O que você precisa saber sobre redes | Módulo 8

Módulo 8

Atenção: você vai ler abaixo um texto provocativo, elaborado para estimular a conversação. Você não precisa concordar necessariamente com o conteúdo do texto provocativo e sim ficar atento às suas indagações. Todas as referências bibliográficas serão fornecidas oportunamente.

Esta é outra crença esquisita que remanesce em alguns meios. Afinal, rede é um padrão de organização ou uma irmandade imbuída de propósitos caritativos?

A confusão é comum. Como as redes distribuídas são ambientes favoráveis à cooperação, as pessoas pensam que isso acontece porque as pessoas que se organizam em rede são cooperativas. Mas a cooperação em uma rede distribuída acontece porque - não havendo condições de alguém mandar nos outros - a única forma de fazer alguma coisa conjunta é co-operando (operando junto; ou co-laborando: trabalhando junto). A cooperação é assim um atributo da forma como nos organizamos e não um resultado da atividade de uma congregação de anjos. Demônios organizados em uma rede (mais distribuída do que centralizada) serão compelidos a colaborar ou não poderão fazer nada com outros (sejam, estes outros, anjos ou demônios).

É claro que a cooperação não pode ser comprada (enquanto que a operação de muitos, coordenada top down, pode: do contrário não se poderia fazer uma empresa tradicional). Talvez por isso algumas pessoas pensem que em rede tudo deve ser gratuito. A cooperação é gratuita, mas o trabalho (ou o esforço empreendido) não necessariamente (do contrário não seria possível empreender em rede e viver disso).

Em meios onde há abundância de caminhos vigora uma espécie de ecologia da dádiva no lugar da economia da escassez (na exata medida em que menos escassez é produzida). Mas isso não significa que as utilidades produzidas ou os serviços prestados por uma rede devam ser gratuitos. Sobretudo se essa rede (mais distribuída do que centralizada) está em um mundo cujas organizações são mais centralizadas do que distribuídas. Nestas circunstâncias, uma doação não voltará em dobro (nem mesmo integralmente) para o doador por efeito "ecológico": parte dela - mesmo que não seja apropriada por alguém - será consumida pelos custos de transação, pelo atrito de gestão e pelos custos de sinergia. As trocas e o comércio, os preços e a venda de produtos e serviços, são necessários na medida do grau de distribuição das redes internas e externas envolvidas na operação. Uma pessoa que produz ou presta serviços em rede distribuída com outras pessoas não conseguirá argumentar, com o dono do supermercado ou com o gerente do banco, que deverá adquirir gratuitamente (ou na base da troca) alimentos para sua sobrevivência ou tomar crédito sem garantias reais e sem taxas de juros para seus empreendimentos, porque tudo que faz é gratuito. Essa pessoa morrerá de fome, a menos que viva numa comunidade de subsistência autossuficiente (que não precise de recursos, inclusive de crédito, do mundo exterior).

Esse tipo de argumentação - de que em rede tudo deve ser gratuito - não raro é feita por quem não precisa vender nada para sobreviver, seja porque vive de rendas ou é sustentado por alguém, seja porque faz rede como um hobby, depois do expediente (e sua sobrevivência é garantida por um empreendimento hierárquico ou por um salário recebido de uma organização hierárquica). Ou não?

  • Hudson Freitas

    Não faz o menos sentido, em termos de rede social (a real, a formada por pessoas humanas), se falar que não podem serviços ou produtos ofertados, fruto do esforço e trabalho, ser remunerados. A base fundamental de qualquer rede social está na interatividade entre as pessoas, e o alicerce disso é a liberdade! Daí falar-se em livre interação. Daí se compreende o fato de que quanto mais distribuída a rede, mais interação livre e, ao contrário, quanto menos distribuída, ou seja, quanto mais centralizada, menos interação livre. Essa lógica está na raiz do livre mercado, ou seja, esta forma econômica de se mover na rede e, quanto mais distribuída a rede, mais liberdade econômica, mais livre mercado, também haverá (lembrando que livre mercado, aqui, não tem nada que ver com ideologia capitalista ou liberalismo econômico). Assim, quem oferece um serviço ou um produto, ou ambos, nesse fluxo interativo permeado pela liberdade, terá a oportunidade de ter pessoas interessadas e que queiram, também livremente, se mover nessa direção e adquirir tais serviços e produtos. Mais uma vez, a chave está na liberdade.

  • augustodefranco

    Aproveite hoje e amanhã para ver tudo que falta. Ainda estamos recolhendo material para elaborar o book, levando em conta as interações de todos. Teremos, além disso, as referências bibliográficas. E o hangout amanhã (11/11/15) às 19h. Vai ser na página: http://redes.org.br/25mitos-01-hangout/

  • augustodefranco

    O hangout final do programa, previsto para hoje, foi adiado para 11/11/2015. Veja mais informações na página http://redes.org.br/25mitos-0

  • Marcia Borges

    Uma dúvida:As interações não seriam uma forma de eliminar as barreiras que impedem a possibilidades outras que não imaginamos para ter acesso ao que precisamos.? Fiquei pensando agora que as interações geram um “mercado de acasos” (ok, para algumas pessoas não é tão acaso assim) que permitem “acesso” ao que precisamos. O valor /preço pode ir de R$0 a ???, mas não teria uma característica de “poder, possibilidade”? Sei lá fiquei pensando no dia que um senhor me abordou no ponto de onibus, e por conta do meu uniforme, me pediu para entregar o currículo dele no RH da empresa. Eu peguei, entreguei ,e o cara foi contratado e era muito bom. Isso seria interação com valor comercial também? Pensando aqui e agora talvez a malha gere tantos valores intangíveis a partir da ” comercializações que podem acontecer dentro da rede” que precisamos de tempo para enxergar essas dinâmicas.

