O que você precisa saber sobre redes | Módulo 10

Módulo 10

Atenção: você vai ler abaixo um texto provocativo, elaborado para estimular a conversação. Você não precisa concordar necessariamente com o conteúdo do texto provocativo e sim ficar atento às suas indagações. Todas as referências bibliográficas serão fornecidas oportunamente.

É uma crença muito disseminada a ideia de que decisões em uma rede devem ser tomadas por consenso. Mas tomar decisão evoca uma lógica da escassez, não da abundância.

Redes (mais distribuídas do que centralizadas) podem ser definidas como múltiplos caminhos. Em geral ambientes sociais são caracterizados por abundância de caminhos (e, consequentemente, de opções) a menos quando há obstrução ou eliminação de caminhos (conexões) introduzidas de modo artificial. De modo artificial, sim, porque a obstrução (ou a eliminação) não emerge da dinâmica própria da rede (distribuída): ela é operada top down por alguma hierarquia que deforma (verticaliza) o campo social. Essa é, aliás, a forma pela qual a hierarquia se reproduz, transformando tudo que toca em ambiente hierárquico ou centralizando a rede. Se não produzimos artificialmente escassez quando nos pomos a regular qualquer conflito, "produzimos" rede (distribuída); do contrário, "produzimos" hierarquia (centralização).

Todo processo delegativo ou participativo gera artificialmente escassez. A designação (nomeação), assim como a votação, a construção administrada de consenso, o rodízio e até mesmo o sorteio, não são procedimentos adequados à ambientes onde há abundância de caminhos. Ou melhor, quando aplicados, tais procedimentos reduzem o número de caminhos e são, portanto, geradores de escassez.

Uma das coisas mais bacanas das redes sociais distribuídas é a chamada “lógica da abundância”.

Os problemas que se estabelecem a partir de divergências de opinião são – em grande parte – introduzidos artificialmente pelo modo-de-regulação. Por exemplo, queremos escolher 5 pessoas para uma função qualquer, mas 10 pessoas estão postulando. Problema? Que nada! Basta escolher as 10. Quem disse que teriam que ser apenas 5? Essa determinação está, por acaso, nos “10 Mandamentos”? Isso só será um problema se nos tornarmos escravos dos estatutos e regimentos: sim, em algum lugar foi definido que teriam que ser 5 pessoas, mas e daí? Qual o problema de mudar essa definição?

Ah! Mas é muita gente, não cabe na sala, vai dificultar o processo de decisão... Todas essas são, é óbvio, desculpas esfarrapadas para produzir artificialmente escassez. Não cabe na sala? Arrumamos uma sala maior ou fazemos um rodízio de quem entra e quem fica fora de cada vez. Vai dificultar o processo de decisão?

Criamos duas instâncias e redefinimos as responsabilidades pelas funções.

O fato é que somente em estruturas hierárquicas essas coisas são realmente problemas. Porque nessas estruturas o que está em jogo não é a funcionalidade do organismo coletivo e sim o poder de mandar nos outros, quer dizer, a capacidade de exigir obediência ou de comandar e controlar os semelhantes.

Quanto mais distribuída for uma rede, mais a regulação que nela se estabelece pode ser pluriárquica. Uma pessoa propõe uma coisa. Ótimo. Aderirão a essa proposta os que concordarem com ela. E os que não concordarem? Ora, bolas, os que não concordarem não devem aderir. E sempre podem propor outra coisa. Os que concordarem com essa outra coisa aderirão a ela. E assim por diante.

O papel dos administradores das ferramentas de netweaving (como plataformas digitais, por exemplo) usadas por uma rede não é o de chefes, nem mesmo o de líderes. Eles devem ser netweavers, não coordenadores. Muitas vezes os administradores de sites e grupos em uma plataforma interativa não cumprem nem mesmo o papel de netweavers. São apenas pessoas que tomaram a iniciativa de abrir um site, formar um grupo, colocar um tema em discussão em um fórum ou marcar um evento. Quem deve aderir a essas iniciativas? Quem quiser. E quem não quiser? Quem achar que não é bem assim, que poderia ser melhor “um pouquinho”, que o desenho não está adequado, que a proposta está equivocada etc., pode sempre dizer isso para as pessoas que tomaram a iniciativa. E se não adiantar, se essas pessoas insistirem em manter o que propuseram? Ora, nesse caso, também não deveria haver o menor problema. Quem não está totalmente satisfeito ou confortável com o que foi proposto, pode propor outra coisa.

