajuda, é condição para o fluxo, mas não determina. Isso só fica claro quando incluo na equação a visão primordial de que somos classificadores natos, ou seja: a cognição entra na conversa e não sai mais. Quando se tira isso da mesa, só resta apelar para as forças “ocultas” da rede, como se ela tivesse a condição de impor a uniformidade de um formigueiro também nos formigueiros humanos. Mas não é bem assim. Se fosse, filhos não brigariam com os pais, pra ficar num exemplo bem social e totalmente milenar.

    Em resumo: discordo de construir uma teoria em que agimos como resultado de um padrão; parece-me que o padrão é que é resultado das nossas convicções, mas isso é diferente de tocar antenas entre si: nossa decisão vem antes, o padrão é o resultado disso e se plasma na sociedade primeiro com uma cultura e, depois, com a ideia de zeitgeist, o tal espírito de uma época.

    Felizmente, como somos humanos, mesmo nas épocas mais tenebrosas, mesmo quando a unanimidade era quase perfeita—seja numa Alemanha de Hitler, seja num Brasil de Lula— sempre havia, houve e haverá alguém dissonante, no passado, no presente e no futuro. No formigueiro, não: temos apenas a evolução e as sinergias das espécies. Por isso, não compro a ideia.

    • augustodefranco

      Não é analogia. Pessoas não são animais, embora o ser humano como uma espécie biológica seja um animal (Homo Sapiens). Mas a pessoa é um ente social (ou seja, já é rede). Não há aqui nenhum primário paralelo biologicista ou organicista. Não há nenhum deslizamento epistemológico. Não se quer inferir o comportamento de humanos a partir da observação do comportamento de formigas ou abelhas. O que há é o reconhecimento de que a fenomenologia da interação mantém invariâncias em qualquer rede, seja de seres não vivos, seja de seres vivos ou de seres sociais (isso que chamamos de humanos propriamente ditos, quer dizer, pessoas). O que você chama de cultura, por exemplo, Cassiano, é uma rede de conversações que mantém certas circularidades inerentes e por isso se conserva como tal (ou seja, conserva determinados comportamentos: a cultura é uma transmissão não-genética de comportamentos). Você não precisa comprar a ideia. Ela não está sendo vendida para você. É apenas uma evidência científica da investigação sobre redes: se redes não pudessem ser vistas como tais, ou seja, se não houvesse invariâncias em fenômenos observados em redes independentemente da natureza de seus nodos (sejam nanoquadrotors, células, formigas, estorninhos, lambarís, quadrúpedes e seres humanos) então não poderia ter nascido uma Nova Ciência das Redes (com estatuto de ciência mesma, no sentido hard do termo). O que não quer dizer que redes sociais (ou seja, redes de humanos) possam ser descritas da mesma maneira do que redes vivas (como um ecossistema, um organismo ou parte de um organismo) ou redes não-vivas (como um sistema termodinâmico.

      • Angela Tijiwa

        Obrigada, Augusto. Assim como o vídeo da Deborah Gordon, no EDx, isso foi muito esclarecedor.

    • Para falar sobre “decisão pessoal” e escolhas, Cassiano, precisamos entender o que é a pessoa.

      Não sei como, mas você derivou das conversas aqui uma visão muito determinista sobre redes, que ninguém aqui acredita.

      As redes não negam a liberdade. Ao contrário, reafirmam-na como característica fundamental da vida e da convivência humana.

      Quando dizermos que a pessoa já é rede não estamos dizendo que a pessoa espelhará a ordem social em que nasceu. Ao contrário, estamos dizendo que a forma básica de convivência humana é livre. A visão de rede não é coletivista: é interativista.

      Veja minha resposta ao seu comentário no Módulo 1, onde abordo essas questões.

      Abraço

      • Giovanni, minha derivação não veio das conversas, eu as trouxe comigo :)) Estão bem esclarecidas em posts espalhados aqui, como estamos online, isso vira fragmentos, nem sempre dá pra ligar os pontos na sequência em que escrevemos aqui, o resultado pode ser esse que vc apontou: vc não percebeu de onde vieram. Acontece, limitaçòes do meio. Quanto ao “determinismo” isso vai longe, não é bem assim, mas nem vou detalhar agora.

  • ​Sou muito cético sobre analogias com animais: tendo a achar que nunca funcionam. Descarto as conclusões envolvendo as formigas; não me dizem muito. O motivo é que somos humanos. É engraçado, no texto transcrito os autores fazem uma conclusão forte, com a qual me alinho 100%: “O fenômeno da comunicação não depende do que se fornece, e sim do que acontece com o receptor.” Em seguida, parece que tudo, antes e depois, é contextualizado para *negar* essa premissa.

    Prefiro adotar o conceito como fundamento e não fugir dele: depende, sim, do receptor. E essa decisão pessoal tece todo o resto. A info que chega pela rede é analisada pessoalmente e adotada,descartada ou compartilhada, ou seja, passada adiante, segundo os interesses de quem move essa roda: nós mesmos, cada um, cada um. A info original vira uma nova info, com um novo contexto, ou não, caso a caso.