  • Marcia

    Uma dúvida:As interações não seriam uma forma de eliminar as barreiras que impedem a possibilidades outras que não imaginamos para ter acesso ao que precisamos.? Fiquei pensando agora que as interações geram um “mercado de acasos” (ok, para algumas pessoas não é tão acaso assim) que permitem “acesso” ao que precisamos. O valor /preço pode ir de R$0 a ???, mas não teria uma característica de “poder, possibilidade”? Sei lá fiquei pensando no dia que um senhor me abordou no ponto de onibus, e por conta do meu uniforme, me pediu para entregar o currículo dele no RH da empresa. Eu peguei, entreguei ,e o cara foi contratado e era muito bom. Isso seria interação com valor comercial também? Pensando aqui e agora talvez a malha gere tantos valores intangíveis a partir da ” comercializações que podem acontecer dentro da rede” que precisamos de tempo para enxergar essas dinâmicas.

  • Segue algo que começou como um comentário e terminou como um devaneio.

    Parece-me que a gratuidade na rede tem a ver com vários fatores, porém destaco dois cenários: de um lado, as leis universais da oferta e da procura; do mesmo lado, e um pouco na origem das coisas, a concepção algo próxima à contracultura, inerente ao florescimento da informática como um passo tecnológico um tanto revolucionário. É quase a soma da fome com a vontade de comer, o resultado é uma charada quase indecifrável.

    Pelo lado econômico, a tal lei universal acima, temos na internet uma imensa oferta de meios: os recursos de comunicação são praticamente infinitos, a um custo ínfimo, se comparados com o que estava disponível antes. A diferenciação se dá por meio de imensa engenharia, criatividade, senso de oportunidade e por aí vai. Mesmo assim, a troca é feita por valores relativamente baixos e a contrapartida é sua capacidade de capilarização e espalhamento de ideias como nunca antes e blablablá. Quem aqui é de SP e topa um presencial, movido à cerveja, tal qual sugeriu o professor outro dia? Para mim o curso está aqui, só que não. O investimento de mover-se para uma aula presencial, a curiosidade de me envolver com um grupo e um professor cujo histórico é algo peculiar—tudo isso junto me levou a pagar pelo direito e privilégio de aqui estar. O pulo do gato do ponto de vista de marketing parece-me ser o que foi divulgado: a interatividade ou ao menos a oportunidade de construir algo em conjunto. O que tiraremos daqui pode resultar em algum ganho além do espiritual e, sinceramente, espero que assim seja. Estou por exemplo escrevendo um monte de textos desafiadores e eles têm se constituído um aprofundamento da minha área de estudo—o exercício já está valendo…

    O outro aspecto da gratuidade tem a ver com o conceito de open source, que por sua vez está ligado à cultura hacker dos anos 60. Aquilo deu nisso e várias outras coisas gratuitas: linux, firefox, pra citar apenas as mais evidentes. O que estamos fazendo aqui também é open source, na medida em que todos dividem suas ideias e não cobrarão por isso. O conceito evoluiu para outras iniciativas, como a ideia por trás dos Creative Commons, aquele selo que supostamente regulariza sob a ótica do direito o direito de todos se apropriarem da obra de todos sem pagar por isso um tostão.

    Interessante saber que coisas como o avião, nos tempos de Santos Dummont, também foram construídas sob essa premissa open source. Só que em algum momento os irmãos Wright levaram a fama final. O mesmo com Marconi e o rádio: como outros, não chegaram lá sozinhos. A internet eleva essa capacidade de aglutinação e apropriaçào de ideias alheias ao infinito. Alguém sempre levará uma fama maior e, talvez, algo injusta, porém a humanidade como um todo certamente levará a melhor, ao fim e ao cabo. Humm… meio altruísta, porém não menos humano, tal qual inventar a roda ou saber atear o fogo. Não?

    • Rafael Ferreira

      Seria essa a explicação da desigualdade social? No entanto, o quanto essa desigualdade baseada na apropriação de conhecimento limita a manutenção do fluxo?

      • Não, Rafael, o contrário: a circulação livre do conhecimento é um dos motores da civilização, tudo indica. Não consigo ver relação com uma desigualdade criada a partir da apropriação do conhecimento. O que descrevi é que, mesmo ocorrendo pontualmente com as pessoas uma suposta “injustiça”, a humanidade ganha como um todo. O processo parece ser algo altruísta, mas é compatível com uma visão liberal: as pessoas são diferentes e colhem resultados diferentes. O principal: é assim que chegamos até aqui, confere?? 🙂

  • Segue algo que começou como um comentário e terminou como um devaneio.

    Parece-me que a gratuidade na rede tem a ver com vários fatores, porém destaco dois cenários: de um lado, as leis universais da oferta e da procura; do mesmo lado, e um pouco na origem das coisas, a concepção algo próxima à contracultura, inerente ao florescimento da informática como um passo tecnológico um tanto revolucionário. É quase a soma da fome com a vontade de comer, o resultado é uma charada quase indecifrável.

    Pelo lado econômico, a tal lei universal acima, temos na internet uma imensa oferta de meios: os recursos de comunicação são praticamente infinitos, a um custo ínfimo, se comparados com o que estava disponível antes. A diferenciação se dá por meio de imensa engenharia, criatividade, senso de oportunidade e por aí vai. Mesmo assim, a troca é feita por valores relativamente baixos e a contrapartida é sua capacidade de capilarização e espalhamento de ideias como nunca antes e blablablá. Quem aqui é de SP e topa um presencial, movido à cerveja, tal qual sugeriu o professor outro dia? Para mim o curso está aqui, só que não. O investimento de mover-se para uma aula presencial, a curiosidade de me envolver com um grupo e um professor cujo histórico é algo peculiar—tudo isso junto me levou a pagar pelo direito e privilégio de aqui estar. O pulo do gato do ponto de vista de marketing parece-me ser o que foi divulgado: a interatividade ou ao menos a oportunidade de construir algo em conjunto. O que tiraremos daqui pode resultar em algum ganho além do espiritual e, sinceramente, espero que assim seja. Estou por exemplo escrevendo um monte de textos desafiadores e eles têm se constituído um aprofundamento da minha área de estudo—o exercício já está valendo…

    O outro aspecto da gratuidade tem a ver com o conceito de open source, que por sua vez está ligado à cultura hacker dos anos 60. Aquilo deu nisso e várias outras coisas gratuitas: linux, firefox, pra citar apenas as mais evidentes. O que estamos fazendo aqui também é open source, na medida em que todos dividem suas ideias e não cobrarão por isso. O conceito evoluiu para outras iniciativas, como a ideia por trás dos Creative Commons, aquele selo que supostamente regulariza sob a ótica do direito o direito de todos se apropriarem da obra de todos sem pagar por isso um tostão.