Em redes mais distribuídas do que centralizadas nunca se admite a votação como método de regular majoritariamente qualquer dilema da ação coletiva. E quando há discordâncias de opiniões, como fazemos? Ora, não fazemos nada! Por que deveríamos fazer alguma coisa? Viva a diversidade! Se você estabelece alguma coisa a partir da votação, cai numa armadilha centralizadora ou hierarquizante. Produz “de graça” escassez onde não havia.

A exigência de obter consenso não raro exige a adoção de um processo de construção administrada do consenso e isso também produz escassez e, consequentemente, centraliza (ou hierarquiza) a rede.

Por que? Porque a busca do consenso exige, na prática, a condução centralizada: há sempre uma oligarquia participativa que administra a construção do consenso, impondo a todos uma metodologia, um conjunto de passos obrigatórios para se alcançar determinado resultado esperado. E o consenso administrado - a não ser quando haja espontânea unanimidade (o que dispensa administração) - é sempre um consenso majoritário (quem não concorda com o consenso produzido deve acatar o resultado obtido pela... maioria!). Ao fim e ao cabo, mesmo quando todos pareçam dedicados à construção do consenso, o ethos é competitivo. Compete-se, quando menos, pela maior habilidade de extrair o consenso, pela capacidade de melhor expressar os desejos da maioria, pelo domínio de uma técnica mais aperfeiçoada de prorrogar determinada liderança.

Mas o que seria "tomar decisão" em uma rede? Qual a necessidade de tomar uma decisão? E por que todos deveriam concordar com tudo? E para quê deveriam concordar se, em rede, as pessoas não estão obrigadas a fazer nada que não desejam fazer, concordando ou discordando de alguma proposta?

  • augustodefranco

    O participante Cassiano, apagou os comentários dele nesta e em várias outras threads. Ele tinha o direito de fazer isso, claro. No entanto, como estamos recolhendo os comentários para produzir o ebook do programa, muitos diálogos acabaram ficando sem sentido, justamente porque eram respostas às suas objeções e indagações. Estamos vendo como recuperar no DISQUS todos esses comentários que foram apagados, não para publicá-los com crédito para o autor e sim para poder dar sequência e tornar inteligíveis os diálogos encetados nos campos de comentários.

  • augustodefranco

    Você já entrou em todos os módulos? Não? Ainda dá tempo. Ainda estamos recolhendo material para elaborar o book, levando em conta as interações de todos. Teremos, além disso, as referências bibliográficas. E o hangout amanhã (11/11/15) às 19h. Vai ser na página: http://redes.org.br/25mitos-01-hangout/

  • augustodefranco

    Pessoal, o hangout previsto para hoje foi adiado para 11/11/2015. Veja mais informações na página http://redes.org.br/25mitos-0

  • Marcia Borges

    Sempre me colocando como uma total analfabeta no tema rede. Ok, ao ler os posts, acabo por entender as redes como algo que se mergulha . Se gostei de um cardume me uno a ele, senão procuro outro? Ou então procuro outra rede? Nunca gostei da idéia de valor, missão, produtivismo e essa chatice toda das redes centralizadas que na realidade tentam um “consenso conforme”. Mas não estou conseguindo estender o processo das redes para algo concreto ligado ao meu acordar/ viver/evoluir.O que estou perdendo exatamente? OU ganhando? Em tempo: estou percebendo muito que a história de “ter que ter consenso” não leva aos melhores fins. Mas gostaria de resolver um problema, terei que ficar nadando na rede até quando

    • augustodefranco

      Você terá que ficar nadando a vida toda, Marcia. E talvez além… hehehe 😀 Em rede você está ganhando vida. Se você quiser parar de nadar, morre. Porque interrompe a alostase. Tudo que vive tem o padrão de rede. Sua pessoa, como ente social, é rede. Seu cérebro (parte do seu organismo) está organizado em rede (procure aí o neurônio-gerente: você não vai encontrá-lo, felizmente, do contrário não poderíamos estar mantendo esta conversa). Tudo que você faz – sabendo disso ou não – também é em rede, inclusive a empresa em que você trabalha ou a instituição em que você estuda, também é em rede (mas, no caso dessas instituições, essa rede viva está soterrada sob muito entulho hierárquico). Então a questão é simples: ser-em-rede é não bloquear fluxos. Sim, mergulhe no fluxo. Vai ser muito mais divertido.