    A rede ajuda, é condição para o fluxo, mas não determina. Isso só fica claro quando incluo na equação a visão primordial de que somos classificadores natos, ou seja: a cognição entra na conversa e não sai mais. Quando se tira isso da mesa, só resta apelar para as forças “ocultas” da rede, como se ela tivesse a condição de impor a uniformidade de um formigueiro também nos formigueiros humanos. Mas não é bem assim. Se fosse, filhos não brigariam com os pais, pra ficar num exemplo bem social e totalmente milenar.

    Em resumo: discordo de construir uma teoria em que agimos como resultado de um padrão; parece-me que o padrão é que é resultado das nossas convicções, mas isso é diferente de tocar antenas entre si: nossa decisão vem antes, o padrão é o resultado disso e se plasma na sociedade primeiro com uma cultura e, depois, com a ideia de zeitgeist, o tal espírito de uma época.

    Felizmente, como somos humanos, mesmo nas épocas mais tenebrosas, mesmo quando a unanimidade era quase perfeita—seja numa Alemanha de Hitler, seja num Brasil de Lula— sempre havia, houve e haverá alguém dissonante, no passado, no presente e no futuro. No formigueiro, não: temos apenas a evolução e as sinergias das espécies. Por isso, não compro a ideia.

    • augustodefranco

      Não é analogia. Pessoas não são animais, embora o ser humano como uma espécie biológica seja um animal (Homo Sapiens). Mas a pessoa é um ente social (ou seja, já é rede). Não há aqui nenhum primário paralelo biologicista ou organicista. Não há nenhum deslizamento epistemológico. Não se quer inferir o comportamento de humanos a partir da observação do comportamento de formigas ou abelhas. O que há é o reconhecimento de que a fenomenologia da interação mantém invariâncias em qualquer rede, seja de seres não vivos, seja de seres vivos ou de seres sociais (isso que chamamos de humanos propriamente ditos, quer dizer, pessoas). O que você chama de cultura, por exemplo, Cassiano, é uma rede de conversações que mantém certas circularidades inerentes e por isso se conserva como tal (ou seja, conserva determinados comportamentos: a cultura é uma transmissão não-genética de comportamentos). Você não precisa comprar a ideia. Ela não está sendo vendida para você. É apenas uma evidência científica da investigação sobre redes: se redes não pudessem ser vistas como tais, ou seja, se não houvesse invariâncias em fenômenos observados em redes independentemente da natureza de seus nodos (sejam nanoquadrotors, células, formigas, estorninhos, lambarís, quadrúpedes e seres humanos) então não poderia ter nascido uma Nova Ciência das Redes (com estatuto de ciência mesma, no sentido hard do termo). O que não quer dizer que redes sociais (ou seja, redes de humanos) possam ser descritas da mesma maneira do que redes vivas (como um ecossistema, um organismo ou parte de um organismo) ou redes não-vivas (como um sistema termodinâmico.

  • Talvez a sociedade não tivesse – ou até mesmo ainda não tenha – consciência de que funciona em rede e de que cada um exerce papeis importantes como nodo de redes variadas. Sob esse ponto de vista, faz sentido a possibilidade de termos nos percebido como redes após a ocorrência das redes sociais digitais, simplesmente por essas terem suas peculiaridades de velocidade e agilidade que ainda impressionam – ainda que as redes sociais nas quais nos organizamos há milênios sejam ainda mais complexas e impressionantes, uma vez que têm transformado e comunicado culturas e sociedades há milênios usando de mídias menos velozes e menos automatizadas.

  • Talvez a sociedade não tivesse – ou até mesmo ainda não tenha – consciência de que funciona em rede e de que cada um exerce papeis importantes como nodo de redes variadas. Sob esse ponto de vista, faz sentido a possibilidade de termos nos percebido como redes após a ocorrência das redes sociais digitais, simplesmente por essas terem suas peculiaridades de velocidade e agilidade que ainda impressionam – ainda que as redes sociais nas quais nos organizamos há milênios sejam ainda mais complexas e impressionantes, uma vez que têm transformado e comunicado culturas e sociedades há milênios usando de mídias menos velozes e menos automatizadas.

