Agora me deu um nó. “somente as redes podem aprender?” Como assim?
O que é o aprender?
Meu entendimento sobre como acontece a aprendizagem é de que ela ocorre na interação social, porém, que a aprendizagem é de cada indivíduo. São as “redes qie aprendem?” ou somos nós que aprendemos na s Redes sociais? Entendo que a aprendizagem acontece quando estabelecemos conexões com conhecimentos e vivências anteriores, quando o conhecimento novo ancora-se em nossas experiências e vivências, portanto a aprendizagem é do sujeito e não da rede. Estaria eu enganada?
augustodefranco
Ou Ivane, o que está dito é que tudo que aprende tem o padrão de rede, como o seu cérebro, por exemplo, que é uma rede neuronal com topologia mais distribuída do que centralizada. Aprender não apreender o mundo e sim mudar com o mundo, como diz o Maturana. Ora, só o que tem o padrão de rede pode fazer isso, se adaptar continuamente e congruentemente às mudanças do meio ou das circunstâncias. Sim, são sempre redes que aprendem, mas é preciso entender o que é rede. No caso da aprendizagem humana, as redes em questão são redes sociais e redes sociais não são mídias sociais (como o Facebook ou o Twitter), não são instrumentos, ferramentas, dispositivos, tecnologias e sim pessoas interagindo. Em rede somos pessoas, não indivíduos isolados, como se fôssemos íons vagando num meio gelatinoso. Em rede, nós, os humanos propriamente ditos, somos pessoas, emaranhados de relacionamentos. Por isso pode-se dizer que pessoa já é rede. A aprendizagem, numa visão interativista, não é cognitivista. Dizer que ela é interativista significa dizer que o conteúdo não é determinante (não é a transmissão ou a absorção ou o arquivamento de um conteúdo e é por isso que pode-se dizer que as interações não são instrutivas). Para aprofundar este ponto leia esta página do Humana: http://humana.social/a-visao-interativista/
Ivane Almeida Duvoisin
Olá Augusto: Sim, compreendo e concordo que “tudo que aprende tem padrão de rede”, também acredito que “aprender não é apreender e sim mudar no, com o mundo”. Também compactuo com a ideia dw que a transmissão, a absorção, ou arquivamento de conteúdo não se caracteriza como “aprendizagem”. Também compreendo a respeito das limitações da visão cognitivista sobre aprendizagem e que precisamos superá-las: 1) a ideia de representação; 2) A forte dicotomia entre sujeito -objeto ; a previsaõ de etapas de desenvolvimento previsível; o privilegiamento do pensamento lógico-formala dependência de captação externa para a construção da realidade. O que me causou estranheza foi a afirmação: “são as redes que aprendem”, por que compreendo a “aprendizagem” como sendo do organismo fechado.
Mas o que desencadeia a aprendizagem é a relação que se estabelece entre vivo-meio-vivo. O organismo se autogere, mas só o faz na relação com outros organismos. ( ou seja estando em Rede) Isso quer dizer que não é possível determinar quais as ações subseqüentes num processo autopoiético. Mas é possível saber que o vivo age e re-age diante das circunstâncias, já que vai organizando seu conhecer a partir do próprio ato de viver. (No meu entendimento é “este ato de organizar o seu conhecer a partir do ato de viver” que gera a aprendizagem, por isso digo que quem aprende é a pessoas, o indivíduo e não as “redes”. Para mim as Redes são o meio que propicia a aprendizagem.
Cabe aqui salientar que não considero as Redes como sendo as diversas mídias: facebook, oukut. Considero Redes Sociais na concepção de Maturana:
augustodefranco
Sim, Maturana tratou da autopoiese. Nós estamos falando de alterpoise. A diferença é fundamental porque o modo como os seres vivos aprendem (inclusive o ser humano) é uma coisa. Mas o ser humano também aprende de outro modo, que é tipicamente social. É o que chamamos de aprendizagem tipicamente humana. Se você já leu o texto que vai linkado a seguir poderá perceber a diferença, que é muito importante: http://humana.social/a-visao-interativista/
marcelomaceo
hehe, dá nó mesmo Ivane. Vamos trocar algumas ideias sobre isso. Estamos em processo de investigação dessa visão interativista. Vi vários comentários seus por lá que talvez possamos resumir aqui.