  • Marcia

    Sempre me colocando como uma total analfabeta no tema rede. Ok, ao ler os posts, acabo por entender as redes como algo que se mergulha . Se gostei de um cardume me uno a ele, senão procuro outro? Ou então procuro outra rede? Nunca gostei da idéia de valor, missão, produtivismo e essa chatice toda das redes centralizadas que na realidade tentam um “consenso conforme”. Mas não estou conseguindo estender o processo das redes para algo concreto ligado ao meu acordar/ viver/evoluir.O que estou perdendo exatamente? OU ganhando? Em tempo: estou percebendo muito que a história de “ter que ter consenso” não leva aos melhores fins. Mas gostaria de resolver um problema, terei que ficar nadando na rede até quando

    • augustodefranco

      Você terá que ficar nadando a vida toda, Marcia. E talvez além… hehehe 😀 Em rede você está ganhando vida. Se você quiser parar de nadar, morre. Porque interrompe a alostase. Tudo que vive tem o padrão de rede. Sua pessoa, como ente social, é rede. Seu cérebro (parte do seu organismo) está organizado em rede (procure aí o neurônio-gerente: você não vai encontrá-lo, felizmente, do contrário não poderíamos estar mantendo esta conversa). Tudo que você faz – sabendo disso ou não – também é em rede, inclusive a empresa em que você trabalha ou a instituição em que você estuda, também é em rede (mas, no caso dessas instituições, essa rede viva está soterrada sob muito entulho hierárquico). Então a questão é simples: ser-em-rede é não bloquear fluxos. Sim, mergulhe no fluxo. Vai ser muito mais divertido.

  • Rafael Ferreira

    Esse mito remete a questões políticas clássicas da organização/estado. Penso que a dificuldade de pensar que pode não haver necessidade de decisão tem a ver com a preponderância que organizações políticas tem sobre a nossa vida civil por assim dizer. O quanto a noção de governantes e governados, representantes e representados perpassa a nossa convivência. O conceito de rede mexe com pressupostos muito arraigados na mentalidade dita normal. É difícil pra muita gente perceber que opiniões divergentes não precisam se transformar em disputa.

  • Rafael Ferreira

    Esse mito remete a questões políticas clássicas da organização/estado. Penso que a dificuldade de pensar que pode não haver necessidade de decisão tem a ver com a preponderância que organizações políticas tem sobre a nossa vida civil por assim dizer. O quanto a noção de governantes e governados, representantes e representados perpassa a nossa convivência. O conceito de rede mexe com pressupostos muito arraigados na mentalidade dita normal. É difícil pra muita gente perceber que opiniões divergentes não precisam se transformar em disputa.

  • Esse texto reafirma a ideia de que o processo decisório pertence unicamente aos nodos, às pessoas, e que a interatividade da rede apenas permite potencializar uma tendência. Antes isso era mais difícil. Sinais de fumaça ainda implicam que os integrantes da rede estejam no raio de visão da fumaça. As ondas do rádio permitiram criar uma rede mais ampla, portanto era possível fazer um anúncio para um campo maior de interação e ação—Orson Welles, por exemplo, apavorou os EUA com uma pegadinha extraterrestre.

    Tendo a julgar que uma rede só faz sentido quando inclui o processo decisório pessoal, como fica admitido nesta passagem: “Uma pessoa propõe uma coisa. Ótimo. Aderirão a essa proposta os que concordarem com ela. E os que não concordarem? Ora, bolas, os que não concordarem não devem aderir. E sempre podem propor outra coisa. . . . ”

    Qual é o problema da formulação? O senso de propósito, aquele que em alguns momentos alguns consideram foram de questão e eu considero sempre em pauta, pelo fato de que vejo nas redes invariavelmente um objetivo imediato ou subliminar. Quero dizer com isso que uma rede tende a ser mais produtiva quanto mais explícito for seu propósito e quanto mais claro for a noção de liderança para se atingir esse propósito específico.

    O bacana da provocação acima é juntar com a interessante ideia de que a liderança é algo fluída num ambiente distribuído—a tal multiliderança. Esse é outro insight muito positivo, fruto deste aprendizado compartilhado. Porém, cabe aqui um alerta que não comentei no módulo sobre esse tema: a multiliderança pressupõe a decisão soberana de “abrir mão do poder”. Sinceramente, isso raramente ocorre no mundo real. Não??