  • Hudson Freitas

    Desde, principalmente, o iluminismo (positivismo científico e filosófico), tendemos a nos separar como sendo “seres racionais” do resto dos seres (vivos ou não). Criou-se a crença de que haveria uma “racionalidade abstrata”, manifestada em cada indivíduo. E cada indivíduo seria, assim, capaz de se utilizar de sua “racionalidade”, como uma “ferramenta” que permitiria “conhecer” os objetos, as coisas, os seres, inclusive a si mesmo e aos demais seres-humanos. O “método científico (moderno)” se tornou a única referência de “verdades” objetivas, empíricas. Haveria, assim, sempre um método científico, seja o das ciência da natureza, seja o das ciências do espírito (para usar aqui Dilthey). Com isso, a própria linguagem vem sendo compreendida como um “instrumento” usado para se transmitir informações, conceitos, conhecimentos, pensamentos. Nessa linha, os desenvolvimentos tecnológicos e aparatos tecnológicos (desde os sinais de fumaça, placas, cartas, telegramas, telefone, fax, e-mails, mensagens por celular, facebook, whats’up e etc…) vem também sendo compreendidos como instrumentos que, como extensões tecnológicas da linguagem, são usados para se transmitir conhecimento, informação. Assim, tanto o método (seja o de “produção” científica, seja o de utilização de aparatos tecnológicos) vem sendo utilizado para que as “comunicações de conteúdos, de informações” sejam cada vez mais rápida, eficiente e a mais e mais pessoas efetuadas. Como essas tecnologias encurtam as noções de “tempo e espaço” e permitem a transmissão de informações a milhares de pessoas em tempo real, essa simples troca/transmissão de informação entre tantas pessoas vem sendo confundida como sendo “redes de informação” e, como se dão entre pessoas, como “redes sociais”. Mas a linguagem não é somente um instrumento de transmissão de informações. Ao contrário, a linguagem é elemento humano que nos tornam seres intersubjetivos em interação! A linguagem é constitutiva do ser (parafraseando Heidegger). E o método? Bom, é importante quando realmente queremos realmente obter um dado resultado previamente determinado! Ou seja, o método se presta a se utilizar de forma prática e útil de conhecimentos e técnicas preestabelecidas (um dado paradigma vigente que ainda se apresenta útil) e com fins e resultados previamente esperados e predeterminados. A interação (livre), ao contrário, como elemento constitutivo do ser humano, da pessoa humana, não se dá enclausurado em um método (científico, positivista, determinista). A interação se dá no fluxo livre, no não-método. E é assim que o humano se move, na e pela linguagem, intersubjetivamente, aprendendo (a aprendizagem tipicamente humana) e, não, somente apreendendo. Só em livre interação é que há inovação, descobertas, novidades, e, assim, verdadeira aprendizagem. E a interação ocorre em e na rede, a verdadeira e única rede social: formada por pessoas, seres humanos, interagindo o mais livremente e espontaneamente possível. E isso sempre existiu, ou seja, as redes sociais (humanos, pessoas em interação, em fluxo, em intersubjetividade linguística) sempre existiram (desde que existem os seres humanos). O que as novas tecnologias fazem é evidenciar, escancarar, em escala global, essa fenomenologia da interatividade humana: a rede social!

    • augustodefranco

      Exato!

    • Gilberto Prestes

      Perfeito Hudson! Neste módulo, especialmente, vale muito lembrar que a cultura e o aprendizado se deram (e ainda o são) principalmente pela linguagem oral, na interação livre, sem atentar para qualquer método. É na oralidade que se dá vazão às emoções, sentimentos, gestos, expressões faciais e corporais. Essa racionalização do método científico, que bem apontas, se dá especialmente na linguagem escrita, que é muito pobre em relação à oralidade. Não é por outro motivo que há o depoimento pessoal da parte nos processos de família e trabalhista; bem como do réu na ação penal, onde se pode aferir com grande precisão “as verdades” que a escrita não descreve. Também o é na atividade política, onde o discurso se dá na oralidade. São tantas as comunicações que não se dão pela escrita, que me é impossível enumerar. Com maestria dissestes que as redes sociais são “pessoas em interação, em fluxo, em intersubjetividade linguística”, que achei excelente!

      • Hudson Freitas

        Legal Gilberto! Estamos em sintonia nessa “onda”, então, meu caro amigo! Continuemos caminhando!