No seu questionamento, se não estiver enganado, talvez tenha identificado alguns pressupostos que embasam seu questionamento. Dentre eles, destaco o entendimento de que redes sociais são INDIVÍDUOS interagindo e não pessoas. Assim, apesar de chamar o processo interacionista de redes sociais, vê-se apenas grupos de indivíduos (e não rede de pessoas). Outra, talvez uma certa confusão ainda entre ensino e aprendizagem, uma vez que ao focar no conhecimento ou em um processo que é cognitivista, apenas se vê a informação que é transmitida e não o acoplamento estrutural que possibilita, de fato, uma aprendizagem.
Aprender, neste ponto de vista, é mudar com o mundo. Ou seja, o acoplamento estrutural de que fala Maturara e Varela e que serviu para o entendimento de como ocorre aprendizagem em seres vivos é uma “coordenação de coordenação de comportamentos”. O relevante não é a informação transmitida, e sim a “dança comportamental” que ocorre durante o processo interacional. Assim, a aprendizagem é este processo e não uma finalidade (por exemplo, a transmissão ou apreensão de um determinado conhecimento). Ou, como diz Maturana: “Correntemente se pensa que o aprender envolve uma certa intencionalidade, um certo propósito. Isso porque, em geral, se pensa que o que é central em todo comportamento são
suas consequências. Isto é um erro. O propósito que vemos nos comportamentos não pertence a eles, mas à descrição ou ao comentário do observador.”
Ivane Almeida Duvoisin
Oi Marcelo!
Realmente, uma questão que precisamos afinar é o entendimento de Rede.
1)Não entendo Rede como as mídias tais como , orkut, facebook. Entendo Redes sociais como o conjunto de pessoas interagindo, estabelecendo nós de conecções formando o emaranhado da Rede.
2)“o conhecimento não está no sujeito nem no objeto, mas nas relações” (Piaget 1983), portanto nas interações na Rede geram-se conhecimento.
3) Mas conhecimento não é aprendizagem.
4) Talvez o uso da palavra indivíduo tenha dado a impressão de que não estou falando do ser humano, não é esse o sentido: Estou considerando que é a pessoa que aprende,
5) Pessoa significa um ser ou uma criatura humana, podendo ser homem ou mulher, que é ser moral. Uma pessoa é, dessa forma, alguém consciente, com vontades próprias, partindo do principio que goza plenamente das capacidades mentais, sendo responsável por todos os seus atos.
Por que penso que é o indivíduo (pessoa) que aprende? Pensar o conhecimento a partir da autopoiése só é possível se entendemos cada vivente como sistema fechado [2], auto-organizado e auto-organizável. Para Maturana isso só é possível porque cada ser é em relação. O que determina, em última análise, a organização do vivo é sua própria autopoiése.
Mas o que desencadeia a aprendizagem é a relação que se estabelece entre vivo-meio-vivo. O organismo se autogere, mas só o faz na relação com outros organismos. ( ou seja estando em Rede) Isso quer dizer que não é possível determinar quais as ações subseqüentes num processo autopoiético. Mas é possível saber que o vivo age e reage diante das circunstâncias, já que vai organizando seu conhecer a partir do próprio ato de viver. (No meu entendimento é “este ato de organizar o seu conhecer a partir do ato de viver” que gera a aprendizagem, por isso digo que quem aprende é a pessoa, o indivíduo e não as “redes”. Para mim as Redes são o meio que propicia a aprendizagem.
marcelomaceo
Maravilha Ivane! Muito bom poder trocar tudo isso contigo!