    Interessante saber que coisas como o avião, nos tempos de Santos Dummont, também foram construídas sob essa premissa open source. Só que em algum momento os irmãos Wright levaram a fama final. O mesmo com Marconi e o rádio: como outros, não chegaram lá sozinhos. A internet eleva essa capacidade de aglutinação e apropriaçào de ideias alheias ao infinito. Alguém sempre levará uma fama maior e, talvez, algo injusta, porém a humanidade como um todo certamente levará a melhor, ao fim e ao cabo. Humm… meio altruísta, porém não menos humano, tal qual inventar a roda ou saber atear o fogo. Não?

    • Rafael Ferreira

      Seria essa a explicação da desigualdade social? No entanto, o quanto essa desigualdade baseada na apropriação de conhecimento limita a manutenção do fluxo?

      • Não, Rafael, o contrário: a circulação livre do conhecimento é um dos motores da civilização, tudo indica. Não consigo ver relação com uma desigualdade criada a partir da apropriação do conhecimento. O que descrevi é que, mesmo ocorrendo pontualmente com as pessoas uma suposta “injustiça”, a humanidade ganha como um todo. O processo parece ser algo altruísta, mas é compatível com uma visão liberal: as pessoas são diferentes e colhem resultados diferentes. O principal: é assim que chegamos até aqui, confere?? 🙂

  • Fernando Lasman

    Aqui enxergo uma concepçao de “etica da rede”. A rede teria de se conformar de acordo com certas regras de convivencia. Porem, vale perguntar, como seriam sugeridas, deliberadas e adotadas essas regras, se nao fosse atraves da interaçao? Ou seja, como surgiria uma etica na rede, pra rede, sem rede? — Se nao for atraves das interaçoes das pessoas entao sao regras impostas, o que implica uma estagnaçao da interaçao, ou uma diminuiçao na interatividade total da rede. E isso quer dizer que o nivel de centralizaçao aumentou e/ou modo de regulaçao foi autocratizado. Mas isso só vem a ressaltar a ideia de “proposito para a rede” que pode se ter. Só que proposito é algo que uma pessoa tem, nao uma rede, eu penso. Pois na rede vemos inumeros propositos circulando, atraves das pessoas que interagem. As articulaçoes que podem se ter sob os mesmos propositos vem a acontecer pela afinidade das pessoas, que compartilham estes. Nao sao articulaçoes que acontecem obrigatoriamente, apesar das interaçoes, mas fortuitamente, atraves das interaçoes. Ou seja, o propositos que se podem correlacionar a uma rede surgem como tal apos um processo de rede se instalar, nao antes. Pensar que uma rede deve ter um proposito é uma visao centralizadora e (possivelmente) autocratica. Pois ja mostra-se a intençao de diminuira a pluralidade na propria sentença “ter UM proposito”. Claramente é algo que depende da desarticulaçao da rede e da coerçao das pessoas. Em suma: uma rede nao deve nada, pois o que se deve ou nao fazer surge por causa da rede.

    para explorar um pouco mais diretamente a questao da gratuidade: acho que se tem uma concepçao de que um preço seria um impecilho para a interaçao. Mas pensemos por outro angulo: um preço vai surgir por causa da interaçao. Afinal, se as pessoas entao interagindo e, por isso, trocando valores e recursos, as pessoas que propoem preços para serviços ou materiais só o podem fazer em relaçao a demanda das pessoas com as quais interagem.

    De novo, volto a concepçao de etica da interaçao. É uma perpectiva que quer endireitar a interaçao, que nao compreende a imprevisibilidade, o caos, como caracteristica principal da fenomenologia das redes. Ou seja, é uma nao compreençao do conceito como proposto pela ciencia das redes. Se nao se compreende isto, imagina-se a interaçao atraves dos olhos de um individuo, que toma os seus conceitos de liberdade e horizontalidade para imaginar algo que seria uma organizaçao ideal de sociedade. Surge o bendito “mas nao era pra ser de tal jeito?”. Pois bem, nao. O conceito de redes nao é sobre alguma forma ideal de sociedade e relacionamentos. O conceito é justamente apoiado na plasticidade, no movimento, na continua transformaçao da sociedade, que nao pode ser mais concebida estaticamente. É um conceito do social, que tem fenomenos proprios, que surgem da interaçao fortuita entre as pessoas. Logo, imprevisiveis. Logo, sem forma ideal. Na verdade é um conceito que vem mais para desconstruir essa ideia tradicional de sociedade que qualquer outra coisa, na minha opiniao. – E por isso que eu gosto. Porque nao vou ter que ficar estudando marx, que é chato pra cacete. HAHAH

    Mas, pra concluir (porque ja esta bem grande o “comentario”), parece que a questao etica ou moral sempre surge no fim dos estudos, especialmente quando se trata de sociedade, nao? Tipo: sabendo disso, qual a melhor maneira de se portar? Parece que sempre recorre. Por que será? Acho que a ideia de um comportamento adequado com “o bem da sociedade” se encaixa na tradiçao judaico-crista ocidental. Mas nao tenho muita clareza sobre isso. Só deixo a indagaçao sobre a nossas “responsabilidades sociais”, que tanto nos fazemos questao de lembrar!!