  • Hudson Freitas

    Desde, principalmente, o iluminismo (positivismo científico e filosófico), tendemos a nos separar como sendo “seres racionais” do resto dos seres (vivos ou não). Criou-se a crença de que haveria uma “racionalidade abstrata”, manifestada em cada indivíduo. E cada indivíduo seria, assim, capaz de se utilizar de sua “racionalidade”, como uma “ferramenta” que permitiria “conhecer” os objetos, as coisas, os seres, inclusive a si mesmo e aos demais seres-humanos. O “método científico (moderno)” se tornou a única referência de “verdades” objetivas, empíricas. Haveria, assim, sempre um método científico, seja o das ciência da natureza, seja o das ciências do espírito (para usar aqui Dilthey). Com isso, a própria linguagem vem sendo compreendida como um “instrumento” usado para se transmitir informações, conceitos, conhecimentos, pensamentos. Nessa linha, os desenvolvimentos tecnológicos e aparatos tecnológicos (desde os sinais de fumaça, placas, cartas, telegramas, telefone, fax, e-mails, mensagens por celular, facebook, whats’up e etc…) vem também sendo compreendidos como instrumentos que, como extensões tecnológicas da linguagem, são usados para se transmitir conhecimento, informação. Assim, tanto o método (seja o de “produção” científica, seja o de utilização de aparatos tecnológicos) vem sendo utilizado para que as “comunicações de conteúdos, de informações” sejam cada vez mais rápida, eficiente e a mais e mais pessoas efetuadas. Como essas tecnologias encurtam as noções de “tempo e espaço” e permitem a transmissão de informações a milhares de pessoas em tempo real, essa simples troca/transmissão de informação entre tantas pessoas vem sendo confundida como sendo “redes de informação” e, como se dão entre pessoas, como “redes sociais”. Mas a linguagem não é somente um instrumento de transmissão de informações. Ao contrário, a linguagem é elemento humano que nos tornam seres intersubjetivos em interação! A linguagem é constitutiva do ser (parafraseando Heidegger). E o método? Bom, é importante quando realmente queremos realmente obter um dado resultado previamente determinado! Ou seja, o método se presta a se utilizar de forma prática e útil de conhecimentos e técnicas preestabelecidas (um dado paradigma vigente que ainda se apresenta útil) e com fins e resultados previamente esperados e predeterminados. A interação (livre), ao contrário, como elemento constitutivo do ser humano, da pessoa humana, não se dá enclausurado em um método (científico, positivista, determinista). A interação se dá no fluxo livre, no não-método. E é assim que o humano se move, na e pela linguagem, intersubjetivamente, aprendendo (a aprendizagem tipicamente humana) e, não, somente apreendendo. Só em livre interação é que há inovação, descobertas, novidades, e, assim, verdadeira aprendizagem. E a interação ocorre em e na rede, a verdadeira e única rede social: formada por pessoas, seres humanos, interagindo o mais livremente e espontaneamente possível. E isso sempre existiu, ou seja, as redes sociais (humanos, pessoas em interação, em fluxo, em intersubjetividade linguística) sempre existiram (desde que existem os seres humanos). O que as novas tecnologias fazem é evidenciar, escancarar, em escala global, essa fenomenologia da interatividade humana: a rede social!

    • augustodefranco

      Exato!

    • Gilberto Prestes

      Perfeito Hudson! Neste módulo, especialmente, vale muito lembrar que a cultura e o aprendizado se deram (e ainda o são) principalmente pela linguagem oral, na interação livre, sem atentar para qualquer método. É na oralidade que se dá vazão às emoções, sentimentos, gestos, expressões faciais e corporais. Essa racionalização do método científico, que bem apontas, se dá especialmente na linguagem escrita, que é muito pobre em relação à oralidade. Não é por outro motivo que há o depoimento pessoal da parte nos processos de família e trabalhista; bem como do réu na ação penal, onde se pode aferir com grande precisão “as verdades” que a escrita não descreve. Também o é na atividade política, onde o discurso se dá na oralidade. São tantas as comunicações que não se dão pela escrita, que me é impossível enumerar. Com maestria dissestes que as redes sociais são “pessoas em interação, em fluxo, em intersubjetividade linguística”, que achei excelente!

      • Hudson Freitas

        Legal Gilberto! Estamos em sintonia nessa “onda”, então, meu caro amigo! Continuemos caminhando!

  • Marcia Borges

    Para mim as próprias terminologias e suas definições contextualizadas geram os entendimentos diversos. E também acho que alguns tem uma relação ambigua com o termo “artificialização das relações” como se o fato de usarmos tecnologias nos deixassem menos ou mais “naturais”. Me lembrei disso em função do livro “Reconhecimento de Padrões” do Gibson.

  • Marcia

    Para mim as próprias terminologias e suas definições contextualizadas geram os entendimentos diversos. E também acho que alguns tem uma relação ambigua com o termo “artificialização das relações” como se o fato de usarmos tecnologias nos deixassem menos ou mais “naturais”. Me lembrei disso em função do livro “Reconhecimento de Padrões” do Gibson.

  • Fernando Lasman

    essa questao da associaçao das redes a tecnologias me parece muito com os modulos 1 e 2, que tratavam da associaçao indevida entre redes e internet, e redes e midias sociais.

    continuo sustentado que as pessoas, em sua maioria, nao concebem o termo redes como uma forma de organizaçao social. apenas seguem o fluxo, e usam redes sociais com o significado de tecnologias que permitem a socializaçao/interaçao.

    o texto traz um esclarecimento quanto a comunicaçao e a informaçao em relaçao ao estudo de redes. gostei da perspectiva do acoplamento estrutural e da constataçao de que nao ha mensagem transmitida, de fato, entre as pessoas, mas uma muda com a outra de acordo com suas estruturas. muito interessante.

    talvez fosse legal, para visualizar as diferentes manifestaçoes fenomenologicas numa rede, um software que simule uma rede a partir de imputs que pudessem ser modificados, para percebermos e podermos avaliar mais concretamente a relaçao entre a variaçao no modo de interaçao e na organizaçao da rede com a sua fenomenologia. algo assim, que desse para manipular uma rede simulada. alguem sabe de algum programa ja existente nesse molde? talvez ja usado na ARS?