Vamos lá. Em nosso processo de investigação, descobrimos que existe uma aprendizagem relativa aos seres-vivos (autopoiese) e uma outra aprendizagem, relativa ao humano-social (alterpoiese), que é onde mais nos debruçamos.
O que possibilita a aprendizagem através da autopoiese? O que possibilita “este ato de organizar o seu conhecer a partir do ato de viver”? O que possibilita a aprendizagem nos seres vivos?
Você responde que são as redes. Sim. Mas redes, não entendida como a possibilidade de relação com outros organismos e com o meio, e sim de uma maneira mais matemática mesmo (rs), ou seja, como um padrão/topologia de organização mais distribuído do que centralizado/hierárquico. No estudo da Nova Ciência das Redes, o fenômeno comportamental de adaptação ao meio verificou-se que só ocorre em padrões mais distribuídos, que comumente chama-se de rede (ainda que tudo seja rede). Quanto mais “rede” ou mais distribuída, teremos mais conexões, mais interação, mais fenômenos emergentes (como a auto-organização), incluindo mais adaptação. Em suma, mais aprendizagem.
Agora, exploramos um outro tipo de aprendizagem, que entendemos ser tipicamente humana (que não ocorre em outros seres vivos). E um conceito fundamental que estamos desenvolvendo para entendê-la, é a PESSOA.
Pessoa, não é o indivíduo. Não é o ser moral. Pessoa é um ser social. E a compreensão da pessoa revela a compreensão do que é o social (humano), e vice-versa. Pra não me alongar muito aqui, tem um artigo que fala um pouco sobre isso: http://humana.social/uma-visao-social-da-aprendizagem/
Lia Goren
Isso mesmo que você fala no final, eu procuro, preciso, fortalecer a fundamentação e as leituras de todo estas conversas junto com as leituras serão de muita ajuda.
Maria da Conceição dos Reis Le
“A aprendizagem é um processo interativo. Somente redes podem aprender.”
O agente do “conhecer” humano é o próprio homem. Segundo Maturana e Varela, o ser vivo é uma rede e para podermos distingui-lo é preciso partir da sua organização autopoiética – o sistema produz constantemente a si mesmo. É na aceitação do processo autopoiético do outro, e do acoplamento social que vivemos, que crescemos na socialização, na humanização e no conhecimento. Assim, percebemos que a aprendizagem envolve interação – conjunto de relações conscientes ou não, que nos leva a construção do conhecimento.
Angélica
“A aprendizagem é um processo interativo. Somente redes podem aprender.”
A aprendizagem se dá através das relações que fazemos com os elementos que compõe o universo. Seja observando a natureza, lendo um livro, dialogando com outra pessoa, brincando com um brinquedo e até mesmo destruindo um objeto. Essas diferentes e diversas relações entre diferentes e diversos elementos são as linhas e os nós que compõem uma rede e oferecem coletiva e individualmente infinitas possibilidades de aprendizado.
A aprendizagem é um processo interativo. Somente redes podem aprender.
Partindo da imitação (desde dos nossos membros familiares no início até os outros indivíduos que cruzam nossos caminhos) o indivíduo é capaz de tornar-se uma pessoa. Imita tanto a ponto de entrar na rede social (processo bem natural). A partir do momento que entra, ele está “disponível” para interagir e modificar-se com os plurais encontros possíveis. Uma rede bem articulada é capaz de, por si própria, administrar os eventos necessários para os diversos locais. Uns inspirando os outros – se a rede é capaz de proporcinar encurtamento de distâncias – através de medidas criativas. Imitando e adaptando (não tem outro jeito), somos capazes (ainda mais se formos estimulados a tal) de uma evolução local em velocidade exponencial.
Legal sua elaboração. Deixo um elemento extra importante aqui:
Nunca “entramos” na rede social, pois não podemos estar fora dela (exceto se formos como as chamadas “meninas lobo”, que você deve ter lido no trabalho de Matura e Varela, “A Árvore do conhecimento”).