  • Fernando Lasman

    Aqui enxergo uma concepçao de “etica da rede”. A rede teria de se conformar de acordo com certas regras de convivencia. Porem, vale perguntar, como seriam sugeridas, deliberadas e adotadas essas regras, se nao fosse atraves da interaçao? Ou seja, como surgiria uma etica na rede, pra rede, sem rede? — Se nao for atraves das interaçoes das pessoas entao sao regras impostas, o que implica uma estagnaçao da interaçao, ou uma diminuiçao na interatividade total da rede. E isso quer dizer que o nivel de centralizaçao aumentou e/ou modo de regulaçao foi autocratizado. Mas isso só vem a ressaltar a ideia de “proposito para a rede” que pode se ter. Só que proposito é algo que uma pessoa tem, nao uma rede, eu penso. Pois na rede vemos inumeros propositos circulando, atraves das pessoas que interagem. As articulaçoes que podem se ter sob os mesmos propositos vem a acontecer pela afinidade das pessoas, que compartilham estes. Nao sao articulaçoes que acontecem obrigatoriamente, apesar das interaçoes, mas fortuitamente, atraves das interaçoes. Ou seja, o propositos que se podem correlacionar a uma rede surgem como tal apos um processo de rede se instalar, nao antes. Pensar que uma rede deve ter um proposito é uma visao centralizadora e (possivelmente) autocratica. Pois ja mostra-se a intençao de diminuira a pluralidade na propria sentença “ter UM proposito”. Claramente é algo que depende da desarticulaçao da rede e da coerçao das pessoas. Em suma: uma rede nao deve nada, pois o que se deve ou nao fazer surge por causa da rede.

    para explorar um pouco mais diretamente a questao da gratuidade: acho que se tem uma concepçao de que um preço seria um impecilho para a interaçao. Mas pensemos por outro angulo: um preço vai surgir por causa da interaçao. Afinal, se as pessoas entao interagindo e, por isso, trocando valores e recursos, as pessoas que propoem preços para serviços ou materiais só o podem fazer em relaçao a demanda das pessoas com as quais interagem.

    De novo, volto a concepçao de etica da interaçao. É uma perpectiva que quer endireitar a interaçao, que nao compreende a imprevisibilidade, o caos, como caracteristica principal da fenomenologia das redes. Ou seja, é uma nao compreençao do conceito como proposto pela ciencia das redes. Se nao se compreende isto, imagina-se a interaçao atraves dos olhos de um individuo, que toma os seus conceitos de liberdade e horizontalidade para imaginar algo que seria uma organizaçao ideal de sociedade. Surge o bendito “mas nao era pra ser de tal jeito?”. Pois bem, nao. O conceito de redes nao é sobre alguma forma ideal de sociedade e relacionamentos. O conceito é justamente apoiado na plasticidade, no movimento, na continua transformaçao da sociedade, que nao pode ser mais concebida estaticamente. É um conceito do social, que tem fenomenos proprios, que surgem da interaçao fortuita entre as pessoas. Logo, imprevisiveis. Logo, sem forma ideal. Na verdade é um conceito que vem mais para desconstruir essa ideia tradicional de sociedade que qualquer outra coisa, na minha opiniao. – E por isso que eu gosto. Porque nao vou ter que ficar estudando marx, que é chato pra cacete. HAHAH

  • Rafael Ferreira

    Esse texto me remete a uma reflexão pessoal que tenho a respeito de comunidades espirituais de acolhimento baseadas no princípio da doação. Conheço algumas que se colocam como organizações em rede. O trabalho realizado por elas é voluntário e gratuito, mas a sustentação delas decorre de um plus que pessoas generosas podem oferecer. O termo rede aí tem a ver mais com essa concepção da gratuidade como generosidade cristã e também como forma de relacionamento de organizações com o mesmo perfil do que propriamente com um padrão de relação mais distribuído do que centralizado. Mas, eu pergunto, não haveria na doação um reconhecimento de que a gratuidade do trabalho cooperativo deve ser paga ou remunerada mesmo que esse trabalho esteja imerso em organizações centralizadas ou descentralizadas, ou se trata apenas de uma forma de expiação de culpa por viver em/de uma organização hierárquica e estar acomodado com os benefícios disso?

  • Rafael Ferreira

    Esse texto me remete a uma reflexão pessoal que tenho a respeito de comunidades espirituais de acolhimento baseadas no princípio da doação. Conheço algumas que se colocam como organizações em rede. O trabalho realizado por elas é voluntário e gratuito, mas a sustentação delas decorre de um plus que pessoas generosas podem oferecer. O termo rede aí tem a ver mais com essa concepção da gratuidade como generosidade cristã e também como forma de relacionamento de organizações com o mesmo perfil do que propriamente com um padrão de relação mais distribuído do que centralizado. Mas, eu pergunto, não haveria na doação um reconhecimento de que a gratuidade do trabalho cooperativo deve ser paga ou remunerada mesmo que esse trabalho esteja imerso em organizações centralizadas ou descentralizadas, ou se trata apenas de uma forma de expiação de culpa por viver em/de uma organização hierárquica e estar acomodado com os benefícios disso?

  • guilherme witte

    A disponibilização de conhecimento pelos netweavers no processo de animação cria uma impressão (equivocada) q o pressuposto de uma rede mais distribuída é a gratuidade de tudo, o tempo todo. Quando reunimos nossa rede de amigos para empreender um churrasco vamos precisar de recursos (financeiros e outros) para esse empreendimento. Nesse exemplo, normalmente, ninguém pensa q vai ser gratuito…

    • Fernando Lasman

      bom exemplo!

  • guilherme witte

    A disponibilização de conhecimento pelos netweavers no processo de animação cria uma impressão (equivocada) q o pressuposto de uma rede mais distribuída é a gratuidade de tudo, o tempo todo. Quando reunimos nossa rede de amigos para empreender um churrasco vamos precisar de recursos (financeiros e outros) para esse empreendimento. Nesse exemplo, normalmente, ninguém pensa q vai ser gratuito…

    • Fernando Lasman

      bom exemplo!