  • Fernando Lasman

    essa questao da associaçao das redes a tecnologias me parece muito com os modulos 1 e 2, que tratavam da associaçao indevida entre redes e internet, e redes e midias sociais.

    continuo sustentado que as pessoas, em sua maioria, nao concebem o termo redes como uma forma de organizaçao social. apenas seguem o fluxo, e usam redes sociais com o significado de tecnologias que permitem a socializaçao/interaçao.

    o texto traz um esclarecimento quanto a comunicaçao e a informaçao em relaçao ao estudo de redes. gostei da perspectiva do acoplamento estrutural e da constataçao de que nao ha mensagem transmitida, de fato, entre as pessoas, mas uma muda com a outra de acordo com suas estruturas. muito interessante.

    talvez fosse legal, para visualizar as diferentes manifestaçoes fenomenologicas numa rede, um software que simule uma rede a partir de imputs que pudessem ser modificados, para percebermos e podermos avaliar mais concretamente a relaçao entre a variaçao no modo de interaçao e na organizaçao da rede com a sua fenomenologia. algo assim, que desse para manipular uma rede simulada. alguem sabe de algum programa ja existente nesse molde? talvez ja usado na ARS?

  • Rafael Ferreira

    Volto numa questão que fiz no facebook sobre o fenômeno que acontece com formigas que perdem o rastro de casa e ficam girando em círculos, atrás do rastro que deixaram há pouco. No caso, há um padrão que as fazem agir daquela maneira, e as informações (rastros) são inúteis. Remete também a um questionamento feito sobre os resultados serem bons ou ruins feitos no módulo 4, dado que as formigas estarão circulando ali até a morte.
    Deixo a fonte da matéria:
    http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/curiosidade-animal/formigas-correicao-circulo-da-morte-verdade-ou-mito/

    • augustodefranco

      Teríamos que conversar com a Deborah Gordon sobre isso Rafael. Não se sabe o que é “perder o rastro de casa” para as formigas. E nem se sabe o que é morte.

      • Rafael Ferreira

        Acho que precisaria entender melhor de formigas, rs, mas no caso o que foi importante para elas agirem daquele jeito foi a sincronicidade, certo? E essa sincronicidade independe das ‘informações’, certo?
        A morte é um conceito humano, as formigas não o conhecem, e por trás da abordagem da matéria, e minha também, talvez haja uma concepção de evolução baseada na preservação da espécie. Daí provavelmente decorra o espanto em tentar entender o significado de uma ação que leva ao desaparecimento físico daqueles elementos da espécie.

      • Rafael Ferreira
  • Rafael Ferreira

    Volto numa questão que fiz no facebook sobre o fenômeno que acontece com formigas que perdem o rastro de casa e ficam girando em círculos, atrás do rastro que deixaram há pouco. No caso, há um padrão que as fazem agir daquela maneira, e as informações (rastros) são inúteis. Remete também a um questionamento feito sobre os resultados serem bons ou ruins feitos no módulo 4, dado que as formigas estarão circulando ali até a morte.
    Deixo a fonte da matéria:
    http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/curiosidade-animal/formigas-correicao-circulo-da-morte-verdade-ou-mito/

    • augustodefranco

      Teríamos que conversar com a Deborah Gordon sobre isso Rafael. Não se sabe o que é “perder o rastro de casa” para as formigas. E nem se sabe o que é morte.

      • Rafael Ferreira

        Acho que precisaria entender melhor de formigas, rs, mas no caso o que foi importante para elas agirem daquele jeito foi a sincronicidade, certo? E essa sincronicidade independe das ‘informações’, certo?
        A morte é um conceito humano, as formigas não o conhecem, e por trás da abordagem da matéria, e minha também, talvez haja uma concepção de evolução baseada na preservação da espécie. Daí provavelmente decorra o espanto em tentar entender o significado de uma ação que leva ao desaparecimento físico daqueles elementos da espécie.

      • Rafael Ferreira
  • Marcelo Yamada

    Há pesquisas que indiquem que os membros da sociedade em sua maioria acreditam que as organizações em rede e as sociedades são as redes sociais? Me parece que mesmo entre pessoas muito simples há um entendimento claro de que elas estão no Facebook pelas pessoas (que conheceram no passado ou que passam a conhecer por alguma identidade na própria rede social) e não pela tecnologia.

  • Marcelo Yamada

    Há pesquisas que indiquem que os membros da sociedade em sua maioria acreditam que as organizações em rede e as sociedades são as redes sociais? Me parece que mesmo entre pessoas muito simples há um entendimento claro de que elas estão no Facebook pelas pessoas (que conheceram no passado ou que passam a conhecer por alguma identidade na própria rede social) e não pela tecnologia.