  • Esse texto reafirma a ideia de que o processo decisório pertence unicamente aos nodos, às pessoas, e que a interatividade da rede apenas permite potencializar uma tendência. Antes isso era mais difícil. Sinais de fumaça ainda implicam que os integrantes da rede estejam no raio de visão da fumaça. As ondas do rádio permitiram criar uma rede mais ampla, portanto era possível fazer um anúncio para um campo maior de interação e ação—Orson Welles, por exemplo, apavorou os EUA com uma pegadinha extraterrestre.

    Tendo a julgar que uma rede só faz sentido quando inclui o processo decisório pessoal, como fica admitido nesta passagem: “Uma pessoa propõe uma coisa. Ótimo. Aderirão a essa proposta os que concordarem com ela. E os que não concordarem? Ora, bolas, os que não concordarem não devem aderir. E sempre podem propor outra coisa. . . . ”

    Qual é o problema da formulação? O senso de propósito, aquele que em alguns momentos alguns consideram foram de questão e eu considero sempre em pauta, pelo fato de que vejo nas redes invariavelmente um objetivo imediato ou subliminar. Quero dizer com isso que uma rede tende a ser mais produtiva quanto mais explícito for seu propósito e quanto mais claro for a noção de liderança para se atingir esse propósito específico.

    O bacana da provocação acima é juntar com a interessante ideia de que a liderança é algo fluída num ambiente distribuído—a tal multiliderança. Esse é outro insight muito positivo, fruto deste aprendizado compartilhado. Porém, cabe aqui um alerta que não comentei no módulo sobre esse tema: a multiliderança pressupõe a decisão soberana de “abrir mão do poder”. Sinceramente, isso raramente ocorre no mundo real. Não??

  • Fernando Lasman

    Eu acho que se falamos em rede ja propomos uma logica, uma interpretaçao do social que tem suas caracteristicas proprias. Portanto, trocando as palavras (tentando deixar explicito) a questao do consenso ficaria assim: “nessa visao do comportamento social, que surge da pela esponteneidade da interaçao e das iniciativas das pessoas, as decisoes dum conjunto social devem acontecer de forma que todos se conformem a mesma opiniao”. Ou seja, ou a decisao fica pra probabilidade infima de todos expressarem a mesma opiniao ao mesmo tempo, ou a decisao nao esta condicionada pela pluralidade e liberdade das opinioes do conjunto. Esta, logo, nao se alinha a dinamica espontanea de comportamento social que se entende pela visao de redes.

    Acho que a chave das redes é perceber que qualquer comportamento comum que se enxerge das pessoas é consequenca direta (dos graus de variaçao) da liberdade de iniciativa e interaçao que haja entre elas. Esse, ao meu ver, é o carro-chefe. Caso haja comportamenos comuns que nao sejam consequencias dessas coisas ou nao se fala em rede, ou se fala o contrario.

    Mas acho que a ideia mais fudamental é perceber que humanos entao em rede inerentemente. Ou seja, essa dinamica nos é propria. Logo, interpretar os acontecimentos sociais por esse prisma se faz pertinente, pois condiz com o que vivemos naturalmente.

    MAS PROPONHO UMA OUTRA QUESTAO: Por esta pertinencia, se indentifica o valor dessa visao. Mas esta delimita a interpretaçao do comportamento social, deixando de lado as questoes materiais e pessoais, subjetivas. Quando se define o comportamento social como tudo aquilo que emerge da interaçao e livre iniciativa entre as pessoas, se deixa de fora esses outros aspectos que podem (talvez indiretamente, apenas) influenciar os fenomenos sociais. O quanto a individualidade e o plano exterior, fisico, tambem nao afetam as manifestaçoes sociais? Parece que fica meio abstrato o estudo das redes sem esses outros fatores. Nao da pra imaginar o comportamento de um cardume sem ter a agua, ou uma revoada sem ter o vento na cena. O que eu quero dizer é que nao se pode descartar outros fatores e determinar que só o estudo das redes é proprio para analizar o comportamento social. Talvez a descoberta das redes tenha um apelo forte pela novidade, mas acho que nao se deve descartar tudo o mais que se estuda que pode afetar o social. – social social social, pra ser mais reduntante ainda!! heheh- Portanto, gostaria de saber a opiniao dessa rede aqui sobre isso!