  • Jacques Schwarzstein

    Bom dia! Não sei se entendi bem a situação descrita. Qual é a ideia? Estaríamos falando de uma rede distribuída que tem vitalidade, na qual ninguém tem condições de “mandar”, produz interações, está em constante processo de mutação, não têm um propósito específico, estratégico e limitante, se mantém porque as pessoas se realizam e se sentem beneficiadas por fazer parte dela, sendo que, uma ou mais pessoas, ou grupos, ou empresas, ou cooperativas, nela representados oferecem um produto aos demais e cobram por esse produto? Será isso? Não estou vendo o problema. Vale a lógica de mercado. Quem quiser compra, quem não quiser ou puder não compra. Ou estamos falando de uma taxa que se paga para conquistar o direito de inserção e permanência na rede? Bem…neste segundo caso, já estaríamos muito longe da definição de “rede-pura” e muito próximos de uma organização institucionalizada. Vale perguntar, por exemplo, que tipo de rede é este em que estamos inseridos neste programa. É uma rede? Com a palavra os gestores e facilitadores. Valeu!

    • augustodefranco

      Antes de qualquer coisa um esclarecimento. Neste programa há gestores (ou administradores) da plataforma (digital), mas não das pessoas inscritas. E não há bem facilitadores e sim os cocriadores do programa que conversam com os aderentes-participantes-interagentes. Os cocriadores não pensam todos da mesma maneira. Quando um deles – como eu – escreve aqui, fala exclusivamente em seu nome.

      A meu ver o objetivo deste módulo 8 é questionar a ideia (difundida em alguns meios) de que em rede tudo deve ser gratuito. Por exemplo, neste e em outros cursos análogos recebemos mensagens de pessoas nos questionando com a pergunta: “Por que vocês estão cobrando se a iniciativa é em rede?” Então é sinal de que há realmente uma confusão.

      O caso da plataforma REDES.ORG.BR (usada pelos investigadores conectados à Escola-de-Redes e aglomerados no Fórum de Inovação Permanente, alguns dos quais estão propondo este programa) é um exemplo de uma constelação de empreendimentos em rede que desenvolve atividades gratuitas e pagas. Mas não há uma empresa ou uma organização da sociedade civil (uma ONG). Não há uma estrutura hierárquica. Cada programa é um empreendimento que será tocado pelas pessoas que dele fazem parte.

      Pois bem. É possível empreender em rede, fazer uma empresa em rede? Se em rede tudo deve ser gratuito, não. Mas estamos vendo que sim, é possível!

      • Jacques Schwarzstein

        Tá. Mas você ficou devendo. Não disse em que tipo de rede estamos inseridos neste programa. Para começo de conversa, é uma rede fechada. E pode isso Arnaldo? Pelo que li nos primeiros módulos, as redes são abertas. Se expandem e retraem de acordo com o interesse e a motivação das pessoas. Mas tudo bem. Nesta rede, temos toda uma programação que diz o que pode e o que não pode acontecer. Se eu quiser acrescentar um módulo ao programa, não tenho como. Não disponho das ferramentas necessárias. Teria que convencer os cocriadores da necessidade/pertinência da criação de um novo módulo. Se eles não quiserem, nada ocorre. Temos aí, portanto, posições hierarquicamente distintas e temos uma clara estrutura de poder. Não entendo porque recusar a carapuça de facilitador. Entre os matriculados, somos muito poucos a se manifestar aqui no fórum. Se os cocriadores não reagirem às minhas contribuições vou parar de contribuir. Vocês têm uma função aqui que vai muito além da de expressar ideias (diferentes ou não entre si). Quanto a não haver uma empresa, você bem sabe que temos diferentes formas de organização empresarial: a burocrática, a carismática, a tecnocrática, a cooperativista, etc… Uma cooperativa é uma empresa? Vocês seriam uma cooperativa informal onde se procura reduzir ao máximo as normas e as regras?

        (Se alguém leu “cobradores” no meu texto, leu o que o corretor “mandou”. O que escrevi foi “cocriadores”e o corretor corrigiu o que escrevi…agora, quem recorrigiu fui eu. Me insurgi contra o corretor.)

        • augustodefranco

          Não estamos “fazendo rede” neste programa. O empreendimento (a cocriação do programa) é em rede (foi isso que eu escrevi). Agora, se vai se articular uma rede mais distribuída do que centralizada a partir da interação entre os membros do programa, não sabemos. Um programa ofertado, pré-definido, tem sempre uma dinâmica mais participativa do que interativa. O que você descreveu no comentário acima foi – exatamente – um ambiente participativo. Está certo. Percebo agora que você vê a diferença com clareza.

          Nosso papel é o de netweavers, não de professores (seja qual for o eufemismo que utilizemos para designá-los). É claro que esse papel só tem sentido em redes descentralizadas (com algum grau significativo de centralização). Em redes totalmente distribuídas não precisa haver netweaving (assim como também perdem sentido os demais papéis, como o de hub, o de guardião do kernel etc).

          Este é um programa sobre redes sociais, Jacques. Ninguém disse que estaríamos fazendo uma rede distribuída com os inscritos no programa. E as pessoas demoram mesmo para interagir (muitos ficam apenas lendo o que escrevemos, outros, talvez, nem isso: vão dar uma lida em tudo mais adiante). Comparando porém com os cursos análogos, este programa está tendo bastante interação. Interação, porém, não é medida pela quantidade de interagentes e sim pela abertura (ou vulnerabilidade) à interação fortuita.

      • Fernando Baptista

        É importante esclarecer que nesse programa ninguém está pagando para permanecer em rede… aqui todo mundo está livre pra interagir com quem quiser, trocar telefones, ir tomar uma cerveja e conversar sobre o que quiser com quem quiser (inclusive sobre os assuntos do programa)… e todos aqui tinham condições de se encontrar e interagir antes mesmo do programa (não havia nenhum bloqueio instituído artificialmente pelos co-criadores do programa para evitar esses encontros), então tampouco alguém está pagando para se inserir em rede. No caso desse programa, houve dedicação de um grupo de pessoas (que não fazem parte de uma empresa ou organização, são pessoas soltas como se gosta de dizer por aí, hehe) que se encontraram num certo momento e decidiram co-criar o programa, compor a lista de mitos, divulgar a proposta, configurar a plataforma e os fóruns, escrever textos provocativos, interagir com os participantes (sim, aqui houve pré-definição de escopo e de âmbito que caracterizam uma delimitação da qual os incritos fazem parte), fazer um hangout, editar um livro… é por essa dedicação que se está pagando no caso desse programa.