  • Jacques Schwarzstein

    Com relação à segunda pergunta, acho interessante refletir sobre o “surgimento” de algo que “sempre existiu”. O que fico achando é que as tecnologias que estão sendo chamadas de “redes sociais” porque agregaram tanto valor à “sociedade em rede” que sempre existiu, que o que acaba predominando é o entendimento de que algo novo surgiu, que não havia antes. Me parece ser bem possível que a generalização do entendimento de “sociedade = rede social”, só tenha ocorrido por conta do surgimento dessas tecnologias e do uso que se tem feito delas. Do ponto de vista de quem controla os sistemas e deseja controlar o universo pode ser uma externalidade negativa.

    • Fernando Baptista

      Concordo, Jacques, pois o controle passa necessariamente pelo bloqueio de possíveis conexões e caminhos… com mais caminhos, fica muito mais difícil controlar.

      • Valdete de Assis

        Olá pessoal, concordo com vocês, Fernando e Jacques, particularmente sobre a
        questão do controle. Se a rede social é um processo interativo construído pelos
        nodos, certamente, com muitos caminhos e saídas como a nossa vida. Entendo se convivemos em rede social com as pessoas em processo de interação, portanto fazemos parte dela como construtores e, assim, somos responsáveis por essa construção através das interações. Nesse contexto de análise reflexiva vejo as interações como atividade fim e as tics como atividades meio. É o que penso.

  • Jacques Schwarzstein

    Com relação à segunda pergunta, acho interessante refletir sobre o “surgimento” de algo que “sempre existiu”. O que fico achando é que as tecnologias que estão sendo chamadas de “redes sociais” agregaram tanto valor à sociedade em rede que sempre existiu, que o que acaba predominando é o entendimento de que algo novo surgiu que não havia antes. Me parece ser bem possível que a generalização do entendimento de “sociedade = rede social”, só tenha ocorrido por conta do surgimento dessas tecnologias e do uso que se tem feito delas. Do ponto de vista de quem controla os sistemas e deseja controlar o universo pode ser uma externalidade negativa.

    • Fernando Baptista

      Concordo, Jacques, pois o controle passa necessariamente pelo bloqueio de possíveis conexões e caminhos… com mais caminhos, fica muito mais difícil controlar.

      • Valdete de Assis

        Olá pessoal, concordo com vocês, Fernando e Jacques, particularmente sobre a
        questão do controle. Se a rede social é um processo interativo construído pelos
        nodos, certamente, com muitos caminhos e saídas como a nossa vida. Entendo se convivemos em rede social com as pessoas em processo de interação, portanto fazemos parte dela como construtores e, assim, somos responsáveis por essa construção através das interações. Nesse contexto de análise reflexiva vejo as interações como atividade fim e as tics como atividades meio. É o que penso.

  • Jacques Schwarzstein

    Mil respostas são possíveis, para a primeira pergunta: Por exemplo: .1) Porque os gestores “donos” das tecnologias as vendem ao público como sendo redes sócias, do mesmo jeito que um produtor vende sua margarina dizendo que ela é sinônimo de saúde? 2) Porque a diferenciação entre essas duas coisas não é importante para “as pessoas” e elas nem se preocupam, nem matutam sobre isso. Porque a questão é importante para nós, mas não é para elas? 3) Porque a estrutura física (cabeada ou não) que viabiliza o feici, é, de fato, uma rede com bom potencial de “distribuição” onde cada bodo pode – a rigor – interagir -m que seja indiretamente – com cada um dos demais? 4) Porque a vivência que as pessoas estão tendo de interação interpessoal em rede está sendo frustrante e insatisfatória e porque encontram nas interações viabilizadas pela internet algo que não encontram no dia-a-dia familiar, de trabalho e lazer? 5) Porque a “vida em rede” foi naturalizada e não é mais percebida como tal? 6) Porque as chamadas redes sociais (feici, tuiter, etc…) transmitem, de fato (como bem diz o texto) muito mais que pura informação e permitem, de fato, interações subjetivas e emocionais que marcam e transformam as pessoas? Acho que, em alguma medida, todas essas respostas são corretas e acho que deve haver muitas outras.

  • Jacques Schwarzstein

    Mil respostas são possíveis, para a primeira pergunta: Por exemplo: .1) Porque os gestores “donos” das tecnologias as vendem ao público como sendo redes sócias, do mesmo jeito que um produtor vende sua margarina dizendo que ela é sinônimo de saúde? 2) Porque a diferenciação entre essas duas coisas não é importante para “as pessoas” e elas nem se preocupam, nem matutam sobre isso. Porque a questão é importante para nós, mas não é para elas? 3) Porque a estrutura física (cabeada ou não) que viabiliza o feici, é, de fato, uma rede com bom potencial de “distribuição” onde cada ponto pode – a rigor – interagir -m que seja indiretamente – com cada um dos demais? 4) Porque a vivência que as pessoas estão tendo de interação interpessoal em rede está sendo frustrante e insatisfatória e porque encontram nas interações viabilizadas pela internet algo que não encontram no dia-a-dia familiar, de trabalho e lazer? 5) Porque a “vida em rede” foi naturalizada e não é mais percebida como tal? 6) Porque as chamadas redes sociais (feici, tuiter, etc…) transmitem, de fato (como bem diz o texto) muito mais que pura informação e permitem, de fato, interações subjetivas e emocionais que marcam e transformam as pessoas? Acho que, em alguma medida, todas essas respostas são corretas e acho que deve haver muitas outras.