  • Fernando Lasman

    Eu acho que se falamos em rede ja propomos uma logica, uma interpretaçao do social que tem suas caracteristicas proprias. Portanto, trocando as palavras (tentando deixar explicito) a questao do consenso ficaria assim: “nessa visao do comportamento social, que surge da pela esponteneidade da interaçao e das iniciativas das pessoas, as decisoes dum conjunto social devem acontecer de forma que todos se conformem a mesma opiniao”. Ou seja, ou a decisao fica pra probabilidade infima de todos expressarem a mesma opiniao ao mesmo tempo, ou a decisao nao esta condicionada pela pluralidade e liberdade das opinioes do conjunto. Esta, logo, nao se alinha a dinamica espontanea de comportamento social que se entende pela visao de redes.

    Acho que a chave das redes é perceber que qualquer comportamento comum que se enxerge das pessoas é consequenca direta (dos graus de variaçao) da liberdade de iniciativa e interaçao que haja entre elas. Esse, ao meu ver, é o carro-chefe. Caso haja comportamenos comuns que nao sejam consequencias dessas coisas ou nao se fala em rede, ou se fala o contrario.

    Mas acho que a ideia mais fudamental é perceber que humanos entao em rede inerentemente. Ou seja, essa dinamica nos é propria. Logo, interpretar os acontecimentos sociais por esse prisma se faz pertinente, pois condiz com o que vivemos naturalmente.

    MAS PROPONHO UMA OUTRA QUESTAO: Por esta pertinencia, se indentifica o valor dessa visao. Mas esta delimita a interpretaçao do comportamento social, deixando de lado as questoes materiais e pessoais, subjetivas. Quando se define o comportamento social como tudo aquilo que emerge da interaçao e livre iniciativa entre as pessoas, se deixa de fora esses outros aspectos que podem (talvez indiretamente, apenas) influenciar os fenomenos sociais. O quanto a individualidade e o plano exterior, fisico, tambem nao afetam as manifestaçoes sociais? Parece que fica meio abstrato o estudo das redes sem esses outros fatores. Nao da pra imaginar o comportamento de um cardume sem ter a agua, ou uma revoada sem ter o vento na cena. O que eu quero dizer é que nao se pode descartar outros fatores e determinar que só o estudo das redes é proprio para analizar o comportamento social. Talvez a descoberta das redes tenha um apelo forte pela novidade, mas acho que nao se deve descartar tudo o mais que se estuda que pode afetar o social. – social social social, pra ser mais reduntante ainda!! heheh- Portanto, gostaria de saber a opiniao dessa rede aqui sobre isso!

  • Jacques Schwarzstein

    Ficaria grato se alguém pudesse discorrer um pouco sobre a ideia de “lógica da escassez”. Agradeço desde já.

  • Jacques Schwarzstein

    Ficaria grato se alguém pudesse discorrer um pouco sobre a ideia de “lógica da escassez”. Agradeço desde já.

  • Marcelo Yamada

    No contexto das redes como as temos definido neste curso, a troca do termo “decisão” por “escolha” não tornaria a compreensão mais clara?

    Entendo também que a afirmação de que “nessas estruturas (as hierárquicas) o que está em jogo não é a funcionalidade do organismo coletivo e sim o poder de mandar nos outros, quer dizer, a capacidade de exigir obediência ou de comandar e controlar os semelhantes” tem o objetivo de polemizar e portanto causar discussão – mas não podemos desenvolver o conhecimento sobre o funcionamento das redes às custas da distorção da mecânica de funcionamento das estruturas hierarquizadas. Elas têm em geral um propósito claramente definido e, nesse contexto, decisões são tomadas (com maior ou menor participação dos membros) como parte da trajetória em direção a um objetivo conhecido por todos – e não apenas como exercício de dominação.

    • augustodefranco

      Marcelo, tanto faz se alguém escolhe para os outros. De qualquer modo, é sempre o poder de mandar nos outros ou de comandar-e-controlar que está em jogo em estruturas hierárquicas. Não há uma distorção da “mecânica de funcionamento de estruturas hierárquicas”: você conhece alguma que não seja regida por modelos de gestão baseados em comando-e-controle?