        • Jacques Schwarzstein

          No Bope as pessoas também estão livres para interagir, trocar telefones, tomar cerveja, conversar, etc…etc… Aliás, tem gente no Bope que propõe a desmilitarização da PM. Quanto a mim, paguei, sim, para me inserir neste programa. Paguei para me inscrever no programa sobre Democracia e ganhei a inclusão neste programa de brinde. Paguei por que quis porque reconheço o valor do esforço e do produto. Mas paguei. Se não tivesse pago não estaria aqui, tendo o privilégio de trocar ideias com vocês.

  • Jacques Schwarzstein

    Bom dia! Não sei se entendi bem a situação descrita. Qual é a ideia? Estaríamos falando de uma rede distribuída que tem vitalidade, na qual ninguém tem condições de “mandar”, produz interações, está em constante processo de mutação, não têm um propósito específico, estratégico e limitante, se mantém porque as pessoas se realizam e se sentem beneficiadas por fazer parte dela, sendo que, uma ou mais pessoas, ou grupos, ou empresas, ou cooperativas, nela representados oferecem um produto aos demais e cobram por esse produto? Será isso? Não estou vendo o problema. Vale a lógica de mercado. Quem quiser compra, quem não quiser ou puder não compra. Ou estamos falando de uma taxa que se paga para conquistar o direito de inserção e permanência na rede? Bem…neste segundo caso, já estaríamos muito longe da definição de “rede-pura” e muito próximos de uma organização institucionalizada. Vale perguntar, por exemplo, que tipo de rede é este em que estamos inseridos neste programa. É uma rede? Com a palavra os gestores e facilitadores. Valeu!

    • augustodefranco

      Antes de qualquer coisa um esclarecimento. Neste programa há gestores (ou administradores) da plataforma (digital), mas não das pessoas inscritas. E não há bem facilitadores e sim os cocriadores do programa que conversam com os aderentes-participantes-interagentes. Os cocriadores não pensam todos da mesma maneira. Quando um deles – como eu – escreve aqui, fala exclusivamente em seu nome.

      A meu ver o objetivo deste módulo 8 é questionar a ideia (difundida em alguns meios) de que em rede tudo deve ser gratuito. Por exemplo, neste e em outros cursos análogos recebemos mensagens de pessoas nos questionando com a pergunta: “Por que vocês estão cobrando se a iniciativa é em rede?” Então é sinal de que há realmente uma confusão.

      O caso da plataforma REDES.ORG.BR (usada pelos investigadores conectados à Escola-de-Redes e aglomerados no Fórum de Inovação Permanente, alguns dos quais estão propondo este programa) é um exemplo de uma constelação de empreendimentos em rede que desenvolve atividades gratuitas e pagas. Mas não há uma empresa ou uma organização da sociedade civil (uma ONG). Não há uma estrutura hierárquica. Cada programa é um empreendimento que será tocado pelas pessoas que dele fazem parte.

      Pois bem. É possível empreender em rede, fazer uma empresa em rede? Se em rede tudo deve ser gratuito, não. Mas estamos vendo que sim, é possível!

      • Jacques Schwarzstein

        Tá. Mas você ficou devendo. Não disse em que tipo de rede estamos inseridos neste programa. Para começo de conversa, é uma rede fechada. E pode isso Arnaldo? Pelo que li nos primeiros módulos, as redes são abertas. Se expandem e retraem de acordo com o interesse e a motivação das pessoas. Mas tudo bem. Nesta rede, temos toda uma programação que diz o que pode e o que não pode acontecer. Se eu quiser acrescentar um módulo ao programa, não tenho como. Não disponho das ferramentas necessárias. Teria que convencer os cobradores da necessidade/pertinência da criação de um novo módulo. Se eles não quiserem, nada ocorre. Temos aí, portanto, posições hierarquicamente distintas e temos uma clara estrutura de poder. Não entendo porque recusar a carapuça de facilitador. Entre os matriculados, somos muito poucos a se manifestar aqui no fórum. Se os cobradores não reagirem às minhas contribuições vou parar de contribuir. Vocês tem uma função aqui que vai muito além da de expressar ideias (diferentes ou não entre si). Quanto a não haver uma empresa, você bem sabe que temos diferentes formas de organização empresarial: a burocrática, a carismática, a tecnocrática, a cooperativista, etc… Uma cooperativa é uma empresa? Vocês seriam uma cooperativa informal onde se procurar reduzir ao máximo as normas e as regras?

        • augustodefranco

          Não estamos “fazendo rede” neste programa. O empreendimento (a cocriação do programa) é em rede (foi isso que eu escrevi). Agora, se vai se articular uma rede mais distribuída do que centralizada a partir da interação entre os membros do programa, não sabemos. Um programa ofertado, pré-definido, tem sempre uma dinâmica mais participativa do que interativa. O que você descreveu no comentário acima foi – exatamente – um ambiente participativo. Está certo. Percebo agora que você vê a diferença com clareza.

          Nosso papel é o de netweavers, não de professores (seja qual for o eufemismo que utilizemos para designá-los). É claro que esse papel só tem sentido em redes descentralizadas (com algum grau significativo de centralização). Em redes totalmente distribuídas não precisa haver netweaving (assim como também perdem sentido os demais papéis, como o de hub, o de guardião do kernel etc).

          Este é um programa sobre redes sociais, Jacques. Ninguém disse que estaríamos fazendo uma rede distribuída com os inscritos no programa. E as pessoas demoram mesmo para interagir (muitos ficam apenas lendo o que escrevemos, outros, talvez, nem isso: vão dar uma lida em tudo mais adiante). Comparando porém com os cursos análogos, este programa está tendo bastante interação. Interação, porém, não é medida pela quantidade de interagentes e sim pela abertura (ou vulnerabilidade) à interação fortuita.