  • Fatima Melca

    Na stigmergia temos que a comunicação se dá pelo ambiente. Me confundo quando leio que o rastro deixado pelos ferormonios passa a informação. Esse rastro, algo quimico deixado no caminho , me soa como uma informação, pronta para ser seguida. Mas tudo que leio, me leva a pensar que a comunicação envolve algo mais que este rastro . Rastro é algo direto, algo dado, que está ali para ser seguido e pronto. Igual em João e Maria: siga este rastro e você chegara lá… Percebo a comunicação como algo do ambiente, algo indireto, algo que me faz agir mais pela intuição, algo que desenvolvo, que construo com o ambiente, ima produção, uma emergencia. Tipo: é assim porque é. Vocês podem me ajudar a formular isso?

    • augustodefranco

      Sim, também penso que o efeito é sistêmico e tem a ver com a configuração do ambiente e não com mensagens emitidas-recebidas pelos nodos.

      • Fatima Melca

        Obrigada Augusto.

        • O PADRÃO É A MENSAGEM

          Fatima (e pessoal), pra entender a referência do texto sobre a comunicação da formigas você pode ler o livro indicado, ou ver esse vídeo:

          https://www.ted.com/talks/deborah_gordon_digs_ants?language=pt-br

          Nele, a Deborah Gordon explicita bastante bem essa ideias de que as formigas não estão seguindo transferência de informações: elas mudam seu comportamento pelo padrão de mensagem que recebem.

          Vale a pena ver! 🙂

          (Lembrem de ativar as legendas em português)

  • Fatima Melca

    Na stigmergia temos que a comunicação se dá pelo ambiente. Me confundo quando leio que o rastro deixado pelos ferormonios passa a informação. Esse rastro, algo quimico deixado no caminho , me soa como uma informação, pronta para ser seguida. Mas tudo que leio, me leva a pensar que a comunicação envolve algo mais que este rastro . Rastro é algo direto, algo dado, que está ali para ser seguido e pronto. Igual em João e Maria: siga este rastro e você chegara lá… Percebo a comunicação como algo do ambiente, algo indireto, algo que me faz agir mais pela intuição, algo que desenvolvo, que construo com o ambiente, ima produção, uma emergencia. Tipo: é assim porque é. Vocês podem me ajudar a formular isso?

    • augustodefranco

      Sim, também penso que o efeito é sistêmico e tem a ver com a configuração do ambiente e não com mensagens emitidas-recebidas pelos nodos.

      • Fatima Melca

        Obrigada Augusto.

        • O PADRÃO É A MENSAGEM

          Fatima (e pessoal), pra entender a referência do texto sobre a comunicação da formigas você pode ler o livro indicado, ou ver esse vídeo:

          https://www.ted.com/talks/deborah_gordon_digs_ants?language=pt-br

          Nele, a Deborah Gordon explicita bastante bem essa ideias de que as formigas não estão seguindo transferência de informações: elas mudam seu comportamento pelo padrão de mensagem que recebem.

          Vale a pena ver! 🙂

          (Lembrem de ativar as legendas em português)

          • Fatima Melca

            Giovanni, Obrigada pelo vídeo. Vou assistir o video. Mas qual foi o livro indicado?

          • augustodefranco

            Acho que foi o Formigas em Ação, da Deborah Gordon, não Giovanni?

          • Fatima Melca

            Obrigada Augusto.

          • Sim

  • guilherme witte

    Estou lendo o livro O Mapa Fantasma de Seteven Johnson sobre o surto de cólera (o maior de todos…) na Londres Vitoriana. E a busca pela verdadeira forma de transmissão da coléra passou pelo entendimento como as redes sociais funcionavam. Como eram as interações q influenciavam no comportamento dos habitantes dos bairros. Postando aqui, no Módulo 5, me veio uma idéia em relação ao Módulo 4. A interação é! A participação pode ser…

  • guilherme witte

    Estou lendo o livro O Mapa Fantasma de Seteven Johnson sobre o surto de cólera (o maior de todos…) na Londres Vitoriana. E a busca pela verdadeira forma de transmissão da coléra passou pelo entendimento como as redes sociais funcionavam. Como eram as interações q influenciavam no comportamento dos habitantes dos bairros. Postando aqui, no Módulo 5, me veio uma idéia em relação ao Módulo 4. A interação é! A participação pode ser…

  • Cris Kruel

    A “rede parece a tecnologia” por que a digitalização está mudando tudo. Acho que estas associações são comuns, e não sempre precisam criar desconforto. As pessoas parecem inteligentes listando ou cintando os livros que leram.

