Minha orientadora, tanto do mestrado quanto do doutorado, professora Débora Pereira Laurino, foi orientanda da professora Lea Fagundes da UFRGS e tem vasta experiência com a Metodologia de Projetos de Aprendizagem.Foi através de sua orientação que tive a grata satisfação de conhecer a metodologia e trabalhar com ela. Muitas pesquisas tem sido geradas a partir dessas ações e elas têm mostrado que nem tudo são flores. Apesar de ter iniciado seus estudos e conhecer com profundidade Jean Piaget, em seu doutorado professora Débora embasou sua pesquisa em Maturana e Varela e desde então têm orientado dissertações e teses de investigações embasadas nesses teóricos. Temos um grupo de pesquisa na FURG que se reune toda a semana para estudar, investigar a escola com base nas teorias de Maturana e Varela. Apesar dos avanços nas investigações, o processo é lento, principalmente se desencadeado dentro de uma instituição formal. Acreditamos que a forma como se lida com a educação tem que mudar, mas temos um longo caminho entre a teoria e a prática. Talvez tenhamos que encontrar um “caminho do Meio” para conseguir mudar essa cultura da reprodução.
Gostei do “Destituir tribunais Epistemológicos”! Com certeza será preciso uma árdua e duradoura Luta, uma verdadeira REVOLUÇÃO”.
Ivane Almeida Duvoisin
Interessante a proposta de ambientes livres de aprendizagem – Open Lets.
Fico aqui pensando se isso funcionaria em uma escola regular. Tenho alguma vivência em espaços abertos.
Desde 2004 quando fiz meu mestrado na Educação Ambiental tive oportunidade de implementar uma metodologia de Projetos de Aprendizagem com um grupo de professores da educação básica. Trabalhamos juntos durante um ano. A proposta era precisamente essa, baseada na investigação. Os professores deveriam escolher sobre oque desejavam investigar, oque desejavam saber? A partir do seu foco de interesse e de questionamentos ( dúvidas iniciais) elaboradas por eles próprios iriam se movimentando na busca de informações e soluções criativas.
A maior dificuldade que detectamos é que ao darmos essa liberdade os professores não sabiam oque queriam pesquisar. (Seria isso devido a nossa cultura?). Além disso, muitos perdiam o interesse e desistiam da investigação diante das primeiras dificuldades e entraves. Como mantê-los motivados?
Outra questão foi a falta de profundidade nas investigações. Elas acabavam sempre ficando na superficialidade, não havia o esforço espontâneo para ir além do senso comum.
Fico pensando:Se isso ocorre com professores, que estavam no curso por livre e espontâneo desejo de aprender, como esperar que o comportamento seja diferente com crianças, adolescentes?
São inquietações que possuo, desde que venho trabalhando com metodologias mais abertas, com o foco de investigação partindo dos estudantes.
Também, atuei no Projeto ESCUNA, coatuando com professores e estudantes da escola pública do Ensino Fundamental. Não foi diferente. Os projetos acabavam sem grandes inovações, no senso comum. A investigação não seguia avante. Os estudantes não passavam mais do que duas semanas na mesma investigação. Queriam trocar de assunto, tão logo se deparavam com as dificuldades e se fosse necessário um esforço maior.
marcelomaceo
Ivane, minha experiência me diz que se tentarmos mudar a escola, o resultado será infeliz. Eu também já tentei realizar projetos inovadores dentro de escolas com esperança de mudança geral. Já fiz o mesmo dentro de pequenas e grandes corporações (que possuem dinâmicas bem diferentes). Não muda. O Augusto de Franco tem farta experiência com isso também. Por que não muda? Identifiquei que o problema está no padrão de organização dessas instituições. Para mudar uma escola (ou uma empresa, universidade etc), é preciso alterar o “hardware” com que ela está organizada. Não basta mudar o “software”, pois o “hardware” reprograma tudo com o tempo. Só que mudar a estrutura organizacional dessas instituições implica diretamente em mudar as relações de poder, e percebemos como os papéis que assumimos dentro dessas instituições nos forçam a proteger o que temos, e não nos abrirmos a outras possibilidades…
Agora, todas as experiências realizadas foram ótimas! Muito gratificantes para todos! Intensas, criativas e inovadoras. Mas são, como costumamos dizer, bolhas dentro daquela estrutura. E com a fragilidade de uma bolha. Não há poque ter a meta de criar uma mudança deste porte. Talvez, com uma recorrência de várias bolhas sendo criadas, isso crie uma perturbação no campo social que talvez dê ignição em uma mudança estrutural no meio. Mas nos parece que o ambientes de aprendizagem é algo muito mais lírico do que épico. Costumamos usar muito os princípios do Open Space, que é uma outra tecnologia social incrível que trabalha em conjunto com nossa proposta:
1. a pessoa que vem é a pessoa certa.
2. aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido.
3. toda vez que você iniciar é o momento certo.
4. quando uma coisa termina, termina.
Mariana Rego
Interessantíssimo, mas tenho que dizer que ainda vejo muitas dificuldades na utilização prática destes conceitos. Talvez eu esteja muito bem doutrinada no nosso sistema reproducionista e com fortes influências hierárquicas, mas sinto a aplicação deste conteúdo muito distante da nossa realidade.
Quando se fala em “não estabeleça temas obrigatórios” isso não nos impossibilita de ter temas estruturados, certo?
E quando falamos em não organizar salas de aula, como deveríamos então configurá-las de maneira a deixá-las mais preparadas para se tornarem ambientes inovadores?
Estou gostando muito dos conteúdos, mas sinto um certo distanciamento da prática. Onde podemos ver exemplos práticos da aplicação destes conceitos para que possa me ajudar na abstração do conteúdo?
Obrigada!!
marcelomaceo
Oi Mariana, obrigado pelo seu feedback!
Creio que a maioria das suas dúvidas serão respondidas nos próximos módulos! Siga adiante e não deixe de interagir aqui com a gente!
Lembre-se que a tecnologia desenvolvida e proposta aqui pelo Humana.Social, pode ser vista como uma referência para a criação de ambientes que estimulem a inovação, a criatividade, a colaboração. Não utilizá-la 100% não quer dizer que você não terá algum nível desses atributos, pois tudo é um gradiente, e não dois lados que não se misturam como azeite e água. Portanto, você pode sim ter alguma estrutura, você pode sim pensar em um “meio-termo” adequado à sua realidade, o que vai acontecer, é que estaremos aumentando algo participativo em detrimento ao interativo, aumenta o ensino e diminui a aprendizagem, aumenta a reprodução e diminui a criação/invenção, aumenta o estímulo à competição e diminui ao da colaboração.
Temos sim muitas experiências práticas, aplicadas desde em escolas, comunidades, universidade e até em instituições do governo. Deixo aqui pras pessoas irem compartilhando suas experiências à medida que forem vendo nossas interações! E boas festas! 😉
Mariana Rego
Obrigada Marcelo! Realmente, acredito que parte de cada um de nós ter discernimento para aplicar este conteúdo de forma adequada em nosso trabalho! Aos poucos vamos caminhando na construção de ambientes realmente inovadores!
Um abraço e feliz 2017!
Ivane Almeida Duvoisin
Ah! Gostei Marcelo. Acredito que ir avançando, criando fissuras no sistema, é o “caminho do meio”, um dia, talvez atingiremos nossa utopia!
Maria da Conceição dos Reis Le
Muito interessante o conceito de “Open Spaces”. Não podemos obrigar ao indivíduo a aprender. Não se ensina ninguém a aprender!!! A interação humana em si gera aprendizagem. Infelizmente nos espaços escolares o processo de aprendizagem é extremamente controlado, não só pela instituição, mas principalmente por uma sociedade que exige por um produto final, previamente imaginado – um conjunto de conhecimentos que levarão o aluno ao sucesso nos concursos vestibulares e ao ingresso na tão sonhada universidade.
Penso que o maior desafio para a configuração de ambientes favoráveis à aprendizagem criativa é justamente a quebra dessa relação, que impõe às instituições de ensino o que deve ser ensinado e para que deve ser ensinado.
Quebrar essa relação significa criar novas relações, novas dinâmicas educacionais. Por isso é tão importante experimentarmos ambientes interativos de aprendizagem.
Angélica
DESAFIO 3
Faça uma lista de dificuldades que você provavelmente encontrará para configurar ambientes favoráveis à aprendizagem criativa …
• Alunos, responsáveis e gestores imersos em ambientes que não são criativos, esperando que professores ensinem, orientem, conduzam e instrumentalizem.
• Alunos, responsáveis e gestores que só fazem investimentos mediante garantia de resultados.
• Existência de resultados aparentemente bem sucedidos que não se pretende pôr em risco.
• Alunos sobrecarregados pela aprendizagem formal.
Muito interessante, Angélica. Veja a força que tem a configuração de um ambiente…
claudia goulart
Concordo em parte com o texto que já li até agora desta unidade.