          • Jacques Schwarzstein

            Perfeito. Obrigado. Não disse em momento algum que vocês teriam dito…. Apenas perguntei a vocês que tipo de rede seria esta. Obtive a resposta da qual precisava: todas as pessoas que participam do programa podem interagir entre si, mas o programa não foi “pensado” como rede. Aliás, se entendo bem, na visão de vocês redes não podem ser “pensadas”. Elas acontecem ou não acontecem. Certo? Entendo que no espaço da Plataforma Redes, vocês se vejam como netweavers, e não como professores. No caso deste programa, contudo, trazem um sistema conceitual complexo, sofisticado e “redondinho” e atuam no sentido de fazer com que as pessoas o conheçam e compreendam. (Não necessariamente o aceitem.) Bem…se não estão “professorando”, estão fazendo algo muito semelhante. Mas isso não é um problema…e também não é uma solução. Apenas uma reflexão solta no ar.

          • Fernando Baptista

            Sim, Jacques, na minha visão não se pode planejar ou implementar redes. Como já comentei antes, pra mim a ideia de rede é uma referência para compreender a realidade social, sobretudo a topologia das relações e as dinâmicas sociais que daí emergem. Esse programa foi pensado pra ser o que ele é, o que está explicado em sua proposta.

      • Fernando Baptista

        É importante esclarecer que nesse programa ninguém está pagando para permanecer em rede… aqui todo mundo está livre pra interagir com quem quiser, trocar telefones, ir tomar uma cerveja e conversar sobre o que quiser com quem quiser (inclusive sobre os assuntos do programa)… e todos aqui tinham condições de se encontrar e interagir antes mesmo do programa (não havia nenhum bloqueio instituído artificialmente pelos co-criadores do programa para evitar esses encontros), então tampouco alguém está pagando para se inserir em rede. No caso desse programa, houve dedicação de um grupo de pessoas (que não fazem parte de uma empresa ou organização, são pessoas soltas como se gosta de dizer por aí, hehe) que se encontraram num certo momento e decidiram co-criar o programa, compor a lista de mitos, divulgar a proposta, configurar a plataforma e os fóruns, escrever textos provocativos, interagir com os participantes (sim, aqui houve pré-definição de escopo e de âmbito que caracterizam uma delimitação da qual os incritos fazem parte), fazer um hangout, editar um livro… é por essa dedicação que se está pagando no caso desse programa.

        • Jacques Schwarzstein

          No Bope as pessoas também estão livres para interagir, trocar telefones, tomar cerveja, conversar, etc…etc… Aliás, tem gente no Bope que propõe a desmilitarização da PM. Quanto a mim, paguei, sim, para me inserir neste programa. Paguei para me inscrever no programa sobre Democracia e ganhei a inclusão neste programa de brinde. Paguei por que quis porque reconheço o valor do esforço e do produto. Mas paguei. Se não tivesse pago não estaria aqui.

          • Fernando Baptista

            Sim, é exatamente do que se trata esse módulo, da legitimidade em se cobrar por dedicação empreendida e da liberdade de pessoas verem ou não valor nisso. Sobre o seu exemplo do Bobe, não entendi o que você quis dizer com ele, você pode explicar melhor?

          • Jacques Schwarzstein

            Nada não, Fernando. É que você, no teu comentário diz o seguinte: “É importante esclarecer que nesse programa ninguém está pagando para permanecer em rede… aqui todo mundo está livre pra interagir com quem quiser, trocar telefones, ir tomar uma cerveja e conversar sobre o que quiser com quem quiser (inclusive sobre os assuntos do programa)… e todos aqui tinham condições de se encontrar e interagir antes mesmo do programa (não havia nenhum bloqueio instituído artificialmente pelos co-criadores do programa para evitar esses encontros), então tampouco alguém está pagando para se inserir em rede.” Só isso. Mas a questão não é essa. A questão é que, de acordo com Augusto Franco, este programa não funciona necessariamente, nem pretende ser uma rede. Assim sendo, vocês têm razão. Ninguém pagou para entrar numa rede, porque rede talvez nem haja.

          • augustodefranco

            É um programa sobre redes (sobre crenças que se espalham acerca das redes sociais), não uma proposta de fundar uma rede específica. No entanto, como estamos vendo, é um programa interativo. Ora, as redes acontecem quando pessoas interagem. Pessoas interagindo estão em rede. Mas não, no caso, numa rede pré-desenhada ou articulada pelos promotores do programa. Poderia ser um programa sem mecanismos de interação em que, mesmo assim, as pessoas resolvessem interagir (por exemplo, procurando e achando as outras pessoas no Facebook).

          • Fernando Baptista

            Sim, a rede não é algo que está inscrito na iniciativa de criar esse programa… nem poderia ser, nem nesse programa, nem em qualquer outra iniciativa… é algo que transpassa as pessoas das mais diversas maneiras… as interações que se dão aqui são apenas alguns redemoinhos nesse tecido, nesse continuum que forma o campo de possibilidades interativas no qual podemos enxergar a rede.

  • Jacques Schwarzstein

    Eu tenho a curiosidade de saber quantas pessoas estão acompanhando este programa. Seria possível dizer?

    • augustodefranco

      Depende do que você chama de acompanhando, Jacques. Nesta primeira turma estão “matriculadas” (hehe), quer dizer, inscritas, pouco mais de 100 pessoas.

      • Jacques Schwarzstein

        Era isso que eu queria saber. Obrigado.

  • Jacques Schwarzstein

    Eu tenho a curiosidade de saber quantas pessoas estão acompanhando este programa. Seria possível dizer?

    • augustodefranco

      Depende do que você chama de acompanhando, Jacques. Nesta primeira turma estão “matriculadas” (hehe), quer dizer, inscritas, pouco mais de 100 pessoas.

      • Jacques Schwarzstein

        Era isso que eu queria saber. Obrigado.