Não podemos confundir rede social com o ideário do que se chamou de “sociedade”, como algo monolítico, único e intencionalmente constituído. Esse ideário acredita que as crianças e adolescentes são uma espécie de café-com-leite das “verdadeiras” relações da sociedade, apenas ensaiando relações que terão no futuro. A educação seria, em grande medida, o esforço para ensiná-las a se comportar neste mundo adulto, sério, o único realmente verdadeiro.
No entanto, um exame atento mostra que não é assim. Ninguém “entra” na sociedade (como sinônimo de “entrar no mundo adulto”). Todos somos tecidos por nossas relações desde o início, e por meio delas nos tornamos o que somos.
Ninguém se torna uma pessoa, para então, e só então, interagir. As pessoas se tornam pessoas pela e na interação.
Nunca é demais repetir: “A aprendizagem é um processo interativo”. Tornar-se pessoa também é um processo de aprendizagem — talvez o mais complexo e importante para qualquer ser humano. Aprendemos a nos tornar humanos. E essa é a aprendizagem tipicamente humana: nunca pode ser ensinada, só pode ser aprendida. E só pode ser aprendida na interação.
Faz sentido?
Um grande abraço
Guilherme Guimarães
faz total sentido! Esse desafio pedia que a resposta fosse curta, fiz o melhor que pude para resumir a ideia (e passei de 5 linhas. rs)
Uma pessoa “entra” na rede social quando se torna pessoa a partir da interação com outras.
Um bom filme que traz uma reflexão nesse sentido é “O enigma de Kaspar Hauser”, o qual mostra um indivíduo que é inserido na sociedade já adulto. Vale a pena dar uma conferida!
Estou gostando bastante do curso
Abração
Priscilla Silveira
Quantas ideias provocadoras neste módulo! Fazendo-nos sair da caixa! Preciso processar tudo isso…Depois passo por aqui para discutir. kkk
marcelomaceo
Maravilha! rsrs
débora Duran
Olá, colegas!
Dei uma olhada geral nos textos e agora vou estudá-los com mais calma.
A respeito das teorias da aprendizagem humana, não acho que estejamos num estado incipiente de investigação. As teorias interacionistas, desde o início do século XX, nos apresentam grandes contribuições para pensarmos as relações entre cognição, afetividade e socialidade.
Essa é uma posição muito pessoal, pois desenvolvi pesquisa teórica nessa área no mestrado e no doutorado. A meu ver, os teóricos da psicológica soviética são os mais interessantes, uma vez que discutem o papel crucial das mediações sociais e das mediatizações tecnológicas no processo de desenvolvimento humano. As redes sociotécnicas, no caso, promovem a mediação simbólica, social e instrumental, as três categorias básicas da teoria histórico-cultural, por exemplo.
Vou ler os textos com mais calma para conversarmos um pouco mais…
Débora Duran
Vamos ao segundo desafio:
“A aprendizagem é um processo interativo. Somente redes podem aprender.”
A aprendizagem é um processo interativo pois nós, seres humanos, somos constituídos e construídos socialmente. Os processos cognitivos ocorrem de modo articulado, primeiro na esfera externa (coletiva) para depois serem reconfigurados na esfera interna (individual), de modo aprendemos em rede, somos rede.
claudia goulart
Débora isto me fez lembrar o conceito do co-construtivismo. Na realidade, construímos um pensamento, interagimos com o outro, que nos influencia e assim, sucessivamente, vamos construindo na relação com o outro nossos pensamentos, imaginações, conhecimentos e conceitos. Ou seja, se na sala de aula consigo proporcionar ambientes de interação, o conhecimento não reproduz do que exclusivamente o que quero, mas a partir de conceitos e ideias, o aluno pode ser criativo e ensinar aos outros o que emerge do ambiente ricamente interativo.