  • Marcelo Yamada

    No contexto das redes como as temos definido neste curso, a troca do termo “decisão” por “escolha” não tornaria a compreensão mais clara?

    Entendo também que a afirmação de que “nessas estruturas (as hierárquicas) o que está em jogo não é a funcionalidade do organismo coletivo e sim o poder de mandar nos outros, quer dizer, a capacidade de exigir obediência ou de comandar e controlar os semelhantes” tem o objetivo de polemizar e portanto causar discussão – mas não podemos desenvolver o conhecimento sobre o funcionamento das redes às custas da distorção da mecânica de funcionamento das estruturas hierarquizadas. Elas têm em geral um propósito claramente definido e, nesse contexto, decisões são tomadas (com maior ou menor participação dos membros) como parte da trajetória em direção a um objetivo conhecido por todos – e não apenas como exercício de dominação.

    • augustodefranco

      Marcelo, tanto faz se alguém escolhe para os outros. De qualquer modo, é sempre o poder de mandar nos outros ou de comandar-e-controlar que está em jogo em estruturas hierárquicas. Não há uma distorção da “mecânica de funcionamento de estruturas hierárquicas”: você conhece alguma que não seja regida por modelos de gestão baseados em comando-e-controle?

  • Fatima Melca

    Tomar decisão em rede? Na rede encontramos o coletivo. Aquele grupo que você compartilha,troca, ressignifica, junta, separa, mistura, quantas vezes quiser. Depois? É depois.Mas naquele momento é o que te liga, é o que te move. Necessidade de tomar decisão? Isso é um imperativo. Não combina com rede, que tudo move, tudo muda e assim vai.Concordar com tudo é complicado. Um holograma nos permite ver tantas coisas, que para uns é a verdadeira imagem e para outros não, simplesmente porque não viram pelo mesmo angulo/modo.Em rede estamos interagindo. Tudo está na troca, no fluxo, no compartilhamento.

    • Fernando Baptista

      Sim, grandes decisões quase nunca são necessárias, as direções dos fluxos emergem a partir das pequenas decisões das pessoas-rede.

      • Jacques Schwarzstein

        Bom!!!

      • Fernando, mas essas decisões das pessoas não são pequenas! Elas são sempre *a* decisão, por isso, parece-me que são totalmente enormes. A rede apenas potencializa isso. Ao juntar cada decisão pessoal—gigantes, na individualidade de cada um—a rede tende a criar aquela noção da força dos vários gravetos juntados e tal.

    • Fátima, cada troca e compartilhamento pressupõe uma decisão pessoal. Parece-me que as redes nos servem para dar fluidez a esse processo decisório. Não assisti aquele filme do entregador da Fedex perdido numa ilha, mas li sobre ele conversar com a bola da Nike… A necessidade de trocar infos é essencial, mas a decisão de pular no mar é pessoal.

      • Fernando Baptista

        Não era Nike, era Wilson!! Hehe… isso é fundamental no filme e na nossa conversa! Ele personalizou a bola, tinha emoções por ela.

      • Fatima Melca

        Sim a decisão é pessoal, não existe consenso. Não ´´e porque todosmpulam que vc vai pular. Ou você interage com o grupo que te parece bom para você, ou você vai interagir com outo coletivo, outras pessoas, ou não interage.Se voce não interage com aquele coletivo, não há porque pular. Tem que se pensar em sincronização e comportamento emergente.

  • Fatima Melca

    Tomar decisão em rede? Na rede encontramos o coletivo. Aquele grupo que você compartilha,troca, ressignifica, junta, separa, mistura, quantas vezes quiser. Depois? É depois.Mas naquele momento é o que te liga, é o que te move. Necessidade de tomar decisão? Isso é um imperativo. Não combina com rede, que tudo move, tudo muda e assim vai.Concordar com tudo é complicado. Um holograma nos permite ver tantas coisas, que para uns é a verdadeira imagem e para outros não, simplesmente porque não viram pelo mesmo angulo/modo.Em rede estamos interagindo. Tudo está na troca, no fluxo, no compartilhamento.

    • Fernando Baptista

      Sim, grades decisões quase nunca são necessárias, as direções dos fluxos emergem a partir das pequenas decisões das pessoas-rede.

      • Jacques Schwarzstein

        Bom!!!