  • Marcelo Yamada

    A comercialização de produtos e serviços soará estranha ou não dependendo da motivação que levou à formação da rede, não? Proximidade geográfica, ideologia, profissão, histórico de vida, identidade de interesses… Se em algumas dessas relações não cabe atividade remunerada, em outras pode ser entendida como perfeitamente normal.

    • Fernando Baptista

      Sim… mas é sempre uma interpretação do que é justo ou correto no que se refere à distribuição de recursos em função de tipos de dedicação e situações nas quais elas ocorrem. A questão é: em que situações é legítimo que pessoas que se dedicaram a algo recebam algo em troca? E é legitimo que pessoas que não se dedicaram a nada recebam algo porque são portadoras da títulos que lhes conferem esse direito? Como podemos enxergar essas situações colocando os nossos “óculos de ver rede”? Como ficam as possibilidades de topologia da rede nessas situações?

      • Marcelo Yamada

        Imagino que nas redes distribuídas (como as que discutimos aqui) não haja espaço para membros privilegiados por títulos que possuem e mais nada. Se não interagirem e não colocarem seu conhecimento em ação (ou seu patrimônio à disposição), não terão feito nada para merecer uma remuneração.
        Veja que o termo “colocar seu patrimônio à disposição” legitima grande parte das remunerações que alguns podem julgar indevidas – como a remuneração de proprietários, de detentores de patentes, de banqueiros, de pessoas famosas etc.

    • Marcia Borges

      Marcelo, conheci seu trabalho como Community Manager pela SBGC. Você vê na sua experiência esses tipos de relações acontecerem “naturalmente” numa “rede social”? Digo,”comerciais”?

      • Marcelo Yamada

        Sim, Marcia, vejo. Ocorre em qualquer troca de favores, em qualquer ajuda que será retribuída no futuro – sem qualquer implicação financeira. Reconhecimento e reciprocidade também são moedas (já diziam Davenport e Prusak).

  • Marcelo Yamada

    A comercialização de produtos e serviços soará estranha ou não dependendo da motivação que levou à formação da rede, não? Proximidade geográfica, ideologia, profissão, histórico de vida, identidade de interesses… Se em algumas dessas relações não cabe atividade remunerada, em outras pode ser entendida como perfeitamente normal.

    • Fernando Baptista

      Sim… mas é sempre uma interpretação do que é justo ou correto no que se refere à distribuição de recursos em função de tipos de dedicação e situações nas quais elas ocorrem. A questão é: em que situações é legítimo que pessoas que se dedicaram a algo recebam algo em troca? E é legitimo que pessoas que não se dedicaram a nada recebam algo porque são portadoras da títulos que lhes conferem esse direito? Como podemos enxergar essas situações colocando os nossos “óculos de ver rede”? Como ficam as possibilidades de topologia da rede nessas situações?

    • Marcia

      Marcelo, conheci seu trabalho como Community Manager pela SBGC. Você vê na sua experiência esses tipos de relações acontecerem “naturalmente” numa “rede social”? Digo,”comerciais”?

  • Fatima Melca

    Não vejo porque em rede tudo deve ser gratuito. Pelo contrario, em rede se abrem possibilidades para as pessoas se posicionarem e com isso oferecer algo que interesse ao outro. Se vai ser pago, se vai ser uma troca não sei, mas deve ter um ganho. Como não vejo rede com um proposito, não vejo como fazer da rede um negócio. Penso que interagir, envolve muitas coisas, muitas sequencias de acontecimentos. E sena interação surge uma emergencia, uma produção, não há porque não se ter uma prestação de serviço.Vejo como uma troca, uma interação entre você e outro (s), entre o coletivo. Compartilhar conhecimento. Agora me passou algo como replicar. Replicar, cocriar não poderia ser visto como uma troca, um serviço oferecido?

  • Fatima Melca

    Não vejo porque em rede tudo deve ser gratuito. Pelo contrario, em rede se abrem possibilidades para as pessoas se posicionarem e com isso oferecer algo que interesse ao outro. Se vai ser pago, se vai ser uma troca não sei, mas deve ter um ganho. Como não vejo rede com um proposito, não vejo como fazer da rede um negócio. Penso que interagir, envolve muitas coisas, muitas sequencias de acontecimentos. E sena interação surge uma emergencia, uma produção, não há porque não se ter uma prestação de serviço.Vejo como uma troca, uma interação entre você e outro (s), entre o coletivo. Compartilhar conhecimento. Agora me passou algo como replicar. Replicar, cocriar não poderia ser visto como uma troca, um serviço oferecido?

  • Cris Kruel

    E ainda.. Uma rede pode ser de cooperação/colaboração, mas por que não poderia ser de competição? Uma rede onde se joga um contra os outros alguns ganham e muitos perdem. LOL?

    • augustodefranco

      A cooperação e a competição não são propósitos, Kruel. São atributos do padrão de organização ou do modo como nos relacionamos.

  • Cris Kruel

    Nada é “gratuito”. Talvez a rede crie maneiras de tornar algo menos caro, mas para haver colaboração é porque alguém “contribuiu” com alguma coisa.

    • Thiago Padovan

      Acredito também que as coisas se tornam mais acessíveis Cris, pois quando trabalhamos em rede, eliminamos diversos custos que as empresas muitas vezes nem percebem.

  • Cris Kruel

    E ainda.. Uma rede pode ser de cooperação/colaboração, mas por que não poderia ser de competição? Uma rede onde se joga um contra os outros alguns ganham e muitos perdem. LOL?

    • augustodefranco

      A cooperação e a competição não são propósitos, Kruel. São atributos do padrão de organização ou do modo como nos relacionamos.

  • Cris Kruel

    Nada é “gratuito”. Talvez a rede crie maneiras de tornar algo menos caro, mas para haver colaboração é porque alguém “contribuiu” com alguma coisa.

    • Thiago Padovan

      Acredito também que as coisas se tornam mais acessíveis Cris, pois quando trabalhamos em rede, eliminamos diversos custos que as empresas muitas vezes nem percebem.