O único fundamento da aprendizagem tipicamente humana é a liberdade (que depende da livre-interação entre pessoas).
marcelomaceo
Estes dois trechos abaixo de Tolstoi podem ajudar nesta hipótese:
“Encontrei involuntariamente a resposta a esta pergunta em Marselha, quando, depois de visitar as escolas, passeei pelas ruas, tabernas, cafés chantants, museus, oficinas, cais e livrarias. […]
O que vi em Marselha, vi em todos os outros países: o povo recebe a maior parte da instrução não na escola, mas na vida. Onde a vida é instrutiva, como em Londres, Paris e nas grandes cidades, o povo é instruído; onde a vida não é instrutiva, como nas aldeias, o povo não é instruído, não obstante as escolas serem totalmente iguais em ambos os lugares. Os conhecimentos adquiridos na cidade como que ficam, os conhecimentos adquiridos nas aldeias perdem-se. A orientação e o espírito da instrução do povo, tanto nas cidades como nas aldeias, são totalmente independentes e, muitas vezes, contrários ao espírito que se pretende introduzir nas escolas populares. A instrução segue um caminho independente do da escola.”
“Reconheçamos, finalmente, a lei da história da pedagogia e da história de toda a instrução que nos diz claramente que para o professor saber o que é bom ou mau, o aluno deve ter todo o poder de manifestar a sua insatisfação ou, pelo menos, de afastar-se da instrução que, segundo o seu instinto, não o satisfaz, que o critério da pedagogia é só um: a liberdade.”
Tolstoi percebeu que a escola não fornecia a liberdade necessária para ocorrer aprendizagem, ao contrário do que ele encontrou pelas ruas de várias cidades.
Me incomoda um pouco Tolstoi, apesar de defender a liberdade como critério pedagógico, buscar um dito critério pedagógico. Me parece que ele termina seu texto abrindo um caminho para o que poderia ser uma pedagogia mais livre, e criar um método baseado nisso. Posso estar enganado, mas se for isso, me parece que Tolstoi precisava ainda se livrar dessa ideia, rsrs. Ainda que este próximo trecho, indique um pouco a contradição que era isso:
“Todos, de Platão a Kant, desejam uma coisa: libertar a escola dos nós históricos que pendem sobre ela, querem adivinhar as necessidades do homem e, com base nestas necessidades, adivinhadas com maior ou menor exatidão, construir a sua nova escola. Lutero obrigava a estudar as Sagradas Escrituras pelo original, e não pelos comentários dos santos padres. Bacon obrigava a estudar a natureza na própria natureza, e não pelos livros de Aristóteles. Rousseau quer estudar a vida na própria vida, como ele a compreende, e não nas experiências do passado. Cada passo em frente da filosofia da pedagogia consiste em libertar a escola da ideia de ensinar às jovens gerações o que as gerações velhas consideravam ciência e em enveredar pela ideia de ensinar o que é necessário às gerações jovens. Esta ideia comum e ao mesmo tempo contraditória está patente em toda a história da pedagogia. É comum porque todos exigem mais liberdade para a escola, contraditória porque cada um prescreve as leis baseadas na sua teoria e, deste modo, limita a liberdade.”
Ainda sobre a presente hipótese, este outro trecho pode ajudar:
“A necessidade de aprender vive em cada pessoa; o povo ama e procura aprender como ama e busca o ar para respirar.”
Qualquer restrição de liberdade, do ponto de vista da aprendizagem, passa a ser uma restrição ao que é vivo em cada pessoa. Talvez aqui possamos depois trazer alguns conceitos de liberdade, no sentido de que ela só existe na medida da liberdade do outro, ou seja, se há interação.
marcelomaceo
ll
marcelomaceo
O único fundamento da aprendizagem tipicamente humana é a liberdade (que depende da livre-interação entre pessoas).