      • Fernando, mas essas decisões das pessoas não são pequenas! Elas são sempre *a* decisão, por isso, parece-me que são totalmente enormes. A rede apenas potencializa isso. Ao juntar cada decisão pessoal—gigantes, na individualidade de cada um—a rede tende a criar aquela noção da força dos vários gravetos juntados e tal.

        • Fernando Baptista

          Duas perguntas, Cassiano: 1) Como a rede junta decisões pessoais? e 2) O que é a noção da força dos vários gravetos?

          • 1) Ué? Na medida em que ela possibilita a ligação entre as pessoas. Se há uma tendência, digamos, de protesto por algo, há igualmente uma tendência das pessoas expressarem isso: uma pessoa sentada na praça nào significa muita coisa; um milhão de pessoas numa praça no mesmo dia e hora ganha repercussão internacional. A rede ajuda a juntar essas decisões, mas opera como catalizadora, não como agente. O muro de Berlin caiu em algum momento em função dos agentes que já haviam decididos por isso ao longo de vários anos anteriores; uma internet ali apenas faria o processo virar mais rápido.

            2) ah… os gravetos é aquele papo do pai chinês, que pede união aos filhos e tal. Um graveto se quebra facilmente, uma rama é mais forte. Voltando ao exemplo acima, uma pessoa na praça é apenas um graveto, já um milhão tem lá seu impacto.

          • Fernando Baptista

            Ok, Cassiano, vamos nos concentrar na 1)… é importante atentar a que o que liga as pessoas são as mídias (e não a rede), aquela questão lá dos mitos 1 e 2… quando estamos falando aqui de rede, estamos falando do padrão no qual as pessoas estão ligadas (interagindo)… nesse sentido, uma coisa “em rede” é uma situação na qual as pessoas estão interagindo de maneira distribuída (cada pessoa acoplada a uma grande quantidade de pessoas ao seu redor, formando um tecido, e ninguém submetido a autoridades superiores – situação também às vezes chamada de P2P)… quando essa situação se dá, existe uma altíssima influência das pessoas umas nas outras… a decisão de uma pessoa reverbera nas outras que estão ao seu redor, que por sua vez também vão decidir algo em algum momento, reverberando também em todas ao redor (inclusive de volta na primeira)… é uma dança de decisões, de mudanças de opinião, de aprimoramentos e surgimentos de novas opiniões, multiplos vai-e-vens… assim o que se dá não é uma agregação (soma) de decisões (como seria uma contagem na qual a que tem mais votos ganha), mas uma dinâmica na qual as decisões vão se transformando, e emergem vários fluxos de ações que se movem, se dividem, se juntam novamemre de modo distinto… essa é a dinâmica que caracteriza, por exemplo, um enxameamento (um fenômeno que só pode acontecer numa situação na qual as pessoas estão em rede distribuída). Percebe a diferença disso pra uma situação na qual indivíduos votam pra escolher algo em uma eleição? (na qual supostamenre se somariam as preferências cristalizadas de cada um)

          • ahhh…bom, ​Fernando, ​entendi agora, e ​isso é um achado na nossa conversa:​ “. . . o que l​​iga as pessoas são as mídias (e não a rede), aquela questão lá dos mitos 1 e 2… quando estamos falando aqui de rede, estamos falando do padrão no qual as pessoas estão ligadas (interagindo)… nesse sentido, uma coisa “em rede” é uma situação na qual as pessoas estão interagindo de maneira distribuída​. . .”

            ​A) ​Sensacional o esclarecimento, vou reler os mitos 1 e 2, pois não tenho certeza de que a clareza acima está lá.

            Dito isso, ou seja, ao assumir que as redes discutidas aqui referem-se apenas às interaç​ões​, não aos meios,​ isso me leva a fazer a seguinte provocação aplicada: ​vcs conseguem imaginar ​uma rede de pessoas interagindo sem “mídias” entre si​?? Qual? Curioso pra conhecer uma.