  • Cris Kruel

    Esta reflexão me fez pensar: Quantos nodos precisamos para criar uma rede? Quão distribuída consegue ser a rede de uma família que vive na mesma casa; de uma turma de formandos após 20 anos que vivem em diversas cidades; ou de 1 bilhão de pessoas?

    Acho que confusão da rede com a tecnologia que viabiliza e catapulta a rede e seu poder além dela, é natural dos tempos que vivemos, onde a tecnologia digital está mudando tudo. Tecnologia não faz mal as redes, pelo contrário, está fazendo muito bem.

    • augustodefranco

      Sim, as tecnologias interativas (não-broadcasting) e em tempo real (ou sem-distância) aumentaram incrivelmente a interatividade (e isso pode ser entendido como “fazer bem às redes”). Mas elas não inventaram a interação, somente a aceleraram (aumentaram as possibilidades e encurtaram as linhas temporais). Quanto à sua primeira pergunta, penso que uma rede existe a partir de três nodos (porque há possibilidade de mais de um caminho e redes são múltiplos caminhos).

      • Simone M Almeida

        Cris e Augusto, também concordo com a questão de que as tecnologias digitais, interativas, somente aumentaram, potencializaram, algo que já existia. A tecnologia, na minha opinião, veio para facilitar as interações entre as redes (ou entre os participantes de uma rede, seja ela qual for), mas o uso que cada um fará dela é uma outra questão… Nem sempre algo que surgiu para ser benéfico sempre o será. Uma medicação, por exemplo, se usada de forma errada ou com a intenção errada, pode levar à morte. O mesmo podemos dizer que acontece nas mídias sociais, onde temos casos de pessoas fazendo uso pedagógico e outras se passando por pessoas que não são.

        • Thiago Padovan

          Simone, me chamou atenção um pedaço de seu comentário.
          “A tecnologia, na minha opinião, veio para facilitar as interações entre as redes (ou entre os participantes de uma rede, seja ela qual for)”
          Vejo que não existe os participantes de uma rede, ou interação entre redes, pois nós somos a rede. Não consigo ver como eu posso fazer parte de uma rede e não de outra, por exemplo.
          Eu posso estar interagindo mais com alguns nodos e não com outros, mas somos a rede como um todo.
          Estou notando alguns comentários sobre essa confusão entre grupos x redes.

  • Cris Kruel

    A “rede parece a tecnologia” por que a digitalização está mudando tudo. Acho que estas associações são comuns, e não sempre precisam criar desconforto. As pessoas parecem inteligentes listando ou cintando os livros que leram.

  • Cris Kruel

    Esta reflexão me fez pensar: Quantos nodos precisamos para criar uma rede? Quão distribuída consegue ser a rede de uma família que vive na mesma casa; de uma turma de formandos após 20 anos que vivem em diversas cidades; ou de 1 bilhão de pessoas?

    Acho que confusão da rede com a tecnologia que viabiliza e catapulta a rede e seu poder além dela, é natural dos tempos que vivemos, onde a tecnologia digital está mudando tudo. Tecnologia não faz mal as redes, pelo contrário, está fazendo muito bem.

    • augustodefranco

      Sim, as tecnologias interativas (não-broadcasting) e em tempo real (ou sem-distância) aumentaram incrivelmente a interatividade (e isso pode ser entendido como “fazer bem às redes”). Mas elas não inventaram a interação, somente a aceleraram (aumentaram as possibilidades e encurtaram as linhas temporais). Quanto à sua primeira pergunta, penso que uma rede existe a partir de três nodos (porque há possibilidade de mais de um caminho e redes são múltiplos caminhos).

      • Simone M Almeida

        Cris e Augusto, também concordo com a questão de que as tecnologias digitais, interativas, somente aumentaram, potencializaram, algo que já existia. A tecnologia, na minha opinião, veio para facilitar as interações entre as redes (ou entre os participantes de uma rede, seja ela qual for), mas o uso que cada um fará dela é uma outra questão… Nem sempre algo que surgiu para ser benéfico sempre o será. Uma medicação, por exemplo, se usada de forma errada ou com a intenção errada, pode levar à morte. O mesmo podemos dizer que acontece nas mídias sociais, onde temos casos de pessoas fazendo uso pedagógico e outras se passando por pessoas que não são.

        • Thiago Padovan

          Simone, me chamou atenção um pedaço de seu comentário.
          “A tecnologia, na minha opinião, veio para facilitar as interações entre as redes (ou entre os participantes de uma rede, seja ela qual for)”
          Vejo que não existe os participantes de uma rede, ou interação entre redes, pois nós somos a rede. Não consigo ver como eu posso fazer parte de uma rede e não de outra, por exemplo.
          Eu posso estar interagindo mais com alguns nodos e não com outros, mas somos a rede como um todo.
          Estou notando alguns comentários sobre essa confusão entre grupos x redes.

          • Luciana

            Sense8