Acredito que tanto a escola quanto a universidade tolem a criatividade do aluno. Mas para esta mudança ser eficaz, seria necessário uma política para o desenvolvimento pleno de sua estrutura e não vejo que isto seja interesse de nenhum governo. No entanto, acredito que os trabalhos científicos e suas publicações se fazem necessário para o avanço da ciência. Não vou entrar no mérito da politica de publicação, pois discordo do estresse e forma. Mas, tenho crescido com vários escritos publicados.
Já a construção coletiva em rede. Isto acredito que as interações sociais dentro do amvbiente acadêmico pode ser bem mais enriquecedor do que hoje tem sido.
Claudia, tem muita coisa interessante acontecendo nas universidades — mas muito mais apesar de sua estrutura do que devido a ela. Por isso novos formatos são cada vez mais necessários para impulsionar a pesquisa e a descoberta. Precisamos de novas experiências. Não creio muito nessa capacidade de grandes políticas governamentais mudarem isto, e um pequenas experiências locais que vão acontecendo.
Já indiquei aqui, mas faço questão de indicar de novo.
um abraço!
Thiago Bessa Pontes
Posso entender que o OST de Owen são ambientes de iivre aprendizagem, ok?
Débora Duran
Fiquei alguns dias ausente devido ao acúmulo de trabalho e agora retomei as leituras e a reflexão. Li atentamente as mensagens da semana anterior, pois alguns colegas ainda não haviam chegado quando postei minha mensagem.
A meu ver, o currículo, cuja origem etimológica está relacionada à ideia de caminho, bem como o ensino, não são problemas em si. Como o desenvolvimento cognitivo depende dos esquemas mentais construídos, o ponto de partida não pode ser aleatório (ainda que no caso dos adultos essa minha afirmação possa ser relativizada). Pra mim, a grande questão é a dinâmica que envolve os currículos e os processos de ensino e aprendizagem. Temos a educação formal, informal e não-formal e, de um jeito ou de outro, vivemos ensinando e aprendendo. Nesse sentido, penso que o grande desafio esteja relacionado aos modos pelos quais mobilizamos as situações de aprendizagem – com ou sem ensino.
Para desconstruir ambientes conservadores, penso que a mensagem do Marcelo, que foi postada no fórum anterior, é uma luz no fim do túnel: a liberdade de fluxo é fundamental. Hoje vou dormir pensando nessa mensagem, podem acreditar.
Sobre a universidade e o currículo Lattes (que nem sempre mordes), considero muito oportunas e realistas as afirmações do texto. De fato, há mais imitadores do que criadores, como diria Pedro Demo, para quem os orientadores geram discípulos e raramente novos mestres.
Adorei as colocações sobre “produzir artificialmente escassez onde já há abundância de meios de publicações” e a “arte da guerra” dos departamentos. Quem já passou pelas bancas sabe bem o que é isso, pois o conhecimento dito científico fica mais na dependência dos (des)gostos subjetivos do que dos critérios objetivos.
Sim, Thiago. Minha experiência prática mostra que todos os Open Spaces tornam-se ambientes de livre aprendizagem, mesmo que não tenham sido criados com esta intenção explícita. O arcabouço da Teoria Interativista da Aprendizagem (ainda em construção) explica essa correlação. Portanto, tanto na observação prática, quando na formulação teórica sobre a aprendizagem humana, podemos sustentar que os Open Spaces são ambientes de livre-aprendizagem.
Abraço
Priscilla Silveira
Responderei com uma frase a todas as perguntas que já fiz nos fóruns anteriores: para de querer aprisionar, Priscilla! Será um exercício constante a partir de agora toda vez que eu quiser pensar em ambientes inovadores para a aprendizagem.
Estou encontrando conceitos e contextos que por algum motivo estão latentes em mim, e por isso estou me identificando muito com tudo o que vem sendo apresentado. Explica com clareza, minha história acadêmica.
Estou desenvolvendo ‘quase solitário’ e, portanto com poucas oportunidades de co-criação, um processo de formação dirigido a um público específico (acho que vou ter que rever essa colocação ‘formação’) em que procuro inovar.
Eu gostaria de estabelecer uma interlocução a respeito, é possível? Minha expectativa é averiguar se é algo Inovador como penso que seja e o que poderia ser melhorado/corrigido para, inovando, possibilitar “acontecer a única coisa que poderia ter acontecido”, “no momento certo”, “com as pessoas certas”.