            Antes de responder, creio ser importante considerar que “nossa pátria é nossa língua”, portanto, a linguagem é *a mídia* quando estamo​s​ totalmente despidos de outros meios, confere? Ok, ​​podemos radicalizar a experiência mental e imaginar a interação pré-linguagem. Mas isso não é humanidade. Ou é??​

            Também não vale dizer que existem as linguagens não verbais, como a dança dos acasalamentos. Elas continuam linguagem e a “mídia” é o corpo, seus sinais e cheiros. Ou seja, bacana a linha acima, porém é uma definção que não me parece universal: ela só funciona quando se tem uma “mídia” externa para negar, ou seja, essa mesma que nos liga aqui, a tal internet. Na boa, Fernando, não sou muito científico, principalmente nessa área em que vcs estão operando, mas essa sua definição não tem a amplitude necessária ao meu ver. Se toda a conversa aqui parte desse entendimento, de que existem fluxos sem meios, então, Huston, temos um problema. Não?​

            ​B) Sobre perceber a diferença entre a dinâmica do enxameamento, uma dinâmica na qual as “decisões vão se transformando”, versus voto, em nenhum momento me preocupei em discutir voto ou os tais mecanismos participativos nas minhas conversas até agora. Meu foco é o entendimento de que as decisões são pessoais e soberanas, e dentro disso cabe todo o tipo de influência, experiência, conhecimento e tal. Voto ou hierarquias podem ocorrer, mas não estou tratando disso, minha questão é anterior.

            Vamos em frente!

          • Fernando Baptista

            No meu ver, toda interação tem mídia, a não ser talvez quando corpos estão se tocando (mas talvez no nível molecular também tenha, não tenho certeza)… o ar, que carrega o som das nossas palavras é mídia… os idiomas também… e a luz que reflete no mundo e inunda nossas retinas. Vejo tudo aquilo que conecta nossas percepções e nos permite exercer influência uns nos outros como mídia.

    • Fátima, cada troca e compartilhamento pressupõe uma decisão pessoal. Parece-me que as redes nos servem para dar fluidez a esse processo decisório. Não assisti aquele filme do entregador da Fedex perdido numa ilha, mas li sobre ele conversar com a bola da Nike… A necessidade de trocar infos é essencial, mas a decisão de pular no mar é pessoal.

      • Fernando Baptista

        Não era Nike, era Wilson!! Hehe… isso é fundamental no filme e na nossa conversa! Ele personalizou a bola, tinha emoções por ela.

      • Fatima Melca

        Sim a decisão é pessoal, não existe consenso. Não ´´e porque todosmpulam que vc vai pular. Ou você interage com o grupo que te parece bom para você, ou você vai interagir com outo coletivo, outras pessoas, ou não interage.Se voce não interage com aquele coletivo, não há porque pular. Tem que se pensar em sincronização e comportamento emergente.

  • Cris Kruel

    Isto me fez retornar ao Módulo 7 – As redes precisam ter propósito? Se não precisam, então é pouco provável que precisem “tomar decisões”. Mas se a rede – por qualquer razão – tiver que tomar uma decisão qual a melhor maneira de fazê-lo? E se qualquer um poderia entrar e sair, e eventualmente retornar, isto significa que os vencidos e incomodados que se retirem?

    • augustodefranco

      Não há o conceito de vencido, a menos que haja hierarquia. Incomodados pode haver, mas neste caso eles simplesmente se conectam e interagem com outras pessoas que não os incomodem.

    • Fernando Baptista

      Colocando de outra maneira, se uma rede precisa ter propósito e precisa tomar certas decisões, isso quer dizer que topológicamente ela já é menos rede (é menos distribuída).

    • Cris, tendo a julgar que todas as redes têm um propósito. E sempre a ideia de decisão está incluída, pois estamos o tempo todo, desde ao acordar até dormir, tomando decisões.

  • Cris Kruel

    Isto me fez retornar ao Módulo 7 – As redes precisam ter propósito? Se não precisam, então é pouco provável que precisem “tomar decisões”. Mas se a rede – por qualquer razão – tiver que tomar uma decisão qual a melhor maneira de fazê-lo? E se qualquer um poderia entrar e sair, e eventualmente retornar, isto significa que os vencidos e incomodados que se retirem?

    • augustodefranco

      Não há o conceito de vencido, a menos que haja hierarquia. Incomodados pode haver, mas neste caso eles simplesmente se conectam e interagem com outras pessoas que não os incomodem.

    • Fernando Baptista

      Colocando de outra maneira, se uma rede precisa ter propósito e precisa tomar certas decisões, isso quer dizer que topológicamente ela já é menos rede (é menos distribuída).

    • Cris, tendo a julgar que todas as redes têm um propósito. E sempre a ideia de decisão está incluída, pois estamos o tempo todo, desde ao acordar até dormir, tomando decisões.